A brisa quente de Madrid invadiu meus sentidos, tomando uma longa e profunda inspiração. Apesar da altura em que me encontrava, com apenas um movimento em falso para cair, não hesitei em fechar os olhos. Aquele lugar me passava uma impressionante sensação de liberdade, onde eu podia ver as ruas da cidade, e estando acima delas, é como se eu pudesse voar noite a fora, como um pássaro.
O barulho de passos fez com que eu abrisse os olhos e virasse para a porta de vidro da sacada.
-- O que está fazendo?
Abri um leve sorriso.
-- Oi, James. -- voltei a olhar para a cidade -- Pensei que fosse a mamãe.
-- E o que ela estaria fazendo aqui?
-- Provavelmente tendo um ataque pelo fato de eu estar a um passo de virar uma panqueca no chão. -- ironizei.
James começou a rir instantaneamente.
-- Seu senso de humor é comovente. Fico feliz que ainda o tenha.
-- Não graças a você -- mostrei a língua. -- Você é péssimo nisso.
-- Não tenha tanta certeza disso, Mia.
Soltei um suspiro, levando a minha mão até o pingente de gardênias do meu colar, um presente do Príncipe Adam Lancaster pelo meu aniversário.
Quando voltei a olha-lo, seus olhos azuis estavam em mim e, pela sua expressão, eu sabia bem o motivo da visita. Me endireitei no parapeito da sacada, dando um melhor espaço para que James se sentasse ao meu lado. Ele puxou a gola do seu uniforme, e me perguntei, pela milésima vez desde que eu me lembrava, o porque da realeza ter de usar sempre vestidos longos e elegantes, além de uniformes que não devem ser confortáveis. Afinal, não estávamos tendo nenhum tipo de festa.
-- Eles estão insistindo mais. -- comentou ele.
Bufei.
-- Apesar de toda essa pressão para que aceitemos, não acho que Adam e eu temos alguma escolha, de fato. Não somos reis para ter alguma opinião influente sobre isso.
-- Então você está concordando? -- James perguntou, desconfiado.
-- Isso é muito antigo. Casamentos assim eram praticados a séculos atrás. Mas, considerando as minhas possibilidades, fico feliz que seja com Adam. -- mordi meu lábio -- Não estarei me casando com um completo estranho.
James sorriu singelamente.
-- Não temos mais tanto tempo juntos, não é mesmo? -- arqueou uma sobrancelha.
-- Claro, porque o meu irmãozinho querido está ocupado perparando-se para virar rei.
-- Você não fica chateada com isso, não é?
Arregalei meus olhos.
-- James! Como pode pensar algo assim? -- me levantei do parapeito, assim como James, e me envolvi em seus braços. -- Fico feliz por saber que será um ótimo rei. Eu só não entendo o porque de quererem que eu também vire rainha.
-- Eles pensam na aliança. -- suspirou, apoiando seu queixo na minha cabeça.
-- Uma aliança estúpida e uma coroa de brinde.
-- Não pense assim, Mia querida. Infelizmente não posso fazer nada para mudar a decisão deles perante seu casamento com Adam. Mas saiba que eu sempre estarei ao seu lado. Pode contar comigo para qualquer coisa.
Eu ri. Ri com meu irmão pelas ironias do nosso futuro. Ri pelo modo como o destino traçou nossos caminhos. Se eu acreditava nele? Talvez. Mas iria deixá-lo me impedir de seguir a vida que eu quero? Nunca.
-- Uma corrida até o Salão? -- sugeriu.
Olhei para ele, incrédula, embora possuía um brilho no olhar.
-- Quem ganhar tem uma massagem nos pés?
James franziu o nariz.
-- Por Deus, Amélia. Você tem criadas que fazem isso por você.
Oh. Certo. Como poderia esquecer? Olhei para a noite, pensativa. Logo meus olhos se desviaram para a fonte principal do jardim. Um sorriso malicioso surgiu lentamente em meus lábios.
-- Tudo bem. Quem perder... -- demorei a falar para aumentar o suspense. -- Terá que nadar na fonte. Apenas de roupas íntimas! -- concluí.
-- Amélia! -- James me repreendeu.
-- Ora, vamos, ninguém vai ver. -- tentei segurar a risada mordendo meu lábio.
Meu irmão permaneceu em silêncio por alguns instantes, me observando atentamente.
-- Tudo bem. -- disse por fim. Ele girou, me tirando dos seus braços e rapidamente voltando ao quarto, fechando as portas de vidro que davam acesso à sacada, me mantendo de fora. Ele riu. -- Boa sorte para conseguir chegar primeiro.
E saiu correndo.
-- James!
Trapaceiro filho da nossa mãe! Eu ri comigo mesma, abrindo as portas a tempo de ver James saindo do quarto e virando o corredor. Me apressei em correr atrás dele, segurando a saia do meu vestido longo e dando graças aos céus por estar de sapatilhas.
Ele não poderia ganhar. Não mesmo.
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Hey pessoas lindas! Cheguei com mais um capítulo.
Ele está curto, mas como são lembranças da Gisele, não seria muito útil fazê-lo grande.
Espero que gostem!
E aí vem a bomba, para quem não entendeu:
Amélia/Gisele não era a herdeira do trono!Comentem, votem, e aproveitem!
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Encontrada
أدب الهواة"Os livros são tudo o que tenho. É como se, todos os dias, me perguntassem com suas capas brilhantes: 'quem você quer ser hoje? Que mundo quer explorar? '. Os livros me traziam batalhas, romances proibidos, o limite do ser humano. Era muito fácil f...