𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑫𝒆𝒛𝒆𝒏𝒐𝒗𝒆

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Lorella


QUANDO EU FINALMENTE ACORDEI, NÃO SABIA QUANTO TEMPO HAVIA SE PASSADO — HORAS, DIAS, SEMANAS OU TALVEZ ATÉ MESMO MESES. 

Os dias anteriores passaram como um borrão de flashes e rápidas memórias na minha cabeça.

Me lembro vagamente de sentir mãos quentinhas sobre meu abdômen e a mesma temperatura se espalhar pelo restante do meu corpo, anestesiando minha dor. Me lembro de ser movida algumas vezes, com mãos gentis me limpando e cuidando de mim; alguém forçando uma sopa pela minha boca, ou me cobrindo com um edredom macio e quente. Algumas vezes eu podia vislumbrar a presença de algumas pessoas fazendo vigília ao lado da minha cama. Geralmente era uma mulher de semblante dócil e um sorriso suave, com longos cabelos pretos, um corpo pequenino e um cambalear nos passos, alguém de olhos pretos e atenciosos. Algumas raras vezes eram olhos de ouro líquido ou olhos turquesas com aros dourados. Raramente eu avistava um macho alto de cabelos castanhos com olhos da mesma cor sentado ao meu lado, me observando dormir. Mas, na maior parte dos dias, as duas presenças mais fortes que senti pelo tempo que fiquei apagada pertencem à uma menina com cheiro de flores e um lobo branco que ficava deitado sobre as patas, prostrado bem ao lado da minha cama e me assistindo dormir como se isso fosse seu propósito de vida.

Meu sono foi reconfortante. Não tive tantos pesadelos quanto geralmente eu tinha. Os sonhos eram suaves e tranquilos, a maioria sendo sobre meus dias aqui no castelo, passeando com Flora, Aelin ou treinando. Um deles, lembro-me bem, eu estava voando na serpente alada de Manon, com ela nos guiando pelos céus sem fronteiras ou barreiras. Apenas uma liberdade desenfreada sobre nós.

Não sei por quanto tempo eu fiquei inconsciente, mas quando acordei do meu sono induzido pela magia da curandeira Yrene Westfall, percebi que ainda amanhecia — a constar que o sol estava se erguendo lentamente por detrás das janelas. Subindo preguiçosamente no horizonte além das montanhas.

Eu girei o rosto e observei ao redor, avaliando onde eu estava. Era meu quarto. As cortinas estavam parcialmente abertas e havia bacias de água postas ao lado da cama. Diversos retalhos de panos ou lençóis inteiros estavam manchados em um tom escuro de vermelho quase roxo como vinho, denunciando o sangue que manchou o tecido. Enfio minha mão por baixo do edredom e toco meu ventre, dando leves apertadinhas. Por sorte não sinto nada além de um leve desconforto. Espalmo as mãos no colchão, pronta para me levantar, quando a luz do sol nascente ultrapassando as janelas revelou um corpo, e notei que alguém estava parcialmente deitada na cama, perto dos meus pés.

O rosto estava escondido entre os braços que, assim como seu tronco, estava apoiado de bruços sobre a cama, com a outra metade posterior de seu corpo sentada em uma poltrona verde com estampas douradas. Seus cabelos escuros e encaracolados se derramavam por cima do edredom, cobrindo muito de seu rosto escondido entre os braços pequenos.

Eu conhecia aquele corpo, e o vestido azul esverdeado que ela estava usando. Ou aqueles cabelos pretos cacheados e os braços castanhos. Sierra. Minha amiga estava de vigília ao meu lado durante todo esse tempo, e provavelmente deve ter pego no sono enquanto lia um dos livros que ela deve ter encontrado esquecido pelo meu quarto — a constar que o exemplar estava aberto perto de uma de suas mãos.

Me ergui com certa dificuldade e estiquei os dedos o suficiente para tocar seu braço. Sua pele estava fria por conta de ela ter dormido sem uma manta sobre si, e me sinto péssima por ela ter passado por isso — por ter dormido em uma posição terrível e com frio. Mas também sinto vontade de chorar, porque ninguém nunca cuidou de mim desta forma com tanto zelo e preocupação antes.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora