𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑫𝒐𝒊𝒔

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Lorella


ENQUANTO A DOR ERA UMA VELHA AMIGA E O DESCONFORTO QUASE UM ESTILO DE VIDA, estar presa às visões que minha própria mente podia conjurar era o pior tipo de tortura. Porque, apesar do meu desejo mais fervoroso que fosse o contrário, só o que a minha mente me mostrava eram as lembranças dos dias que passei enclausurada nas celas mais profundas do castelo de Maeve. Celas tão fundas e escuras e esquecidas que ficavam andares abaixo das catacumbas.

Fico deitada no catre no canto da cela. O chão é coberto de feno, o que pelo menos não faz com que eu morra de frio — mesmo que eu esteja tremendo, não sabendo se é por frio ou pelo medo aterrorizante de esperar e observar um dos dois entrar outra vez por aquela porta.

E só há uma tocha acesa, que fica perto da porta de saída e entrada, longe o suficiente para eu não conseguir observar nada além de sombras ao meu redor — roedores e insetos, na maior parte do tempo.

Ouço barulho de chave na porta e meu corpo começa a tremer outra vez. Me abraço e deito com as costas virada para a porta da cela, não querendo saber quem veio me ver desta vez. Ergo os joelhos até a altura do peito e os abraço, batendo os dentes de medo e antecipação pavorosa.

Passos suaves caminham sobre a terra batida do chão deste lugar, e alguém para em frente à minha cela. Sinto o cheiro de Fenrys parado em frente à minha cela, hesitante.

Ele solta um pigarro e, quando ele fala, sinto que ele tenta sorrir amigavelmente através das palavras:

— Trouxe café da manhã — ele diz, parecendo animado. Não me movo. Continuo deitada de costas para ele, abraçando os joelhos. Ouço quando ele engole em seco quando o enjoo sobe pela sua garganta ao sentir o cheiro acre do meu vômito que enche a latrina no canto da cela. O vômito de terror por estar presa outra vez. — Eu surrupiei algumas geleias deliciosas que Aelin provavelmente me castraria por saber disso, e fica ainda mais gostoso com o pão fresco que acabou de sair.

Ele tenta me animar. Tenta fazer com que eu me sinta confortável e segura, mas eu já estive nesse lugar antes — um lugar com uma rainha valg tentando ser minha amiga, tentando conquistar minha confiança e logo depois me destruir.

O silêncio se prolonga por mais alguns instantes. Fenrys permanece imóvel, ainda segurando a bandeja que trouxe para mim. Eu não me viro. Continuo de olhos fechados murmurando que isso não é real. Que eu escapei e estou livre. Isso seria apenas um contratempo antes de Flora provavelmente derrubar metade desse castelo com bombas explosivas que seus olhinhos meigos e espertos conseguiriam para me resgatar e ambas fugirmos desse reino para nunca mais voltar.

— Você está fraca, e ao que parece vomitou até às tripas desde ontem de manhã — ele continua, de forma mansa. — Tente pelo menos comer o mingau de aveia e mel que eu trouxe.

— Vá embora — choramingo, sentindo as lágrimas rolarem pela lateral do meu rosto. — Me deixe em paz, por favor.

— Você tem que comer! — insiste, com um leve tom preocupado.

— Eu tenho que morrer.

— Não fale besteiras! — ele rosna com voracidade, como se fosse um ultraje eu dizer algo assim. — Você precisa comer e de um bom banho. E Aelin quer falar com você.

— Mande-a ir se foder.

— Bom, você pode dizer isso na cara dela — uma segunda voz masculina se propaga para dentro do corredor de celas, longe de onde estou. Rowan. Inclino a cabeça para cima o suficiente para vê-lo encostado despreocupado no batente da porta, de braços cruzados e um sorriso presunçoso no rosto. Sobre a luz bruxuleante da tocha, sua tatuagem facial parece ainda mais feroz e brutal. — Será interessante ver minha esposa receber esse insulto. Como Fenrys disse, nossa corte anda meio tediosa ultimamente.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora