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Lorella
— VOCÊ QUER UM POUCO MAIS DE CHÁ, LORE?
Girei o rosto para encontrar Freya parada atrás do balcão da cozinha, segurando um bule e uma xícara verde de porcelana em cada mão. Assenti, sorrindo com gratidão quando ela encheu a caneca até a metade e completou com leite morno e algumas exageradas colheradas de mel. Freya caminhou até mim segurando duas canecas nas mãos. Ela me ofereceu uma, que peguei com a mão que não estava segurando o livro, e lhe agradeci, vendo-a se sentar na poltrona ao lado do sofá onde eu estava deitada.
Dois dias haviam se passado desde que chegamos a Perranth. Os ferimentos que Isla, Fenrys e eu sofremos — em momentos distintos — eram mais graves do que o esperado. Isla teve um estiramento num tendão da panturrilha e teve de ficar de repouso, mesmo que estivesse odiando cada momento do dia em que mancava pelo apartamento ou passava as horas deitadas, ouvindo-me ler para ela. O ferimento de Fenrys fora menos intenso, mas igualmente preocupante. Atingiu um músculo perto da axila, onde por pouco não acertou um ligamento muscular que era importante para o movimento de todo o membro. Por isso, não sei dizer qual dos dois feridos está sendo o mais insuportável nos últimos dois dias.
E minha perna também não estava perfeita. A dor que senti e pensei ter vindo da picada de uma cobra foi, na verdade, a cauda de uma delas — com uma ponta afiada e serrilhada, embebida em um veneno paralisante. Freya contou que fora um milagre eu conseguir andar por todo aquele caminho até o apartamento sem sentir os efeitos da paralisia. Bellamy era talentosa com sua magia de cura, então foi a responsável por cuidar de três feridos rabugentos que a deixavam estressada em poucos minutos.
Bellamy sempre precisava de uma pausa entre um atendimento e outro; dizia que não aguentava as caretas de Isla, os risinhos provocativos de Fenrys ou a forma como eu tentava não incomodá-la, mordendo um pedaço de pano toda vez que ela aplicava um unguento que neutralizava o veneno paralisante. Tudo era motivo de irritação, mas Bellamy não era a única que se sentia presa e zangada dentro desse apartamento.
Eu queria estar nas ruas, monitorando o castelo de Elide e vigiando a cidade, atenta a qualquer sinal de que Holdwyn estaria pronto para atacar. Freya e Bellamy diziam que tudo ainda parecia relativamente normal: os homens estavam se preparando porque sabiam que a qualquer minuto poderiam entrar em ação, mas a ordem não havia sido dada ainda, o que estava deixando-os inquietos. Freya conta como os soldados ficaram chocados e raivosos quando descobriram que matei Kharis, o que inflamou ainda mais a raiva em seus corações contra Terrasen. Bellamy riu até ficar rouca quando contei como matei Kharis, e caiu da cama de tanto rir quando Isla disse que usei um rato para torturar o antigo segundo em comando.
Era como se desse para pressentir o mal vindo, como uma tempestade no horizonte — uma daquelas que você acha que não vai dar em nada, algo rápido e passageiro, até que você esteja sob a aguaceira, surpreendido por raios, relâmpagos e trovões de congelar os ossos.
— Não fique nervosa — Freya sussurrou para mim, colocando sua xícara na mesinha e pegando sua espada pelo cabo. Ela me olhou sob os cílios e abriu um sorriso reconfortante. — A ansiedade torna tudo pior.
— Eu sei.
Ela começou a afiar sua espada e eu continuei bebericando meu chá com leite, lendo as últimas paginas de um livro de romance esquecido que encontrei entre os exemplares empoeirados. A sala estava iluminada por velas, e o céu estava escuro do lado de fora. Bellamy falou alguma coisa sonolenta em meio ao seu sono, no quarto ao lado, e voltou a roncar audivelmente. Fenrys estava tomando banho e trocando o curativo, enquanto Isla deveria estar nas ruas, caminhando entre suas sombras a fim de buscar comida para todos nós.
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✓𝑹𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴𝑬𝑹 | (𝘛𝘖𝘎) - FINALIZADA
FanfictionLorella sabia que monstros existiam, e que eles não eram apenas valgs. Monstros, para ela, eram pessoas. Humanos, bruxas e feéricos, ela não via diferença quando tudo o que conheceu fora brutalidade e crueldade. Trancafiada desde criança pela falsa...