Era uma vez...
Uma garota com cabelos de sol, e olhos tão azuis que pareciam a imensidão do mar. Desde pequena, foi levada a acreditar que os sonhos se realizam e, até então, isso nunca foi realmente um problema. Mas, como tudo no mundo, os seus sonhos foram obrigados a terminar.
E então os pesadelos começaram.
•••
--Vamos lá. Você sabe a história. -- eu disse.
-- Alguma melhora? -- perguntou America. Eu a acompanho com o olhar até ela se sentar ao meu lado.
-- Não, desde a última vez em que esteve aqui. Pelo menos ele não está mais na ala da UTI -- eu voltei o meu olhar para Kota, e apertei a sua mão na minha. -- era deprimente.
Dois dias atrás transferiram Kota para um quarto, devido alguns sinais de melhora e ordens de America. Afinal, ela é a rainha, e não havia riscos. Recebi alta no mesmo dia. A minha cabeça já não doía tanto, e os cortes em meu rosto eram apenas linhas finas. Desde então, ficava com ele o tempo todo, ora conversando sobre coisas espontâneas, ora contando histórias que ele sabia que eu tinha lido.
-- Te dou mais uma dica. -- falei para ele, consciente de que America me analisava atentamente. -- Seu nome é Ella.
Ao não receber resposta, olhei aborrecida para o corpo morto que respirava.
-- O que está fazendo? -- perguntou America.
-- Contando uma história -- falei sem deixar de olhar para Kota. -- quem sabe ele me responde dizendo que não é assim que as coisas funcionam.
Finalmente olhei para a rainha, e ela estava com o cenho franzido. Provavelmente acha que estou louca.
-- Você dormiu?
Neguei.
-- Eu não consigo. -- tinha clara consciência das olheiras abaixo dos meus olhos. Mas com Kota naquele estado, era quase impossível dormir. Me assustava saber o quão ligada eu fiquei a ele em tão pouco tempo. Talvez ele precisasse de mim. Além disso, o acidente não dava trégua a minha mente, e todos os meus pensamentos chegavam a um ponto de se tornarem um beco sem saída. Tudo isso me tirava completamente o sono.
-- Talvez devesse comer -- ela sugeriu.
-- Já o fiz. -- Estava atônita a respeito do modo como estava sendo tratada. Até mesmo por America! Parecia que eu era uma criança que precisava estar em constante vigia.
-- Sabe...
-- Hum? -- questionei.
-- Acho que você devia ir para o palácio. Está aqui a cinco dias, sem o menor conforto. Isso não é saudável, Gisele. -- ela dá de ombros -- além disso, o hospital é bem perto. Podemos voltar rapidamente. Mas antes disso, você precisa descansar um pouco.
Eu olhei para America, e vi a preocupação em seus olhos. Preocupação com o seu irmão, que após muito tempo de discórdia e afastamento, poderia escapar de suas mãos em um piscar de olhos. Além disso, havia ainda a preocupação com o seu país. Como rainha, ela tem deveres e obrigações, além do muito que fazer no palácio. É uma grande responsabilidade, que requer muita atenção, apesar de haver Maxon para ajudá-la. Illéa é grande, já dá bastante trabalho, e não seria eu a colocar mais um peso em sua mente.
-- Está bem.
Com um último olhar para Kota, eu saí do quarto acompanhada por America. À medida em que passava, todos os presentes lhe dirigiam uma reverência. Já eu apoiava um braço no outro e andava com a cabeça meio baixa. O casaco azul pinicava.
Não demorou muito para chegarmos. America tinha razão, o hospital era próximo ao castelo, e o melhor em toda Angeles. Maxon confiava completamente no Dr. Greene, e isso teria que ser o bastante para mim.
America guiou-me pelo palácio, o seus saltos estalando contra o piso de mámore. Por fim, ela parou em frente a um par de portas duplas.
-- Geralmente esse quarto é utilizado no período da Seleção. Mas demorará algum tempo para que haja outra, além disso -- ela diz -- eu tenho um carinho especial por ele.
America abre as portas, e eu entendo. Esse era o quarto de America na Seleção.
O quarto era lindo, e eu fiquei encantada com ele.
-- Ele é seu, agora. -- America disse.
-- Obrigada -- eu sorri para ela. -- É maravilhoso.
Ela sorri de volta para mim.
-- Eu vou chamar algumas criadas para te ajudar.
Eu assinto para ela, sem ao certo escutar o que ela disse. Fico distraída pela vista da sacada. Quando eu volto o meu olhar, America já não está mais aqui. Espera um pouco. Ela disse criadas? Por que eu precisaria de criadas? Olhei em volta e me deparei com a imensa cama no centro do quarto, e imediatamente fui em direção a ela, como se estivesse atraída por um imã gigante. Deitei-me na cama, confirmando minhas suspeitas: o colchão era incrivelmente macio. Eu parecia nas nuvens. O cansaço começou a me abater, apesar de serem apenas dez horas da manhã, e eu mergulhei em um sono profundo.
