𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑽𝒊𝒏𝒕𝒆 𝒆 𝑫𝒐𝒊𝒔

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Lorella


AINDA PERMANEÇO UM TEMPO PARADA ONDE EVANGELINE ME DEIXOU SEM PALAVRAS.

Mas conforme o vento foi amenizando e percebi que já devia ser quase seis da manhã, caminhei com pressa em direção ao gazebo onde a Lady indicou que eu encontraria Flora.

Como o previsto, encontrei a menina sentada com as costas encostadas em um dos seis pilares que sustentavam o teto da pequena casinha. Havia um par de poltronas brancas em um dos lados do gazebo, com almofadas espalhadas pelo chão amadeirado. Lírios brancos serpenteavam ao redor das pilastras, assim como treliças escalando o telhado e deixando a pequena construção como algo saído de livros de romance bem clichê.

Flora estava apertando os joelhos contra o peito, com a cabeça entre as pernas e os cabelos tampando todo seu rosto. Ela ainda vestia a camisola amarela que eu a ajudei a vestir ontem quando eu a encontrei assim que fui lhe dar um beijo de boa noite — ou ao menos eu pensei que a garota estivesse de fato dormindo.

Me aproximei silenciosamente, limpando minhas palmas suadas com cuidado nas partes macias do traje — onde eu sabia que não haveria o risco de saltar alguma adaga da roupa. Coloquei um pé depois do outro no tablado do gazebo quando entrei no mesmo. Flora estava imóvel, a respiração suave e rítmica me dava a noção de que, ou ela havia dormido, ou estava prestes a isso.

De vagar eu me ajoelhei e me sentei ao seu lado. Com cuidado, comecei a retirar os fios médios e castanhos da lateral do seu rosto, vendo que de fato ela estava na divisão entre o sonho e realidade.

— Florista, preciso falar com você — murmurei perto de seu rosto, beijando o topo de sua cabeça. Ela resmungou alguma coisa e, com muita lentidão, ergueu o rosto para mim.

Seus olhos estavam muito inchados, como se ela tivesse chorado a noite toda — o que eu não duvidava. A linha d'água de seus olhos estavam vermelhas, assim como a ponta de seu nariz e hematomas escuros se formando ao redor dos olhos. Seu semblante era nada além de exausto, desolado e magoado.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei baixinho. — Com todo esse sereno aposto que você vai ficar gripada.

— Não consegui dormir — responde, com o nariz meio entupido, como o previsto. Ela funga e passa o punho da manga sobre o nariz. — E eu me sinto em paz aqui.

— Ah, sim. Eu descobri o porquê — olho ao redor, teatralmente. — Esse lugar é um pedaço do céu que você e Aelin escondem de todo o restante de nós.

— Se chama Jardim da Rainha por um motivo — diz, de forma enfática.

Dou risada, apertando a ponta de seu nariz entre meus dedos.

— Justo.

Flora faz um biquinho choroso e se joga em meus braços. Eu preciso recebê-la com extremo cuidado perante todas as facas escondidas sob a roupa. Ela aperta meu pescoço e volta a chorar com intensidade em meu ombro. Seu corpo magro sacudindo tamanha intensidade de seus soluços. Acaricio seus cabelos lisos e deixo que chore e extravase o quanto quiser... o quanto precisar. Aspiro seu cheiro e fecho os olhos, guardando-o no fundo da minha memória. Como se eu pudesse engarrafar sua voz, seu cheiro ou sua risada só para ter uma parte de si sempre comigo.

— Eu vou sentir sua falta. Todos os dias — Flora diz, ainda apertando-me entre seus braços. — Posso dormir no seu quarto? Acho que é o mínimo que você deve me deixar fazer para que eu sinta menos sua falta.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora