Capítulo 02- O Visitante

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Duas semanas se passaram e a casa dos Lavinsk se tornou algo parecido com uma estação de trem. O senhor e a senhora Lavinsk continuam brigando, e a cada dia seu casamento afunda mais um pouco. Ouvi dizer que o único motivo de ainda não terem se separado é a filha deles, Violet. Que por sinal, está noiva. A festa de casamento será daqui a três semanas e os nervos de cada um aumentam. Violet finalmente achou alguém que lhe agradasse para ser seu marido, depois de vários homens com o coração partido.Alguém rico, o solteiro mais rico do país, e esse homem não poderia ser ninguém além do irmão mais velho da rainha.

Isso mesmo. Violet está noiva de Kota Singer.

Fiquei chocada quando soube da notícia. Era evidente, mas também parecia impossível. Sinceramente, se fosse eu, acho que não aceitaria um pedido de Kota Singer. Não que ele não seja bonito. Ele é, com toda certeza. Mas também muitos dizem que é arrogante. Quando America ainda era uma cinco, Kota fez fortuna com uma de suas esculturas e então suas obras passaram a ser compras a todo o tempo. Seu ego inflou. E depois disso, nunca mais abaixou. Seu sonho era comprar um título de Dois, mas agora que é Um, não sei nem o que pensar dele. É claro que ele quereria se casar com alguém tão rico quanto ele. Ou quase. E então chega Violet. Loura, olhos azuis, magra, atriz e com uma arrogância tão grande quando a dele. Pronto, o casal perfeito.

Fiz mais uma bolinha de papel e a joguei no lixo. Mais um modelo de vestido que não deu certo. Violet insistiu que eu desenhasse o seu vestido de noiva, já que ela vive me dizendo que " desenho é o meu talento". Não sei como poderia criar um vestido para alguém como Violet. Ela, definitivamente, não tem os mesmos gostos que eu. Então quando me dou conta, estou criando vestidos com um toque aqui e ali de minhas escolhas. E lá vai mais uma bolinha. Desta vez, ela bate na lixeira de metal e cai no chão. Levantei-me para pegá-la, e então tive uma ideia.

                                                                                                  ***

-- Gisele, está incrível!

-- Fico feliz que tenha gostado.

Violet me deu um rápido abraço, e em seguida voltou a analisar o esboço do vestido. Eu havia passado a noite inteira recuperando os desenhos que não haviam dado certo. Escolhi cinco deles, e juntei uma parte de cada, formando um novo vestido. Fiquei bastante preocupada, caso Violet não aprovasse o modelo, mas essa preocupação sumiu assim que vi um sorriso em seu rosto. Ela havia acabado de chegar quando eu a surpreendi com o desenho nas mãos.

-- Agora vá. Tenho que resolver os arranjos do casamento e não quero ninguém me perturbando. Traga meu jantar exatamente daqui a duas horas.

E a Violet esnobe voltou.

-- Sim, senhorita.

Saí da mansão e caminhei pelo jardim. O Sol se punha no horizonte, colorindo o céu com tons de rosa e laranja. Neste momento, tudo parecia mágico. Após três minutos de caminhada -- seria mais rápido se não estivesse com esses saltos -- uma pequena cabana branca surge. Atravessei as pedrinhas brancas que cobrem a fachada da cabana e entrei. Liguei o pequeno interruptor ao lado da porta, iluminando o ambiente. Este é o meu cantinho. É bem simples. Apenas uma cama de solteiro, um guarda roupa e uma escrivaninha. Uma pequena porta leva ao banheiro. Há uma janela, somente. Esta está na parede ao lado da cama e sua vista -- assim como a da biblioteca -- se dá para o jardim. Tiro os sapatos desconfortáveis e piso descalça no chão de madeira. Agora eu tinha uma hora e meia antes de voltar para atender as necessidades de Violet. Atrás da minha cama de madeira, retiro uma sacola de pano e de entro dela, um livro. Passei a trazer livros da biblioteca para que eu pudesse ler nas horas vagas, como esta. Abro o material e mergulho em seu mundo.

Eram sete e meia quando eu saí da cabana, com a sacola de livros na mão. Achei que seria melhor devolver antes de alguém entrar na biblioteca e perceber o espaço vazio em uma das prateleiras.

Me esgueirei pelas máquinas de lavar da lavanderia e me dirigi para o segundo andar. Entrei na biblioteca, fechando a porta logo em seguida. Estava guardando os livros na estante leste quando me surpreendi com uma voz.

-- Então é você.

Virei-me lentamente, paralisada pelo medo de ter sido descoberta. Em uma das poltronas em frente a lareira, com um monte de papéis no colo, estava Kota Singer.

-- Eu? -- balbuciei.

-- Sim, você. Não se faça de inocente. É você quem está roubando os livros da biblioteca. -- disse ele, levantando-se.

-- Sinto muito em te informar,mas eu não estou roubando nada.

-- Então o que fazia com esses livros?

-- Eu leio, se não se importa. Já que tenho tempo livre à noite e a biblioteca não é utilizada. -- estreitei meus olhos para ele. -- Ou melhor, quase.

Vi em seus olhos divertimento. Lhe agradava perturbar-me!

-- Agora me dê licença, tenho trabalho a fazer.

Comecei a retirar-me, mas ele me detém ao segurar meu braço.

-- Desculpe, pelo comentário. E eu gostaria de me apresentar formalmente. Sou Kota Singer.

-- Eu sei quem você é --minha voz soou rude, e eu estremeci ao ouvi-la. Precisava sair dali.

Consegui desvencilhar-me dele, abri a porta da biblioteca. Senti o peso de seus olhos azuis enquanto me retirava.

EncontradaOnde histórias criam vida. Descubra agora