Quando acordei, os últimos raios de sol entravam pela janela , e eu abri um olho de cada vez, me deliciando com a sensação de sentir meus membros e minha mente mais leve. Revirei-me no colchão com uma risadinha escapando dos meus lábios, e gritei com o susto ao me deparar com três cabeças me olhando curiosamente.
-- Não se preocupe, senhorita! -- disse uma delas -- Não queríamos assustá-la.
Eu olhei confusa para elas, até reparar no uniforme preto e branco que conhecia muito bem.
-- É... Sim... Claro, quer dizer -- eu gaguejei -- estou um pouco sensível a esse tipo de coisa ultimamente.
A garota concordou com a cabeça. Era jovem, talvez um ou dois anos mais velha que eu. Os seus olhos verdes brilhavam e o cabelo ruivo estava preso firmemente em um coque, assim como as outras.
-- Eu sou Angel, senhorita -- disse a do meio. Ela parecia a mais velha das três, com os seus vinte e poucos anos. -- E estas são Lory e Catrina.
A ultima inclinou a cabeça em cumprimento, e seu cabelo era um loiro tão brilhante quando o de Angel.
-- Olá -- eu disse. -- Sou Gisele.
-- Nós sabemos. -- Lory riu.
Abri um leve sorriso para ela. Voltei a olhar a janela, que estava aberta, e o Sol começava a se esconder atrás dos muros do palácio. Dormi mais tempo que deveria. Me espreguicei e levantei-me da cama, buscando os lençóis na beira dela, e comecei a estendê-los. Angel se apressou em dar-me um tapa na mão, e eu olhei para ela, confusa.
-- Esse é o nosso trabalho, senhorita -- disse Catrina, já arrumando os travesseiros.
-- Uh... Me desculpem. É que eu me acostumei com isso. Alguns hábitos são difíceis de largar. -- mordi o lábio e olhei ansiosamente para elas.
-- A senhorita era uma... Seis? -- perguntou-me Lory.
-- Sim.
-- Estou surpresa. -- comentou Angel. -- o senhor Singer não costuma ser nada menos que detestável.
Eu concordei com a cabeça.
-- Mas ele está diferente.
Angel abriu um pequeno sorriso.
-- Fico feliz pela senhorita.
As meninas me ajudaram no banho, e isso é completamente estranho para mim, os papéis invertidos, perfumaram-me e pentearam os meus cabelos. Por fim, vestiram-me com um vestido cor creme que ia na altura dos joelhos, e admirei quando contaram-me que elas mesmas haviam o feito. Parece-me que já estavam a minha espera durante um certo tempo. Por quê? Pelo que me recordava, estávamos indo para a casa de Kota. Catrina entregara-me os sapatos, e eu lutei para me equilibrar neles. Lory ria das minhas tentativas frustadas de andar em linha reta sem cair.
-- Com o tempo a senhorita se acostuma.
Dez minutos depois eu estava pronta. O jantar foi servido e eu não tinha noção do quanto eu estava com fome. Parecia que havia séculos que não comia!
-- O que acha de irmos ao hospital? -- perguntou-me America. Eu concordei imediatamente com ela.
Quando chegamos, fui diretamente ao quarto de Kota, e me decepcionei ao ver que ele não havia acordado. A sua aparência estava um pouco melhor. America conversava com o Dr. Greene e olhava nervosamente para a direção de Kota.
Sentei-me na cadeira ao lado da maca e tomei sua mão na minha.
-- Por que você não acorda? -- sussurrei. -- Você é um péssimo príncipe encantado. Não pode me salvar e depois simplesmente me deixar. Não é justo. -- uma lágrima solitária correu pela minha bochecha, mas eu não me incomodei em limpá-la. -- Está mais para Shrek, mas eu não vou poder ser a sua Fiona, poderei?
Eu beijei a sua mão, e comecei a levantar, mas um aperto fraco nos meus dedos me fez parar no meio do caminho. Eu olhei para Kota, incrédula. Ele continuava de olhos fechados, mas seus dedos fizeram pressão nos meus novamente.
-- Kota? -- sussurrei.
Os seus cílios tremularam, e então, um par de olhos azuis brilhantes olhou para mim.
Kota.--------------------------------------------------------------------
Como prometido, aí está o capítulo!
E confesso que estou ficando boa em destruir sentimentos :')
Espero que gostem!
Comentem, votem (eu adoro estrelinhas) e aproveitem!
E agora, uma enquete:
Quem vocês acham que provocou o acidente?Beijinhos, e até lá.
• Paula L. Vinhal
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Encontrada
Fiksi Penggemar"Os livros são tudo o que tenho. É como se, todos os dias, me perguntassem com suas capas brilhantes: 'quem você quer ser hoje? Que mundo quer explorar? '. Os livros me traziam batalhas, romances proibidos, o limite do ser humano. Era muito fácil f...