Capítulo 52 - Os sacrifícios em nome de uma causa

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"Eu quero deitar e sonhar outra vez
Tocar, te ouvir, te sentir
E poder te dizer como eu amo você
Tocar o meu violão e te ver
Me pedindo pra viver por você. "

- Sonhanho, Bruno e Marrone.

***

Amélia

Eu me encolhi quando a ponta de um alfinete espetou a minha costela. O toque foi leve, mas me pareceu como se uma faca rasgasse a minha pele.

-- Desculpe-me, alteza -- disse o alfaiate.

Sorri fracamente para ele através do espelho. Ele puxou as laterais do vestido até que estivesse justo em meu corpo.

-- Três dedos desde o último vestido que costurei para a senhorita -- ele reclamou. -- Está tão magra que logo parecerá um vara-pau!

Gargalhei, sabendo que era verdade. Não liguei para as dores que subiram por minhas estranhas quando meu corpo sacudiu. No entanto, a expressão do homem se tornou séria.

-- O que eles estão fazendo com você?

-- Eu sou doente -- disse, dando de ombros como se não fosse nada. -- Isso cobra seu preço. Não vamos dissecar a situação, Louis.

O alfaiate lançou mais um olhar desconfiado na minha direção, mas não disse nada. Ele continuou a trabalhar nos detalhes do vestido, ajustando as partes folgadas e murmurando consigo mesmo sobre algo que poderia acrescentar.

Eu me lembrava do famoso estilista francês, preferido na minha corte e em várias outras da nobreza europeia. Recuperei sua lembrança no tempo em que passamos juntos na Espanha, ele atendendo as especificidades irritantes de Declan a respeito do meu vestuário. A memória de quando ele mostrava a língua para o espelho toda vez que Declan saía depois de uma inspeção do seu trabalho fez com que um pequeno sorriso desenhasse em meus lábios. 

Fiquei feliz pelo silêncio dele. Ultimamente, tudo parecia mais distante e mais pesado para suportar. As dores de cabeça ficavam cada vez mais fortes e constantes, e eu não conseguia segurar a comida no meu estômago por mais de uma hora. Sinceramente, não sei como sobrevivi ao dia anterior, sei apenas que acordei na cama, me sentindo um pouco melhor. Um médico fora me visitar naquele dia. O que eu não entendia... Por que esperar para me matar? Por que me envenenar, para então tentar me salvar?

Suspirei, desistindo de tentar entender.

Quando Louis me liberou, saí cambaleando pelo Palácio, me esforçando para não esbarrar nos criados que corriam atarefados para organizar os últimos preparativos da festa. Eu estava cansada de ficar trancada no quarto, cansada de olhar para os lugares e imaginar se aquilo era real ou não.

Adam me seguia como uma sombra. Eu ignorava, enquanto na minha mente eu repetia três palavras: não é real, não é real, não é real. Não importava o quanto eu tentasse me livrar dele, ele sempre estava ali, ao meu lado. Ele era o fantasma que avisava que a minha hora estava chegando e, por mais que eu quisesse conversar com um rosto amigo, eu não me permitia tocá-lo e sentí-lo.

E estava tão concentrada em não notar Adam que bati contra algo duro.

Recuei, erguendo a cabeça para encontrar o sorriso de hiena do rei.

-- Olá, princesa. Está correndo de alguma coisa? -- Ele olhou para atrás de mim, fingindo curiosidade.

-- Eu tentaria correr de você, mas acho que não estou em condições disso.

O sorriso voltou.

-- Ora, mas estamos entre amigos! Não se esqueça que você é a minha convidada de honra na nossa ilustre festa. -- Ele apontou para o corredor à nossa frente. -- Venha, tive uma ótima ideia para provar isso.

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