𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑪𝒊𝒏𝒒𝒖𝒆𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝑸𝒖𝒂𝒕𝒓𝒐

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Lorella


TUDO.

Eu havia entregado tudo o que podia e mesmo assim nada parecia suficiente. Não para Holdwyn. Definitivamente não para ele.

Eu estava na escuridão, na verdadeira escuridão, sem mais a pequena parte da abertura na porta por onde as tochas de luz do corredor invadiam, negando-se a me deixar sozinha.

Não. Agora, Holdwyn se alegrou em me jogar numa cela escura, andares abaixo de onde eu estava antes. Aqui, ninguém me ouviria, ninguém me veria. Não ouviriam meus gritos, meus choros de puro desespero quando o guarda me soltou no chão e se foi, levando com ele a tocha que ele tinha em mãos.

Quando fui deixada aqui, sozinha e no escuro, comecei a gritar. Gritei tanto que minhas cordas vocais doeram e queimaram; gritei até sangue sair por minha boca. Gritei enquanto me debatia contra as paredes, tentando encontrar alguma coisa e nada ao mesmo tempo. Tentando sair daqui, encontrar a porta... mas não existia porta. Era uma sala cavernosa e eu não sabia por onde vim ou para onde ir. Era apenas eu e a escuridão cega, e então meu maior medo estava me encarando de volta.

Depois de horas gritando, me encolhi no chão e chorei, fechei os olhos e fingi que estava escuro porque meus olhos estavam fechados. Meu corpo tremia de medo, de febre, por ser deixada aqui no meio do meu pior pesadelo. Era como se eu nunca tivesse deixado esse lugar, as memórias que me trazia estar no escuro. Me sinto uma criança. Uma menina de cinco anos sendo deixada na escuridão sozinha por anos. Para apodrecer. Para enlouquecer. Para morrer.

E não importava o quanto eu gritasse, o quanto eu pedisse por socorro... eu nunca sairia desse lugar. Nunca deixaria essa cela escura outra vez. Nunca mais sentiria o calor do sol em minha pele ou a brisa do vento enquanto voo de forma livre e selvagem sobre as costas de Blodreina. Mesmo livre, nos meus cinco anos livre, era como se eu nunca tivesse deixado esse lugar de verdade. Era como se minha alma alquebrada soubesse que meu futuro seria esse: escuro. Sozinha. Viva-morta — e eu não conseguia parar de chorar, incessante e implacavelmente. Como se alguma represa tivesse sido aberta dentro de mim no momento em que me jogaram aqui dentro, me fazendo lembrar de uma garotinha sozinha e apavorada em uma cela como essa há vinte anos atrás.

Faziam semanas ou meses que eu estava aqui e eu não aguentava mais. Não suportaria. Não lutaria por mais tempo. Não suportava mais lutar. Odiava quando me diziam que eu era uma guerreira; uma guerreira de coração e alma que nunca desistiu. Odiava quando me diziam coisas assim porque eu só queria desistir. Não queria ser uma lutadora, não aguentava mais lutar. No fundo da minha alma, eu só queria morrer — mas até mesmo isso fui impedida. Até mesmo na minha escolha de viver ou morrer fui impedida.

Eu só queria liberdade. Liberdade irrefreável, incontida e selvagem, e perdi isso.

Perdi a única coisa que eu sempre quis desde que tinha cinco anos de idade.

Uma porta se abriu no fundo do corredor e se fechou. Passos se aproximaram, ainda na escuridão. Um baque veio de algum lugar nessa caixa escura onde me enfiaram, mas não me mexi. Eu não lutaria. Não suportava mais lutar.

— E então? Andou pensando na minha proposta? — a voz de Holdwyn estava abafada, vindo do outro lado da áspera pedra que nos separava. Não me mexi, sequer abri os olhos. — Não é tão terrível assim, querida.

Desejei poder me fundir na escuridão ao meu redor até não ser nada. Até não sentir nada.

— Aceitar o Juramento de Sangue é a melhor forma de tudo isso acabar — ele parecia cansado quando comentou, como se estivesse exausto desse teatro. — Você poderá sair e ter uma vida. Tudo o que tem que fazer é aceitar.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora