𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑻𝒓𝒊𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝑼𝒎

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Oi oi amores, como estão? Desculpe pelo sumiço (culpo a faculdade!), mas prometo atualizar de vez agora a história. Em compensação pelo tempão sem postar, aqui está um capitulo com mais de 10k de palavras, espero que aproveitem!

Boa leitura!


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Lorella


TODOS OS DIAS, DESDE QUE VOLTEI DE ILLIUM E SALVEI A VIDA DE FENRYS HÁ POUCO MAIS DE UMA SEMANA, TENHO O MESMO SONHO. 

Não, não. Dizer que o que estou tendo são sonhos é, na verdade, um grande eufemismo.

Todos os dias sonho que estou naquele mesmo bairro onde Fenrys lutou quase até a morte. Estou no epicentro de tudo, de todos os corpos e inimigos, e eles se aproximam de todos os lados, de todos os ângulos, avançando contra mim. E, sem outra escolha, eu os mato.

É isso o que eu faço em todos os meus sonhos, todos os dias e todas as vezes que caio no sono: eu os mato. Me torno uma assassina.

O sangue mancha tudo em meu sonho: meu traje, minha pele, meu rosto, meu cabelo, minha capa. Mesmo dormindo, sinto o gosto acre e metálico na minha língua. O sangue pinga da lâmina sob a manga do meu traje e ele fica escorregadio em minha própria pele. Eu sou a morte em pessoa e presido aquela carnificina. Algumas das minhas vítimas morrem com uma rapidez misericordiosa, apagadas para sempre antes de seus corpos tocarem o chão.

Outros levam mais tempo.

Uma morte mais agonizante.

Uma parte miserável de mim quer desaparecer e esquecer todos os rostos que vejo em meus sonhos. Os rostos de todos aqueles que matei no bairro desabitado de Ilium há quase duas semanas. Uma parte de mim só quer se posicionar sem ser notada e deslizar minhas lâminas em seus pescoços, só para não precisar ver seus olhos e, assim, salvar a vida de Fenrys sem condenar a minha alma. Me pergunto por que eu não fiz isso naquele tempo. Me pergunto porque eu não pensei em olhar para outro lugar a não ser seus rostos apavorados ao se darem conta de que estavam morrendo, e de que eu fui sua assassina.

Mas, conforme os rostos passam pelos meus olhos e eu os vejo outra vez e mais uma dezena de vezes a cada dia, eu sei que não seria possível matá-los sem olhar para eles. O gosto da batalha é mais amargo que isso. Mais cruel. Então, sem outra escolha, eu encaro o rosto dos homens que matei. E, embora eu não ouça os gemidos de dor ou o deslizar das lâminas entrando em seus corpos, ou a forma como a espada corta a carne de seus pescoços e o barulho que faz, cada morte entalha um caminho em minha memória. Cada uma delas se torna uma ferida na minha alma que jamais vai se curar.

Sinto como se fosse isso o que eles quisessem, na verdade. Que eu ficasse marcada para sempre com suas mortes e seus rostos gravados na minha memória, me atormentando no único momento inconsciente onde eu poderia ter um curto período de tempo para dormir e esquecer. É isso o que eles querem, é isso o que eles merecem — serem lembrados. Mesmo que tenham sido pessoas com honras duvidosas, ajudando em uma causa terrorista, eram pessoas e tinham família. Poderiam ter filhos e esposas esperando por eles. Ainda tinham uma vida, e eu tirei isso deles.

De todos eles.

É por isso que não sou fã dos meus próprios pensamentos ultimamente. No momento, eles tendem a ser um misto de insegurança, dúvida e autocrítica, com uma pitada de medo e arrependimento. Minha mente é um lugar confuso de se estar agora, e eu gostaria de estar em qualquer lugar que não seja na minha própria cabeça enquanto espero que Fenrys acorde de seu trauma.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora