Capítulo 20 - Bem vinda ao Brasil!

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-- Ei, Bela Adormecida, acorde.
Eu me remexi. Ah, não. Eu não queria acordar.
-- Amélia.
Grunhi e virei-me novamente. Adam se aproximou mais -- apenas ele me chama de Amélia -- e batucou meu nariz com a ponta dos dedos. Ugh. Ele sabe que eu odeio isso. Encontrei os olhos esmeralda, que brilhavam divertidos. Um sorriso brincava em seus lábios e ele me deu um rápido beijo na testa. Um pigarreio soou e eu me virei para Kota, que estava de braços cruzados e fuzilava Adam com o olhar. Porém, quando seus olhos cruzaram com os meus, eles suavizaram.
-- Bom dia. -- murmurou.
-- Bom dia -- respondi -- chegamos?
-- Olha só. -- Adam disse, apontando para a varanda do que seria... um quarto? Por quanto tempo eu dormi? Estava vestida apenas com uma camisola de seda, e olhei perplexa para Adam quando percebi a delicada peça de roupa. -- Não fui eu. -- diz, apontando com a cabeça para Kota. Porém, os seus olhos diziam algo mais.
Decidi não prolongar o assunto. Me levantei, hesitante, e me aproximei da janela aberta, que dava para a varanda. Um sorriso logo ganhou meu rosto quando a brisa do mar me atingiu, e o calor do Sol esquentou minha pele. O mar quebrava levemente à areia, e eu fechei meus olhos por um breve instante, inalando profundamente. Quando os abri, me deparei com uma figura conhecida, um grande Morro, com o Cristo Redentor em seu pico. Ofeguei.
-- Bem vinda ao Brasil. -- disse Kota, me abraçando por trás. E então eu tive a certeza. Estávamos no Rio de Janeiro. No mais belo país tropical de que se ouviu falar.
-- Você sabia. -- Eu me virei para ele.
-- Claro que eu sabia. -- ele riu -- nunca que eu deixaria um louco iludido te levar para o desconhecido sem mais nem menos.
-- Louco iludido? -- exclamou Adam, indignado. -- Quem você pensa que é?
Kota apenas ofereceu um sorriso provocativo em resposta, e a minha tentativa de segurar o riso falhou miseravelmente. Dobrei sobre o meu corpo com a mão na barriga, e os meninos logo se adiantaram para me amparar, quando se deram conta que o motivo de riso era a situação deles.
-- Amélia -- Adam sibilou.
-- Louco iludido? -- perguntei, buscando ar entre as risadas -- Essa foi ótima. Kota, dessa vez você se superou.
Ele ergueu o queixo em satisfação, cruzando os braços em cima do peito. Adam fechou os punhos ao lado do corpo, e eu me dirigi a ele.
-- Adam, querido -- Eu disse, tentando soar cômica -- por que você não relaxa e me leva para passear? Acho que você não me trouxe a este país para ficar trancada em um quarto de hotel, hum? -- arqueei uma sobrancelha.
Meu plano de distração deu certo, pois o seu rosto se suavisou e ele passou o braço por sobre o meu ombro.
-- Então, o que quer fazer, cara Mia?
Ergui uma sobrancelha em questionamemto para ele, e meus olhos se arregalaram por um nanosegundo quando percebi o trocadilho de Adam. Ele usou uma expressão italiana para colocar o meu apelido. Mia. Não sei como, mas minha mente traiçoeira recordou esse nome tão utilizado em segredo, apenas para dois jovens sonhadores. Contra a minha vontade, meu coração martelou no peito. Tentei me recompor rapidamente, mas vi de soslaio que a minha reação não passou despercebida por Adam.
-- Uh... -- olhei ao redor, perdida em pensamentos, até que meus olhos voltaram a pousar sobre o mar e a areia branca. -- que tal a praia?
-- Perfeito.
☆☆☆
A areia quente preencheu o espaço entre os meus dedos dos pés, e eu me contive por um momento para saborear a sensação, arrastando meu pé de um lado para o outro. Kota também parecia maravilhado, acho que nunca foi a uma praia antes, a vida em uma casta cinco lhe dá limitações. Ele sorriu para mim, puxando-me pela mão na direção de uma das mesas próximas ao mar.
Coloquei-me debaixo do guarda-sol, enquanto abria a minha pequena bolsa, pegando um pouco de protetor solar e despejando em minha mão. O mundo pôde ser completamente alheio a minha existência durante sete anos, porém o mundo nunca ficou alheio a mim. Estava conhecendo coisas que nunca me foram apresentadas, mas tudo o que um dia eu vi, ouvi e vivi, aquilo que sempre me foi especial, estava guardado bem no fundo da minha memória, voltando aos poucos, a medida em que simples gestos se tornam substanciais.
Eu torci a barra da minha saída de banho, mordendo o lábio.
-- Ei, tudo bem? -- Kota tocou meu braço. Soltei meu lábio e concordei.
-- Claro.
