𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑻𝒓𝒊𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝑫𝒐𝒊𝒔

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Lorella


TER UM CORAÇÃO É TERRÍVEL, CONCLUÍ NOS DIAS SEGUINTES DEPOIS DO MEU CONFRONTO COM VAUGHAN. TER UM CORAÇÃO É TERRÍVEL, MAS AINDA PRECISO DE UM DE QUALQUER MANEIRA. 

Por isso, tentando ignorar o turbilhão de emoções dentro de mim, me joguei nos livros e na solidão reconfortante que encontrei nas bibliotecas do castelo, um pouco mais segura e confiante em desbravar todos os cômodos do palácio que Aelin me permitia perambular. Apenas lia tudo o que podia encontrar. Contos fantasiosos, mistérios, poesia e histórias que me tirassem da minha própria cabeça. Eu lia de novo e de novo e de novo, porque isso era tudo o que eu podia fazer no momento sem perder completamente minha sanidade e o último resquício de equilíbrio e estabilidade dentro de mim mesma. E quando Aelin, Flora ou Sierra perguntavam-me porque eu estava sozinha, calada e reclusa nos últimos dias, escolhi sorrir e dizer que a demora por Fenrys acordar estava me deixando inquieta e preocupada. Sem saída eu menti descaradamente para as pessoas que mais importavam para mim no momento, porque eu era fraca.

É a realidade. Sou fraca, quebrável e pequena, insignificante. Sou amarga, inútil e covarde. E esse é motivo suficiente para que eu queira apenas me isolar. A única maneira de me sentir mais confortável quando começo a me sentir como uma fracassada é ficar sozinha, então faço o que sei fazer de melhor: deixo de ser um peso preocupante para as pessoas ao meu redor e me isolo. Me torno pequena e ausente até que ninguém note meu sumiço.

Entretanto, é Flora quem me encontra nos momentos mais solitários e se junta a mim sem perguntas ou questionamentos. Ela se esgueira ligeiramente ao meu lado com um livro entre as mãos e, juntas, ficamos lendo em silêncio, como estamos fazendo agora. Não deixo de olhar para ela e querer dizer o quanto sou grata por ter sua presença ao meu lado e o quanto agradeço aos céus por ter encontrado Flora durante minha jornada. No fim, acho que acabamos salvando uma a outra, de formas distintas mas cheia de verdade e pureza.

Pelo canto dos olhos, vislumbrei Flora se mover. Ela fechou o livro e o colocou sob o queixo, apoiando o rosto no exemplar de algum romance aventureiro que ela e Evangeline estavam lendo nesta semana. Os olhos da menina me olharam de forma rápida, envergonhados, e ela mordeu os lábios como se estivesse tomando coragem para dizer alguma coisa.

— Lore — ela me chama e eu prontamente girei os olhos para a garota. Flora mordisca os lábios, constrangida, e um rubor rosado se espalha pelas suas bochechas. Fecho meu livro e o coloco cuidadosamente no sofá, tendo Flora como minha única atenção. — Você... alguma vez você já esteve apaixonada? Já namorou alguém?

A resposta para sua pergunta é bem óbvia, e não consigo segurar o riso que me escapa. É gentil da parte dela me dar o beneficio da dúvida quando ela deve suspeitar que claramente jamais senti tais sentimentos antes — ainda mais depois de conversarmos sobre meus desastrosos encontros com o sexo oposto.

— Nunca namorei ninguém — respondi. — A menos que você considere meus casos platônicos e amorosos pelos personagens literários — a menina deu risada e folheou o livro em seu colo.

— Mas... você já esteve apaixonada? — repetiu a pergunta. Suspirei, olhando para ela com um pequeno sorriso.

— Acho que é preciso ser amada para saber como amar — Flora absorve minhas palavras como se fossem aulas de sobrevivência. — Então, não. Eu acho que não. Nunca me apaixonei por ninguém.

— Nem mesmo pelo Vaughan? — Há uma careta de desprezo em seu rosto quando ela cita o nome dele.

Imito a careta de Flora, torcendo os lábios.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora