𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 𝑻𝒓𝒊𝒏𝒕𝒂 𝒆 𝑸𝒖𝒂𝒕𝒓𝒐

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Lorella


PETRAH TINHA RAZÃO AO DIZER QUE LEVARÍAMOS AO MENOS QUATRO DIAS DE VIAGEM PARA CHEGARMOS ATÉ AS MONTANHAS CANINO BRANCO.

Voar com a Sangue Azul foi uma experiência extraordinária, quase indescritível. Sua serpente alada era corajosa e destemida, e vez ou outra as manobras arriscadas que Petrah o conduzia a fazer me deixava com o estômago aos giros. Se eu não estivesse presa na sela, com as pernas bem amarradas com as tiras de couro, tenho certeza que eu teria sido arremessada para fora do lombo da criatura logo na primeira manobra do qual Petrah incentivou sua montaria a mergulhar em direção à uma clareira na Floresta Carvalhal, onde descansamos algumas horas das noites de viagem.

Sobrevoar a Floresta foi outra coisa igualmente impressionante. Vislumbrar os riachos e as copas das árvores de cima era quase como se eu fosse uma deusa que pudesse alcançar todos os ângulos terrestres vistos através do céu.

Fenrys pareceu se recuperar do primeiro voo de forma lenta. Ele ainda perdia um pouco da cor nas vezes em que a serpente alada da bruxa — que atendia pelo nome de Tabitha e também fazia parte do clã Sangue Azul, sendo a imediata de Petrah — alcançava voo, deixando o solo para bater as asas no céu livre e iluminado de cada manhã.

Quando finalmente estávamos em solo, entre as árvores antigas da Floresta Carvalhal, Tabitha e Fenrys eram os que se encarregava de procurar por comida. Durante os quatro dias, ambos pareceram estar travando uma batalha silenciosa de quem conseguia capturar mais coelhos ou esquilos para o jantar. No momento, a mira precisa das flechas de Tabitha estavam levando a maior pontuação, mas Fenrys não estava muito atrás — ainda mais depois de ter caçado e conseguido capturar um ganso que parecia estar perdido e sozinho num lago próximo a clareira em que paramos para dormir. A carne do bicho capturado por Fenrys, mais os esquilos de Tabitha, foram o suficiente para nos manter alimentados durante o outro dia inteiro enquanto estávamos sobre as costas das serpentes em direção às montanhas.

Quando nos aproximamos das montanhas no quarto dia já era noite, e lembro de estar quase cochilando e por poucos centímetros prestes a apoiar minha bochecha nas costas de Petrah quando ela me cutucou, me acordando e avisando-me sobre nossa chegada ao destino. Não consegui ver com muita clareza por conta da escuridão noturna, mas vislumbrei as luzes alaranjadas das tochas por entre as janelas e passagens da Ômega, a última das montanhas Ruhnn e a mais ao norte entre os picos gêmeos. Conforme descíamos, Petrah apontou e explicou que do outro lado do desfiladeiro estava o Canino do Norte, o último pico das montanhas Canino Branco. Tentei observar alguma coisa, mas não pude ver mais do que o pico das montanhas e suas rochas cinzentas.

Petrah me levou para dentro da Ômega, entre os corredores superiores, sem sinal das serpentes aladas restantes que estavam por aqui. Então, como se sentisse minha curiosidade pelas criaturas, Petrah me explicou com gentileza que elas estavam do outro lado da passagem, no Canino do Norte. Assenti, segurando firme a alça da minha mochila atravessada em meu peito, e me confortei com a presença quente e acolhedora de Fenrys ao meu lado. Tentei não demonstrar minha desconfiança conforme passamos por incontáveis corredores cavernosos e com as luzes das tochas bruxuleantes. Notei que não importava o quão profundamente fossemos para dentro dos corredores de pedra da Ômega, os gritos e os rugidos selvagens vibravam na pedra; o ar pulsava com o ecoar de asas encouraçadas, e o chão chiava com o raspar de garras na rocha mesmo que as criaturas não estivessem aqui nesta montanha.

Petrah caminhava à nossa frente. Eu e Fenrys a seguíamos, lado a lado, e Tabitha se encarregava de ser a última da fila, na retaguarda, olhando para todos os lados como se estivesse procurando por alguém — ou por uma adversidade que seria interceptada antes mesmo de se tornar um problema.

✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora