𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑪𝒊𝒏𝒒𝒖𝒆𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝑫𝒐𝒊𝒔

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Lorella


UM DIA SE PASSOU DESDE QUE SELEI MEU DESTINO AO ENTRAR NESTE NAVIO E SER LEVADA POR HOLDWYN ONDE ELE DESEJAR. 

Por um dia inteiro ninguém me procurou e não vi ninguém. Não se incomodaram em me oferecer um copo de água ou um pão para comer. Apenas fingiram que não havia ninguém acorrentado no porão de cargas. Havia ratos por perto, roendo restos de vegetais que o cozinheiro esqueceu. As janelas por onde os canhões saíam eram minha única fonte de luz, e felizmente agradeci pelo pequeno pedaço de abertura que não me deixou completamente no escuro e sozinha. À noite, as estrelas estavam comigo, e adormeci olhando para elas.

No outro dia, acordei de supetão quando a porta foi aberta e passos soaram descendo as escadas. As tábuas rangeram com o peso e o tempo de uso. Holdwyn se curvou para passar sob um pilar de sustentação do deque superior. Seu semblante parecia contente, como se estivesse satisfeito demais e não pudesse controlar o sorrisinho no rosto nojento dele.

Ele pegou um banquinho e o colocou à minha frente. Me encolhi para mais perto de uma pilastra de madeira, puxando as pernas. Tomando o maior espaço de distância que podia.

— Soube que a ratinha aleijada morreu.

Meus dentes trincaram. Se não estivesse presa, faria com que ele engolisse os próprios dentes por falar dessa forma sobre Selene.

Olhei para as correntes que envolviam meus pulsos e os tornozelos, ancoradas às paredes com o que parecia serem argolas de ferro recém feitas e parafusadas. Novas demais para serem forçadas a rachar. Ao menos estavam realmente preocupados com meu poder e sua dimensão. Machos espertos.

Holdwyn soltou uma risada, parecendo se divertir. Ele cruzou os braços e esticou as pernas.

— É sempre uma surpresa encontrar esse olhar de ódio no seu rosto. É como todas as minhas filhas sempre me olharam.

— E o que você esperava? — atirei de volta, apertando os dedos em volta das algemas. Ele riu ainda mais.

— Tão desafiadora — Holdwyn zombou, inclinando-se para frente. Seus olhos examinaram o nojo em meu rosto e como meu corpo se contorceu, tentando ficar o mais longe possível dele. — Tão astuta... e mesmo assim aqui está você: acorrentada e prestes a passar o resto de sua vida presa num lugar onde até mesmo os deuses se esqueceram.

— Não sabia que você era do tipo tagarela — revidei.

Ele sorriu. Uma coisa diferente — manso, curioso e inquietante. Seu olhar enervante e intenso me deixa nervosa, como se eu estivesse sendo avaliada para ser desmembrada e vendida numa feira por um açougueiro.

— Você é bem diferente das outras — ele comentou depois de um tempo.

Não era verdade. Pelo menos, não inteiramente.

Eu era explosiva como Bellamy, só não demonstrava. Impaciente como Arthemis, mas me esforçava para disfarçar. Observadora como Selene, mesmo que jamais chegasse ao seu nível. Ponderada como Freya, mesmo que seu espírito pacifico se sobrepusesse ao meu e, acima disso, amava minhas irmãs como Isla.

Tinha partes e fragmentos de todas em mim. A única coisa que me fazia realmente diferente de todas as outras era o fato de que eu era a única que teve a oportunidade de conquistar sua liberdade.

Uma liberdade com data de validade, ao que parece. Uma liberdade em que me fora concedida apenas cinco doces anos antes de voltar para o meu destino: prisão.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora