Capítulo 17 (parte I) - Culpada

660 40 6
                                    

Eu bati nervosamente na grande porta de carvalho da mansão Lavinsk. Fiquei o maximo de tempo possivel tentando abominar esse momento, mas agora me parece impossível. Eu precisava saber a verdade. Tinha esse direito. Abri um grande sorriso enquanto esperava, mas logo a minha expressão congelou quando vi que, em vez de Olinda, fora Violet quem atendera a porta.
-- Ora, ora. O que temos aqui? -- ela debochou. -- Sentiu saudades?
-- Não estou aqui para discutir, Violet.
A expressão dela mudou, e ela apoiou o quadril no umbral da porta.
-- O que você quer?
Eu engoli em seco, porém Violet não percebeu.
-- Conversar.
-- Não tenho nada para falar com você.
Violet começou a fechar a porta, mas eu a parei com a minha mão.
-- Acho que você me deve uma explicação -- arqueei a sobrancelha. Violet bufou, porém abriu a porta o suficiente para me deixar entrar. Deixei escapar um suspiro assim que a porta se fechou atrás de mim.
--Onde está Olinda?
-- Quer mesmo saber da empregada? Ela está no Centro.
-- E seus pais?
-- Reunião -- Violet deitou no sofá da sala de estar e cobriu os olhos com o braço -- me senti indisposta hoje, então aqui estou eu.
Franzi o cenho mediante a explicação de Violet.
-- Então fale, princesinha, o que você quer? Sei que não foi para saber o andamento da casa.
-- É sobre isso! -- exclamei -- Você me chamando de princesa. Disse aquele dia que vocês de deveriam ter me deixado para morrer. Deixado onde? E por quê? Na Espanha? Aqui?
Violet se sentou.
-- Como sabe sobre a Espanha?
-- Vieram atrás de mim, e me contaram.
-- E por quê precisa da minha explicação se já o sabe?
-- Por que tudo isso é um grande absurdo! Não é real. E você é a única pessoa em quem eu confio para isso -- desabafei, tornando a barra da minha blusa refém dos meus dedos ansiosos.
-- Fico lisonjeada -- ela riu, para depois soltar um suspiro.
-- Por favor -- supliquei.
-- Tudo o que te disseram é verdade, alteza -- ela disse relutantemente -- Sua vida perfeita no palácio real de Madrid, todos aqueles sapatos e jóias, e uma vida sem preocupações.
-- E a invasão? -- pouco me importavam as jóias e os sapatos.
-- Malditos russos -- ela resmungou.
-- Violet!
-- Está bem -- ela admitiu, desviando o olhar para as escadas -- quando os russos invadiram para o Golpe, seu pai, o rei, não estava preparado para isso. Alguns nobres fugiram a tempo, mas o povo não tinha para onde correr, e seu pai era um homem bom, não podia abandoná-los. Então ele confiou a sua guarda ao meu pai, seu melhor amigo e conselheiro, para que ele te levasse conosco na fuga. Quando chegamos à Illéa você não se lembrava de nada. Não sabíamos o porque, nem o sabemos agora. Mas meus pais viram uma oportunidade de te esconder melhor se você não soubesse quem era. O general que assumiu o poder é conhecido como louco. Alguns o chamam de Nero.
Eu passei as mãos pelo cabelo.
-- E por que mudaram o meu nome?
Violet deu de ombros.
-- Parecia mais fácil. Deixar completamente a vida na Espanha para trás.
Então era verdade. Eu era princesa. Princesa refugiada de um reino que agora sofria nas mãos de um general louco. Eu sempre sonhei secretamente com a realeza, com os contos de fadas, mas eram apenas sonhos. Um mundo secreto ao qual eu me escondia quando a realidade se tornava dura demais. Mas, neste exato momento, a realeza é uma das coisas que menos me atrai.
Abri a boca para falar depois de muito tempo, mas fui interrompida por alguém tocando a campanhia furiosamente. Violet me olhou com a sobrancelha erguida, mas lembrou-se que eu não trabalhava mais naquela casa. Levantou do sofá com um suspiro.
-- Argh, Deus, ninguém tem direito a um pouco de sossego? --resmungou.
Assim que abriu a porta, todo o seu corpo retesou.
-- A-Adam?! -- perguntou, incrédula.
O que ele está fazendo aqui? Espera. Ela o conhece?
