Capítulo 42 - Acerto de contas

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Meus pés pareciam chumbo, soldados firmemente no chão para que eu não pudesse me mover. Com um empurrão nas costas, o guarda me colocou dentro da sala e fechou as pesadas portas de madeira atrás de mim, o eco ampliado pela falta de qualquer outro som além da minha respiração pesada.

-- Princesa Amélia... Devo dizer que é uma surpresa receber sua visita nas atuais... Circunstancias.

O Rei Marco Aurélio estava em pé ao lado da janela, em uma postura rígida, enquanto observava o movimento da criadagem abaixo de nós.

-- Majestade, obrigada por concordar em me receber.

Ganhei coragem e me movi na sala, parando a uma distância do rei que considerei segura.

-- Esperava que eu recusasse seu pedido, alteza? -- ele virou-se para mim, os olhos faiscando em uma expressão indecifrável. -- Ora, fiquei curioso quanto a sua urgência em marcar uma reunião comigo.

-- Preciso de ajuda -- fui direta. Não me sentia confortável em ficar sozinha com o rei, tampouco estaria ali se não devesse. -- Portugal e Espanha são aliados desde os Tempos Remotos. Lutaram juntos em várias guerras e sempre mantiveram a aliança. Necessito dela mais do que imaginaria, agora.

Para a minha surpresa, o rei gargalhou.

-- Amélia, se não a conhecesse bem diria que seu cérebro possui ausência de neurônios. -- Ele se distanciou da janela, atirando punhais na minha direção com o olhar enquanto assumia a posição costumeira atrás da grande mesa polida. -- Mas vou considerar que a viagem a deixou exausta. Agora me diga: por que está confiante que a nossa aliança ainda existe?

A resposta do rei não me intrigada. Lembrava-me bem da descrença dele quando Adam fez a sua prioridade em me salvar de Kota, da Espanha e de si mesmo. Ele provavelmente me odiava e recusaria a ajuda, mas eu não tinha a quem mais recorrer.

-- Entendo que... -- comecei.

-- Você matou o meu filho! -- Esbravejou, o rosto contorcido pela cólera, e eu recuei um passo em direção à porta. -- E ele fez tudo por você! Estava tão cego de amor que preferiu morrer por uma pessoa ele achava que o amava a ser rei, assumir as responsabilidades!

As lágrimas vieram tão facilmente quanto o aperto firme no meu peito causado pelas palavras maldosas do rei.

-- Eu o amava! Eu o amo! -- Esforcei-me para falar, e a minha tentativa de levar a conversa em um tom neutro se perdeu com a intensidade das emoções. -- Eu abandonei tudo que eu mais considerei na minha vida, eu deixei Adam para que ele pudesse estar a salvo.

-- E mesmo assim -- Marco Aurélio passou a mão pelo rosto vermelho --, onde ele está agora?

Respirei fundo, embora a sensação fosse de que eu estava ficando sem ar. Ele tinha razão em me culpar. Não podia tentar me defender porque não havia desculpa suficiente para justificar a morte de Adam. Mas ele fora vítima das pessoas que ainda estavam matando o meu povo, e mesmo que a minha autoridade estivesse suspensa por um papel, eu tinha o dever de princesa que me foi concebido ainda no berço de lutar pelo meu povo.

-- Nada poderá aplacar a perda do seu único filho, Vossa Graça. Ambos sabemos como funciona a linha de sucessão e tenho consciência do choque em que seu país se encontra no momento, com os nobres exercendo grande pressão. Não posso pedir que largue tudo e envie seus homens para em uma guerra que não é sua, então peço um acordo de auxílio mútuo. A Espanha continua perdendo vidas, embora tenhamos feito de tudo para aplacar a ação terrorista. Facções começaram a questionar a capacidade do governo de controlar a situação e temo que esse conflito gere outra guerra Civil. Como princesa de meu país e como humana, não quero que aconteça os mesmos horrores da Primeira Guerra Civil Espanhola. Peço, por favor, que considere a questão.

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