O meu medo era tirar aquela saída. Ninguém nunca me viu em trajes de banho, e fazer isso em meio a uma praia lotada, por mais que seja aceito e considerado normal, eu ainda me sentia insegura sobre isso. Vi de soslaio Kota puxar a sua camisa sobre a cabeça, e fiquei maravilhada com o seu torso forte. Jamais poderia imaginar algo como aquilo. Adam ainda estava vestido, e trocava algumas palavras em português com uma garçonete, que anotava rapidamente tudo o que ele falava. Mordi o lábio novamente e fechei os olhos. Com um único movimento, soltei o nó nas minhas costas e a saída caiu como uma cascata aos meus pés. Ri comigo mesma, por ter um medo tão idiota, e me abaixei para pegá-la, sacudindo de leve para tirar a areia.
-- Mas que droga!
Pulei com o susto e me virei, ainda segurando a saída, para encontrar Adam e Kota -- um ao lado do outro -- me olhando boquiabertos. Imediatamente senti um rubor se espalhar pelas minhas bochechas, e desviei o meu olhar. Então eu percebo que eles não são os únicos olhares sobre mim. Ah meu Deus. Eu queria desesperadamente me esconder em algum lugar, porém as minhas pernas não me obedeciam de maneira alguma.
Mãos me abraçaram por trás, e eu fiquei tensa.
-- Gisele, meu Deus -- relaxei ao escutar a respiração Kota batendo contra o meu pescoço -- você não pode ficar assim -- me virei para ele -- Quer dizer, está maravilhosa, mas...
-- Relaxa namoradinho. -- Adam zombou -- Estamos na praia. É normal que as pessoas olhem -- ele sorriu singelamente -- Você está linda, Mia.
Abracei meus braços e olhei para Kota, que me olhava com ternura. Ele suspirou e deu um beijo na minha cabeça, pegando o protetor solar de cima da mesa e começou a passá-lo nas minhas costas.
Quando estava devidamente "protegida", Adam me puxou pela mão em direção o mar, e um gritinho escapou dos meus lábios quando ele me jogou na água gelada. Fiz cara feia para a sua risada, mas logo eu me juntei a ele quando vimos a reação de Kota, que pulava de um pé para o outro na tentativa de se adaptar a temperatura.
Começamos a nos afastar da praia, e aos poucos senti a água puxar. E então, eu fui jogada para o fundo do mar. Eu me debati na tentativa de encontrar algo para me segurar, mas a onda era mais forte e fazia com que o meu corpo rodopiasse e arrastasse contra a areia, não dando espaço para que eu pudesse voltar.
Em meio ao pânico cego, bati em algo, e logo senti mãos agarraram meus braços e me ergueram na água, tão fortemente, que parecia que eu não pesava mais do que uma pena. Comecei a tossir assim que o ar invadiu os meus pulmões, e uma das mãos me soltou para me dar leves tapinhas nas minhas costas.
-- Está tudo bem? -- perguntou em português. -- Moça?
Abri meus olhos com dificuldade, desnorteada. Um rapaz me olhava com preocupação, enquanto me olhava atentamente. Suas mãos ainda estavam firmes em meus braços, e eu estremeci quando uma onda passou pelo meu quadril. Só então me sei conta do tanto que tinha sido arrastada pela água.
-- S-sim -- consegui dizer. -- obrigada.
O aperto em meus braços suavisou, até que suas mãos deixaram meu corpo completamente.
-- Matheus -- ele disse, estendendo a mão. Eu a apertei fracamente, enquanto observava o singelo sorriso nos lábios do noreno.
-- Eu...
-- Gisele! -- Eu e Matheus nos viramos para ver Kota e Adam correndo em nossa direção. Kota me abraçou fortemente assim que suas mãos me alcançaram, e eu descansei meu rosto na curva do seu pescoço. -- Você está bem? Quer me matar do coração?
-- Eu estou bem. Só não esperava aquela onda. -- soltei uma risada sem humor.
-- Você não é daqui? -- Matheus perguntou. O cabelo Preto caiu nos olhos e ele jogou a cabeça para o lado, tirando-o.
-- Não -- sorri, falando em sua língua-- estamos de férias.
-- E quem é você? -- inquiriu Adam, com o semblante sério.
-- Ah, claro, Matheus, como eu dizia para a... hum -- ele virou-se para mim e fez uma careta -- Gisele, certo? Eu a peguei antes que se afogasse.
-- Sendo assim, obrigado.
Adam me arrastou para fora do mar, murmurando coisas inaudiveis. Apesar de não ser da minha natureza, a minha vontade foi de morder o seu braço e voltar correndo para o mar. Ele não podia ficar controlando o tempo todo o que eu faço ou não. E se ele quer mesmo que eu seja a sua esposa, seria eu a ditar as minhas próprias regras. Afinal, eu sou uma princesa, e estou nessa confusão toda por causa desse título.
