Uma luz ofuscante me tirou da escuridão.
Franzi o cenho e pisquei várias vezes, tentando dissipar a claridade. Vagamente escutei vozes e, aos poucos, a minha visão começou a tomar forma.
Estava em um quarto pintado na cor creme, com quatro cabeças me observando atentamente. Reconheci um homem,uma mulher,Maxon e ... America? O que eles estão fazendo aqui?
-- Gisele, pode me escutar? -- perguntou o homem, desligando a luz do que parecia ser uma espécie de caneta.
Assenti lentamente, incerta se conseguiria fazer com que algo saísse da minha boca.
A mulher começou a tomar notas, e agora que notei que ela usava uma prancheta.
-- Quem é você? -- perguntei, com um pouco de dificuldade. -- Onde estou?
-- Está no hospital, Gisele -- eu voltei meu olhar para America. Olheiras escuras marcavam o seu rosto delicado. Algumas mechas vermelhas caíram do seu penteado e cobriam-lhe o rosto. Ela afastou uma e a colocou atrás da orelha. -- há três dias.
Eu pisquei para ela, atônita.Olhei para Maxon, ao seu lado, e seu estado não era muito diferente do de America. Então o único motivo para eles estarem aqui surgiu em minha mente.
-- Onde está Kota? -- sussurrei. As cenas do acidente voltavam embargadas em minha mente, e eu tentava me lembrar o que acontecera a ele.
-- Está no hospital, também. -- eu comecei a me levantar, mas o homem me interceptou. Olhei feio para ele -- Em coma.
Isso fez com que lágrimas descessem pelo rosto de America, e eu deixei meu corpo cair contra o colchão duro da maca.
-- Em... Coma? -- gaguejei. Isso não podia ser verdade. Eu queria que todos eles começassem a rir e dizer que eu estava em uma pegadinha, que nada daquilo era real, e Kota entraria pela porta, forte e saudável.
-- Sim, -- respondeu o homem -- mas estamos cuidando dele. Eu sou o Dr. Greene, médico responsável por e você e pelo irmão de Vossa Majestade. Vou te examinar, e depois os policiais gostariam de fazer algumas perguntas, tudo bem?
-- Mas é claro que não! -- esbravejou America -- ela acabou de acordar.
Maxon colocou a mão no ombro de America, lançando um olhar a ela, que pareceu compreender.
-- Está tudo bem -- disse -- Obrigada.
O Dr. Greene olhou para America e Maxon, que assentiram e nos deixaram a sós.
O médico fez algumas inspeções rápidas, concluindo ao final que estava tudo normal.
-- Como se sente?
-- Quebrada. Parece que meu corpo foi jogado em um triturador.
-- Você passou por uma situação difícil, Gisele. -- ele rodeou a maca, parando ao lado da minha cabeça. Seus dedos pressionaram a minha têmpora esquerda, e eu gemi de dor. -- Certo. Vou aplicar um pouco de morfina para aliviar a dor, enquanto eu trato do seu ferimento na cabeça. Nada grave. Você teve sorte. -- ele sorriu calorosamente para mim -- além da sua cabeça, hematomas e alguns cortes, está inteira.
Eu não pude retribuir o sorriso. Não me sentia com sorte alguma.
-- E Kota? Ele vai ficar bem?
O sorriso do médico morreu em seu rosto.
-- Não sabemos. Ele está em estado crítico, podendo muito bem melhorar ou piorar de uma hora para a outra. Quando o trouxeram ele já estava desacordado. Eu sinto muito. -- ele lamentou. -- Assim que houver alguma mudança no quadro dele, você será a primeira a saber.
Concordei com a cabeça. Fechei os olhos com força, falhando miseravelmente na tentativa de não chorar.
-- O motorista da SUV também está no hospital?
Dr. Greene olhou confuso para mim.
-- Do que está falando? A perícia informou que só havia um carro na estrada, o seu, e que o motorista perdeu o controle do veículo.
Aquilo me deixou sem fala. Como não havia mais ninguém? O que aconteceu não foi um acidente. Alguém tentou nos matar.
-- Eu... devo ter me confundido. Bati a cabeça com força-- menti.
Dr. Greene assentiu, porém não acho que ele tenha acreditado.
-- A enfermeira Molly irá administrar os seus remédios, e a noite eu estarei de volta para verificar.
-- Obrigada. --limitei-me a um sorriso forçado.
Assim que o médico saiu, eu me permiti respirar novamente. A enfermeira que estava com ele desaparecera, como uma sombra. Ali, sozinha, meus olhos imediatamente começaram a inspecionar o local.
