Capítulo 01 - Um novo início

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(Booktrailer na mídia do capítulo)


Senti um cheiro pungente de algo queimando e imediatamente voltei à realidade. Tirei o ferro de passar de cima da roupa, e me deparei com uma imensa marca preta na estampa florida do vestido da senhora Lavinsk. Ah, droga, droga, droga.

Estava tão absorta com a cerimônia de casamento do príncipe, ou melhor, rei Maxon que me esqueci de desligar o ferro elétrico. Oh céus, o que eu faço?

-- Olinda?

Uma mulher baixa, com aproximadamente cinquenta anos coloca a cabeça para dentro da lavanderia.

-- Sim?

-- Er... Existe alguma possibilidade de tirar uma marca de ferro de um vestido?

Por favor, diga que sim. Diga que sim.

Olinda entendeu minha expressão rapidamente, e seus olhos se arregalaram.

-- O que você fez?

-- Nada. Absolutamente nada. -- menti. Desviei meu olhar e encarei o chão.

-- Você é uma péssima mentirosa. Dê-me o vestido.

Fiz isso sem tirar os olhos do chão.

-- Ai meu Senhor! Tem noção do que vai acontecer? -- Olinda começou a gesticular, as vezes praguejando em italiano. Era essa reação que eu temia, mas veio de Olinda, a pessoa mais calma e generosa que conheço. Não queria nem pensar no que iria fazer a senhora Lavinsk.

-- Vá cuidar das janelas que eu irei ver o que posso fazer quanto a isso. -- disse, desligando a pequena TV pela qual eu assistia o casamento. É, parece que eu não iria mais assistir.America havia acabado de entrar com o seu vestido deslumbrante e um enorme sorriso no rosto. Afinal, quem não estaria feliz de se casar com Maxon?Ela tem muita sorte. -- Você se distrai facilmente com essas coisas, Gisele. Uma pobre sonhadora. -- ela falou a última frase como um lamento.

Saí em busca de uma janela que precisasse ser limpa. Qualquer uma. Mas não encontrei nada. Tudo estava em seu perfeito lugar. Olinda e sua mania de perfeição. Eu a conheci assim que comecei a trabalhar aqui. Ela me disse que era italiana e que veio para Illéa com seu pai quando tinha onze anos. Não sei como foi parar na casta seis, mas nunca a vi fazer algo que não fosse perfeito. Ela não tem filhos ou marido, e seu pai morreu a 15 anos,então essa é a sua única preocupação.

Acabei na biblioteca. Os Lavinsk são a família mais rica de Angeles (alem da família real, claro), e sua casa daria para abrigar, pelo menos, dez famílias. Por serem Dois, sempre foram uns esnobes que só pensam em si mesmos e em serem melhor do que todos. A biblioteca é um dos lugares menos utilizados desta mansão. Prateleiras cobrem todas as paredes do recinto, exceto pelo local onde fica uma imensa janela ornamentada, cuja vista se dá para o jardim. Segundo o que Olinda me disse, aqui existem mais de mil livros, inclusive aqueles que existiram antes da Terceira Guerra Mundial. Estes são os que mais me fascinam, além dos romances, é claro.

Andei até a prateleira no canto esquerdo da sala. Passei a mão pelos livros, sentindo a textura diferente de cada capa. Dentre todos os lugares em que já estive, esse é o meu preferido. Minha mão parou em uma singela capa vermelha, suja cor desbotara com o tempo. Retirei da prateleira e li seu título como sempre fazia todos os dias em que ia a biblioteca. O Morro Dos Ventos Uivantes. Me cativei pela história assim que li os primeiros capítulos. Não sei como uma pessoa é incapaz de admirar a literatura.

Sentei-me em uma poltrona, disposta em frente a uma majestosa lareira -- que penso que não é utilizada a um bom tempo-- e comecei a ler.

***

Acordei com o barulho de gritos vindos da sala. Levantei-me com um pulo, deixando o livro cair aberto no chão. Rapidamente o devolvi a seu devido lugar e ajeitei meu vestido.

Caminhei com passos mansos, o suficiente para que os saltos desconfortáveis de 3 cm não fizessem barulho no piso de madeira escura. As vozes ficaram mais claras, e reconheci imediatamente a da senhora Lavinsk.

-- Olinda! Esse vestido custa a sua alma!

-- Desculpe senhora, foi um terrível descuido meu. Garanto que não se repetirá.

-- Ah, mas não vai mesmo!

A senhora Lavinsk , assim que saiu da cozinha, me avistou.

-- Gisele! Prepare o meu banho, quero lírios desta vez. As rosas estão em enjoando.

-- Sim, senhora -- abaixei a cabeça enquanto a senhora Lavinsk passava por mim e caminhava com passos pesados em direção ao segundo andar.

Olhei para Olinda, que havia começado a limpar os armários já impecáveis.

-- Por que fez isso? -- Olinda olhou para mim com um ponto de interrogação estampado em seu rosto -- assumir a culpa, quero dizer.

-- Se a Madame descobrisse que tinha sido você, não sei nem o que ela teria feito. Trabalho aqui a muito tempo, então tenho uma certa imunidade. -- ela riu, meio que para si mesma. -- Agora vá. Temos uma longa noite pela frente. O senhor Lavinsk quer se separar.

Arregalei os olhos.

-- Não! É por isso que ela está tão estressada.

-- Estressada? Ela está cuspindo fogo!

Eu e Olinda começamos a rir.

-- Se ele fizer isso, espero que me leve consigo -- É verdade. O Senhor Lavinsk é o único anfitrião que nos trata bem. Não via a hora de sair desta casa. -- bem, é melhor eu ir.

Comecei a ir em direção as escadas, mas me contive. Recuei rapidamente e surpreendi Olinda com um abraço, que segundos depois retribuiu.

-- Obrigada.

Ela assentiu e eu segui meu caminho.

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