O pensamento me fez estancar imediatamente. Eu estava imaginando o meu futuro como princesa, e esposa de Adam. Algo que, provavelmente, não aconteceria. Sacudi minha cabeça na tentativa de dispersar meus pensamentos, e Adam parou, me questionando com o olhar.
-- Adam, você não pode querer me proteger de tudo. Eu não sou uma peça de porcelana que pode quebrar a qualquer instante. Quer me ajudar, então me ensine a ser forte. Tenho certeza que várias pessoas já passaram por aquilo.
Parei de falar para poder respirar. Uf. Eu não sei de onde saiu tanta coragem para dizer aquilo, apesar disso, eu me senti incrivelmente melhor. Adam abriu a boca para contestar, mas o meu olhar o fez calar rapidamente. A contragosto de Adam e um sorriso de lado de Kota, voltamos para a praia.
Os três dias que se seguiram foram de completa monotonia. Raramente saíamos das imediações do hotel e, quando o fazíamos, uma escolta de seguranças sempre nos acompanhava -- que, para a minha surpresa, estavam nos protegendo a mando de Adam desde a saída de Angeles. Não havia muito o que fazer. A preocupação e os pensamentos que insistiam em perturbar não dava espaço para aproveitar as atrações brasileiras. Adam me contou que o país era um dos únicos na América que ainda mantinha a República, e eu lamentei por naonpoder desvendar mais seus mistérios.
Acabei descobrindo que meu refugio era a companhia do mar. Sempre que queria pensar, caminhava no final da tarde para a praia, e observava o mar sob o crepúsculo que ganhava o céu. Kota e Adam respeitavam esses momentos, me deixando sozinha com a minha mente, mantendo apenas um segurança me vigiando de longe. Hoje não foi diferente.
As ondas molhavam os meus pés progressivamente em seu movimento de vai e vem, a água ainda morna por causa do dia quente. Fechei meus olhos por um breve momento enquanto sentia a brisa refrescante do mar me envolver.
Senti alguém se sentar ao meu lado, e abri os olhos para encontrar o par de esmeraldas brilhantes que me analisavam. Soltei um suspiro, enquanto voltava a olhar para o mar. Desde o dia em que chegamos, eu e Adam nos falávamos menos possível, para a alegria de Kota, e de certa forma eu me sentia dividida em relação a esse afastamento. Eu simplesmente não sabia o que fazer.
-- Mia. -- Adam disse, depois de um tempo -- Amélia.
Eu me virei vagarosamente para ele.
-- Precisamos conversar.
☆☆☆
A mulher envolveu melhor o sobretudo em seu corpo, tentando impedir que a brisa gélida atacasse seu corpo como agulhas afiadas. Com as mudanças climáticas, alguns invernos costumavam arrebater Angeles. Ela logo virou na esquina, para entrar em um bar comum, praticamente vazio, já que todos buscavam se aquecer no aconchego de suas casas. O ambiente, apesar de extremamente bem cuidado, lhe causava repulsa. Ela era acostumada a viver com a Alta Nobreza, todos os restaurantes de luxo eram pouco para ela. Até então.
O avistou na última mesa, encostada em um canto, e andou apressadamente em seu encontro, deixando o corpo recostar-se graciosamente no banco de madeira.
-- Vejo que a nobreza não lhe deixou, não é mesmo? -- o sotaque do homem era notório, mesmo com o seu inglês impecável. O rosto se escondia debaixo de um boné, as feições banhadas pelas sombras, mas ela não precisou olha-lo para saber que ele a analisava atentamente.
-- Você tem o que eu quero? -- ela perguntou, ignorando o comentário.
-- Ah sim. Eu tenho. Estou disposto a ouvir sua proposta. Em troca do que combinamos, é claro.
-- Eu quero minha anistia. -- ela se empertigou -- Para mim e para minha filha. Na mesma posição que tínhamos antes da Tomada. Os mesmos privilégios, em troca de total apoio ao governo.
O homem alisou o queixo, em uma falsa demonstração de que estava considerando a proposta.
-- Interessante. Posso consentir com isso.
A mulher abriu um sorriso. Tirou de sua bolsa um envelope pardo, deixando-o deslizar sobre a mesa.
-- Ai está tudo o que precisa. Eles foram para o Brasil, Rio de Janeiro. Sinceramente, esperava um pouco mais do principezinho.
-- Todos esperavam. Alguma questão a respeito da princesa?
Deu de ombros casualmente, para depois sorrir, fria, como sempre fora a sua alma.
-- Ela me tirou tudo. Mate-a, da maneira mais lenta e dolorosa que existir.
********************
Uou! Eu voltei!
(Coro de aleluia)
E voltei para não sumir mais! Haha
A partir da semana que vem eu fico mais tranquila, e assim os capítulos virão com mais frequência.
Espero que gostem!
E aí? Quem será a mulher misteriosa? E o que Adam quer dizer a Gisele?
Comentem!
E não se esqueçam de votar,é muito importante para mim.
Beijinhos!

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