O quarto do hospital em que estava era bem espaçoso. Espaçoso até demais. Na parede do meu lado esquerdo, dois sofás cinza escuro formavam um L junto à parede. Mais ao fundo, perto da porta, estava um frigobar e, acima dele, uma grande TV de LED. Eu suspirei com aquilo. Era um luxo muito grande para alguém que estava em pré-coma. No lado esquerdo, uma mesa redonda de quartzo fazia companhia à janela, cujas persianas estavam fechadas, impedindo a entrada de qualquer luz. Porém, minha atenção caiu para o enorme buquê de flores em cima da mesa. As flores estavam escondidas pelos vários adornos do vaso.
Tirando o catéter do meu rosto, levantei-me lentamente, com uma careta de dor devido ao meu corpo dolorido. Desvencilhei-me dos vários fios, e um choque percorreu todo o meu corpo assim que meus pés descalços tocaram o chão. Ugh.O aparelho no meu dedo que verificava os meus batimentos cardíacos foi rapidamente jogado em cima da maca. Estou bem viva, obrigada. As agulha em minha veia provinham de um estranho aparelho, com dois monitores e vários teclados de comandos. Não me contentei em tentar entendê-lo.
Verifiquei atrás da máquina, constatando que o fio da tomada era extenso o suficiente. Ótimo.
Segurei em sua lateral, e tentei arrastá-lo atrás de mim. A resultante no meu braço foi imediata, e eu tombei para trás. Virei-me para a máquina, e tentei arrastá-la novamente, com mais força. Ela nem se mexeu.
-- Arrgh... Mas que... -- praguejei. Eu poderia parecer muito bem uma criança brigando por um brinquedo. COM UMA MÁQUINA. E EU ESTAVA PERDENDO.
-- Isso não vai adiantar -- eu pulei, pega em flagrante. Voltei-me para encontrar os olhos azuis cheios de diversão por trás dos óculos. A mulher estava escorada na porta, e de fato, aparentava ser muito nova. O cabelo louro estava puxado em um rabo de cavalo, e as roupas azul céu ficavam um pouco grandes nela. -- as máquinas são equipadas para se moverem somente com a autorização do cartão dos funcionários. Assim os pacientes não poderiam ficar perambulando por aí com agulhas e tudo mais.
Fitei o cartão pendurado em seu pescoço.
-- Ah, claro. Imagino que isso acontecia muito por aqui -- arqueei uma sobrancelha.
-- Pode apostar -- ela riu, me olhando inquisitivamente. Tardiamente percebi que ela estava querendo saber o que eu estava fazendo.
-- Hum... Eu... Estava tentando chegar àquele arranjo de flores. -- expliquei. A enfermeira seguiu o meu olhar, demonstrando compreensão. Ela contornou a cama a passou o cartão na máquina. Um clique foi emitido e eu consegui movimentá-la facilmente.
-- A propósito, sou a Molly .
-- Gisele -- agradeci. Cheguei à mesa e peguei o arranjo.
-- Eu sei.
Meus olhos espiaram dentro do adorno, e acho que parei de respirar por alguns segundos.
Gardênias.
Várias delas. O arranjo consistia na mistura de gardênias rosas e brancas, e seu perfume adocicado invadiu meus sentidos.
-- São maravilhosas. -- disse Molly -- ele com certeza tem bom gosto.
-- Ele? -- ecooei. -- Sabe quem as enviou?
Molly balançou a cabeça em negativa.
-- Apenas especulei. Elas não estavam aí quando eu vim pela manhã. Seja lá quem enviou, adivinhou o momento certo em que você iria acordar.
Ela estava radiante. Mas eu não podia compartilhar a sua felicidade. Ninguém sabia que gardênias são as minhas flores favoritas, nem mesmo Olinda. Sempre dissera a todos a minha preferência pelos lírios, quando perguntavam.
Alguém sabia muita coisa sobre mim.
E as flores não eram um presente. Elas eram um aviso.
•••
Molly colocou minha comida em cima da mesa, e eu lhe ofereci um fraco sorriso em agradecimento. Ela me deixara livre para andar pelo quarto, e a mesa serviu como um ótimo apoio para a minha cabeça.
Remexi a comida com desânimo, apesar dos roncos em meu estômago.
-- Você precisa comer -- disse Molly. -- Não vai me dizer que é anoréxica?
Olhei para ela com o cenho franzido. O que diabos é anoréxica?
-- Ok. Eu me rendo -- ela se senta na cadeira ao meu lado, apoiando o queixo nas mãos. -- O que há? Você supostamente deveria estar feliz por estar viva.
-- Me preocupo com Kota -- confessei.
Molly assente.
-- Todos se preocupam. Afinal, ele é o irmão da rainha. Você o conhece?