-- O-quê? O que você quer?
-- Vim buscar Amélia -- ele responde, passando por debaixo do braço de Violet, deixando-a atônita. Ele veio com passos largos na minha direção, e eu recuei o máximo que pude no sofá branco. Em poucos segundos ele estava me erguendo pelo braço e me arrastando para fora da casa.
-- Ai! --reclamei, tentando me soltar -- o que está fazendo?
-- Te levando para um lugar seguro.
-- Adam, me solte!
-- Não.
-- Eu estou segura!
Adam me tirou da mansão e me levou a uma SUV preta, estacionada logo a frente. Um frenesi me fez parar de repente, causando um calafrio na minha espinha.
-- Adam, pare, eu não vou com você.
-- Estou garantindo a sua segurança. E isso não é uma opção.
Eu deixei o ar escapar entre meus dentes assim que Adam me colocou no banco traseiro. Nunca estive tão brava como agora. Como ele podia me tratar assim? Ele é meu noivo, não o meu dono.
Cruzei meus braços e recostei-me no Banco de couro, recusando-me a dirigir-lhe sequer o olhar. Assim que estacionou o carro, não me importei em saber onde era, apenas saltei do carro e andei apressadamente para longe dele. Olhei rapidamente ao redor, e percebi que estávamos no estacionamento de um hotel.
-- Amélia! -- Adam chamou atrás de mim. Eu comecei a correr, falhando miseravelmente quando o meu noivo me jogou por cima de seu ombro, indo para a direção oposta da que eu estava.
-- Adam! Isso é sério. -- eu disse, socando as suas costas ao mesmo tempo em que tentava me equilibrar -- Eu. Não. Vou. Com. Você. Eu tenho que voltar para o Palácio. Kota vai mandar me procurar!
-- Não estou preocupado com isso. -- ele resmunga.
-- Será -- Eu parei de tentar me soltar -- que você me carregando assim, no estacionamento de um hotel, não chamaria mais atenção?
Adam parou de andar assim que chegamos ao elevador, e me colocou no chão. Ele olhou para mim com a sobrancelha erguida e um meio sorriso.
-- O quê? -- perguntei.
-- Nada -- ele se endireitou.
-- Eu estava segura no Palácio.
-- Não. Não estava. De qualquer forma -- ele abriu a porta do quarto com o cartão magnético assim que chegamos ao andar correto -- você não estava lá mesmo.
-- Por quanto tempo vou ficar aqui? -- perguntei, enquanto inspecionava o quarto. Era bem espaçoso, apesar de pouco chamativo. Adam estava levando a sério essa história de me proteger. Sério até demais. Revirei os olhos e sentei-me na beirada da grande cama de casal.
-- Um ou dois dias -- ele andou até a janela no lado oposto do quarto -- o suficiente até estar tudo pronto para a viagem.
Eu me engasguei. A risada dele chegou aos meus ouvidos e eu deixei o meu corpo cair na cama.
-- Não se preocupe -- ele disse -- isso inclui avisar o seu amigo.
Fiz uma careta ao modo como ele se referiu a Kota.
-- Ele é meu namorado.
Escutei Adam se afastar da janela, e logo o seu rosto estava a centímetros do meu, me analisando atentamente. A minha respiração ficou presa no meio da garganta, e eu congelei.
-- Que belo namorado ele é. Alheio a tudo o que a namorada faz.
-- Ele não precisa ficar grudado no meu pé como um cachorrinho.
-- Se ele soubesse da situação, e fosse um homem esperto, com certeza ficaria.
O canto da sua boca ergueu um pouco, enquanto seus dedos brincavam com o meu cabelo.
-- Vamos ter que mudá-lo. Eu reconheço sua cabeça à distância.
-- O quê?
-- Não agora. -- ele se aproximou mais e depositou um beijo na ponta do meu nariz, levantando-se logo em seguida.
-- Está com fome? -- Adam perguntou, parado à porta e com o casaco pendurado no braço. -- Você vem?

********************************
Hi darlings! Como estão!
Aqui está mais um capítulo para vocês aproveitarem! Porém eu o dividi em duas partes, já que o capítulo estava muito grande.
A segunda parte eu devo postar amanhã ou na segunda.
Espero que gostem!
Votem, opinem e aproveitem!
Kisses and flys <3

EncontradaOnde histórias criam vida. Descubra agora