Capítulo 21 - Novos planos

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Perder a memória é como cair em um mar de esquecimento, onde você afunda cada vez mais, se afogando em seus sentidos, até virar refém de algo muito além do seu controle. O engraçado é que ninguém explica como é perder a memória, já que quem passou por isso não se lembra de coisa alguma, de fato. Apenas se, quem sabe, um dia suas memórias retornarem, para lembrar que talvez, se tivesse escolha, preferiria esquecer.
•••
Acordei com o suor escorrendo pela minha testa, o meu peito subia e descia rapidamente, enquanto aos poucos eu aliviava o aperto no travesseiro. Pesadelos. O som do estouro dos tanques de guerra ainda estava nítido em minha mente, e os gritos eram tudo o que eu estava sentindo agora. Os sonhos se tornam cada vez mais frequentes a cada dia que passa, e eu detestava admitir que eles pareciam bem reais para mim, até mesmo de uma realidade que poderia ter me pertencido. Nessas horas, ficava grata por estar em um quarto sozinha, e aliviada por a porta continuar fechada, impedindo que eu seja engolida por uma maré de perguntas.

Apoiei minhas mãos na cabeça na tentativa de me acalmar, até restar apenas o barulho da brisa entrando pela janela aberta. Os pensamentos que eu tanto evitava tiravam meu conforto, como um aviso de que aquilo seria inevitável. Eu era uma princesa. E um dia , se tudo desse certo, rainha. Eu estava dividida entre a responsabilidade de voltar e o sentimento de que eu não pertencia a esse mundo. Porém eu já estava envolvida, não estava? Tive que fugir para outro país, tudo para evitar que eu fosse morta. Não tinha como continuar fingindo de algo que eu já estava extremamente envolvida. Principalmente quando estou colocando a vida daqueles que amo em risco. Kota deixou sua família para me proteger, e não seria agora que eu iria desapontá-lo.

Todavia eu também não podia ficar no escuro. Esse tempo todo segui as ordens de Adam, sem ter de fato uma opinião verdadeira sobre isso. Se eu fosse continuar, que seja da forma que todos concordariamos com o próximo passo. Decidida, vesti um robe e fui em direção a porta no canto esquerdo do quarto do hotel, entrando rapidamente no quarto de Adam -- os três quartos eram compartilhados, separados apenas por uma pequena porta no canto de cada um -- para encontrá-lo dormindo profundamente. Observei-o por alguns instantes -- sem ter a plena consciência disso -- e quando consegui falar, chamei-o.

-- Adam.

O corpo jogado na cama não mexeu um músculo, me fazendo bufar de frustração. O relógio na mesa de cabeceira marcava 03:30. Até que não era tão ruim.

Com cuidado, subi na cama de Adam, parando ao seu lado, uma ideia travessa veio a minha mente, e eu mordi o meu lábio na dúvida entre fazê-la ou não. Um lado meu que eu não conhecia me dominou e aproximei minha boca do seu ouvido, sorrindo antes de gritar:

-- Alto lá, marujo! O que está fazendo, seu cabeça de bagre? É melhor voltar logo ao seu posto, o convés está louco para ser limpo, e se não fizer isso logo, eu vou te usar como pano de chão para depois te jogar na prancha! Que os tubarões deem um jeito em você!!

A minha voz não se assemelhou a de um pirata tanto quanto eu queria, mas foi o suficiente para fazer com que Adam pulasse na cama, com os olhos arregalados e olhando freneticamente para os lados. A cena hilária fez com que eu me jogasse na cama, segurando a minha barriga de tanto rir.

-- Amélia! -- repreendeu Adam, quando se deu conta do que eu tinha feito. Ele passou as mãos pelo cabelo enquanto eu continuava gargalhando, logo o meu corpo começava a doer, embora a minha vontade de rir não passou nem um pouco.

Quando me dei conta, Adam ja estava em cima de mim, me prendendo contra o colchão com o seu corpo. Aos poucos, minha risada foi sumindo, enquanto eu encarava seus olhos verdes.

-- Como nos velhos tempos, hm? -- ele perguntou, com um sorriso satisfeito nos lábios. Logo sua respiração estava batendo no meu pescoço, enquanto sussurrava -- Só que antes você já teria saído correndo.

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