-- Sou a melhor amiga dele, desde a infância. -- disse. Não acho que a melhor forma de assumir o meu relacionamento com Kota seria para o hospital, e com certeza preferia que fizéssemos isso juntos. Se ele acordar. Sacudo a minha cabeça para afastar o pensamento.
-- Entendo. Mas não se preocupe, tenho certeza que ele vai se recuperar em breve. -- ela coloca a mão sobre a minha, em um gesto acolhedor. -- Agora por que não come um pouco?
Concordo com ela. O frango em meu prato estava apetitoso, e após terminar Molly me deu dois comprimidos, em seguida uma pomada para passar nos cortes do meu rosto.
Sufoquei um grito quando ela me emprestou um pequeno espelho, que carregava no bolso do macacão. Um grande hematoma se estendia abaixo do meu olho direito, e a minha têmpora esquerda assumiu um tom roxeado. Havia cortes dos cacos de vidros por todo o meu rosto, meus olhos estavam inchados e meu cabelo bagunçado.Eu parecia insana.
Apoiei a cabeça nas mãos e inspirei longa e profundamente. Me sentia fraca, as forças esvaíam do meu corpo e comecei a entrar em um estado grogue por causa dos remédios, a minha mente divagando entre a inconsciência e a realidade.
Por fim, adormeci.
•••
- Gisele, acorde.
Abri um olho de cada vez, para encontrar Kota em cima de mim, me fitando com olhos brilhantes.
- Kota?
- Estava esperando você acordar - ele sorriu - tenho muitos planos para hoje.
Eu franzi o cenho para ele. Não estava no hospital, tampouco na mansão Lavinsk. Era um quarto amistoso, com uma cama de casal no centro. As paredes eram pintadas em um tom cinza e pastel, e não haviam quadros ou pinturas expostas. Uma grande janela estava aberta, e a brisa fresca do mar estrava por ela.
- Onde estamos? - pergunto.
- Onde sempre deveríamos ter estado.
Kota se inclina e me beija profundamente, mas de um modo diferente, como se fosse a última vez. Sua boca se movia lentamente contra a minha, e ele abraçou minhas costas puxando-me mais perto.
- Eu te amo - sussurrou.
E então ele desapareceu, e eu fiquei sozinha novamente.
•••
Acordo gritando, e imediatamente tapo a minha boca, o suor corria por todo o meu corpo.
Acalmei a minha respiração e olhei ao redor. Ainda estava no hospital.
Molly havia tirado a agulha do meu braço, de modo que enfim, estava livre. O relógio na parede marcava 3:15, e na quietude do lugar, constei que era madrugada. Passei a mão pelo cabelo, tentando clarear a mente, e me levantei. Não me incomodei com o chão frio ou com o fato de a camisola não proteger quase nada do meu corpo.
Coloquei a cabeça para fora do quarto. O corredor estava vazio. Fechei silenciosamente a porta e caminhei na ponta dos pés, seguindo as placas da área da UTI.
Os leitos eram separados, mas não havia uma grande diferença de espaço entre um e outro. Eu olhava ansiosamente para cada um deles, e lamentava pelo seu estado assim que os encontrava. Por fim, encontrei cabelos de fogo em meio ao branco dos lençóis. Corri em direção a ele, e minhas mãos voaram para a minha boca quando o vi. Ele estava péssimo. Um tubo entrava em sua boca, enviando oxigênio a ele. A máquina cardíaca emitia bips constantes dos seus batimentos, e seu peito subia e descia regularmente. Ele possuía sonda e intravenosa ligadas ao seu corpo, além de uma agulha que lhe fornecia soro, hidratando-o. Suas mãos e braços estavam cheios de hematomas, e ele possuía um olho roxo.
- Kota... - sussurrei. O seu nome , aos poucos, se tornava um mantra em minha cabeça. Kota. Kota. Kota. O que eles fizeram com você?
Eu cuidadosamente me esgueirei para a maca, que era grande o suficiente para caber nós dois sem que eu o machucasse. Apoiei a minha cabeça em seu peito, e adormeci novamente, agarrando-me às firmes batidas do seu coração.•••••••
Um minuto de silêncio para esse capítulo, que destruiu os meus sentimentos.
Ok, passou. E aí está o capítulo quentinho para vocês... Espero que gostem.
Agora eu vou deixar as observações no final do capítulo, para não interromper a leitura :D
Enfim... Eu estou de volta! E com os capítulos grandes novamente! Yeah!
Comentem, votem, e por favor, não me matem.Kisses and tears,
Paula L. Vinhal.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Encontrada
Fiksi Penggemar"Os livros são tudo o que tenho. É como se, todos os dias, me perguntassem com suas capas brilhantes: 'quem você quer ser hoje? Que mundo quer explorar? '. Os livros me traziam batalhas, romances proibidos, o limite do ser humano. Era muito fácil f...