Evitei Kota nesses últimos dias. Desde quando saímos da mansão, ele sempre está me convidando para fazer algo. Não posso fazer isso, de maneira nenhuma. Sou Seis, ele é Um e está noivo! O casamento é daqui a duas semanas e Violet fica mais insuportável a cada dia. Eu raramente vou à biblioteca e, quando o faço, não há ninguém em casa, já que agora Kota fica lá a maior parte do tempo.
-- GISELE!!!
Estremeci ao ouvir o berro de Violet. Subi até seu quarto e a encontrei andando de um lado para o outro pelo recinto.
-- O que deseja, senhorita?
Ela me olha, seu rosto vermelho igual a um pimentão. Fiquei imaginando se começaria a sair fumaça pelas orelhas dela como nos filmes que vi uma vez, que pertenciam à época muito antes da Terceira Guerra. Contive um riso.
-- Preciso que você vá com Kota ao castelo experimentar os bolos. -- Ah não. Franzi o cenho por um nanossegundo e isso foi o suficiente para a carranca de Violet aumentar.
-- É claro que você não é digna de sair desta casa, muito menos entrar no castelo. É apenas uma simples criada, -- as palavra de Violet perfuraram fundo meu peito. É isto o que sou : uma mera criada. Mas então outra coisa me chama a atenção. Violet não sabe que eu saí. Então, como Kota ou Olinda explicaram minha ausência?
-- Mas eu e meus pais temos um compromisso em Kent que não podemos faltar e só retornaremos na semana que vem. Não posso adiar isso. -- completou.
-- Senhorita, não pode mandar somente Kota? Ou a organizadora? -- passar um dia sozinha com Kota fez meu estômago revirar.
Violet fez uma careta e me fitou como se eu fosse algo extremamente bizarro.
-- Lógico que não! -- ela jogou as mãos para o alto -- A organizadora está ocupada com outras coisas e Kota tem péssimos gostos. Eu preciso de VOCÊ.
É estranho. Violet prefere mandar sua criada que despreza para o castelo ao invés de confiar no seu futuro marido. Todos os casamentos são assim? À base do interesse? A Seleção, pelo menos, foi uma exceção. Maxon escolheu America porque a amava, e o sentimento foi recíproco. America realmente teve sorte de viver esse conto de fadas. Fora dos muros do castelo a realidade é bem diferente.
-- A limusine estará aqui para buscá-los dez horas.
Assenti com a cabeça e me virei para a porta.
-- E ah, Gisele? -- voltei-me para ela, assim que coloquei a mão na maçaneta da porta -- use uma de minhas roupas decentes -- quando viu minha expressão de confusão completou -- eu sei que você pega minhas roupas que eu não quero mais, em vez de fazer o que mando e queimá-las.
Meu rosto perdeu a cor e fui incapaz de me mover. Violet passou por mim jogando seu cabelo louro por cima do ombro. Sobre o que mais ela sabe?
***
Fiz uma careta quando um grampo espetou meu coro cabeludo.
-- Desculpe -- disse Olinda.
-- Não se preocupe -- sorri para ela. -- Tem certeza? Acho que não preciso de um penteado elaborado. Além disso, podíamos mexer nas coisas de Violet?
Olinda havia pego alguns grampos para cabelo com enfeites e um colar com um pequeno pingente de safira nas coisas de Violet.
-- Ela não está aqui, está? E pelo o que me contou, ela te queria impecável hoje. -- o canto esquerdo de sua boca inclinou-se para cima.
-- Obrigada por me ajudar.
-- É um prazer querida. -- disse, ao colocar a última madeixa cor de caramelo atrás da cabeça -- prontinho. Você está linda!
Ela aperta meus ombros e me deixa sozinha na cabana. Me olhei no espelho de chão ao lado da cama. Uau! Se tivesse perdido minha memória e acordasse dessa forma, poderia jurar que era Dois. Olinda me aconselhou a usar um vestido azul céu. Ela colocou o pingente no meu pescoço e pequenos brincos, que eram dela, quando ainda morava da Itália. Eu estava com uma maquiagem simples, branca, e com um batom rosa claro. Sorri para o meu reflexo. Mal podia acreditar. Eu finalmente ia conhecer o castelo! E não deixaria a presença de Kota Singer estragar esse momento.
Encontrei Kota do lado de fora da mansão, usando um terno. Quando me viu, os cantos de sua boca se curvaram para cima.
-- Tem certeza de que não é uma Dois obrigada a trabalhar para a própria família? -- disse ao mesmo tempo em que abria a porta da limosine para mim. Olhei para ele com uma sobrancelha levantada e um sorriso bobo se formou em meus lábios.
-- Como você sabia que eu estava lendo Cinderela?
-- Passei a fazer um catálogo do livros que sumiam " misteriosamente " da biblioteca quando estava fora. E o último tinha sido esse. -- ele dá de ombros. Esse homem é louco. O meu primeiro impulso foi voltar correndo para a mansão, mas eu permaneci imóvel. Eu simplesmente não iria estragar meu dia. Será que ele sempre foi assim?
Quando ultrapassamos os portões do castelo, eu fiquei sem palavras. Nunca sonhara que um dia poderia entrar nesse castelo, mas isto está realmente acontecendo. Saí da limusine e olhei para cima, a fim de enxergar o topo das torres.
Senti a mão de Kota apoiada na base das minhas costas, enquanto ele me guiava para a entrada do castelo. O interior não era diferente do lado de fora. Simplesmente deslumbrante. Ao lado da escadaria principal, uma mulher nos aguardava.
-- Silvia -- sussurrou Kota em meu ouvido.
Acenei com a cabeça em concordância, e vesti um largo sorriso, que não era nem um pouco forçado.
-- Olá, minha querida -- cumprimentou Silvia, dando-me beijos em cada lado da face, para depois lançar um olhar duro para Kota. A relação deles não deve ser muito boa. Logo ela retorna a sua atenção para mim -- Estava ansiosa para vê-la. Não sei porque Kota nunca a trouxe para sua nova casa antes.
Fiquei atônita demais para responder.
Silvia pensou que eu ia me casar com Kota! Eu não sabia se ficava feliz por Silvia ter me considerado bonita o suficiente para me tornar esposa de Kota ou triste por ser comparada a uma Dois esnobe. Mas outro pensamento me atingiu: Violet nunca veio ao castelo. Por que Kota nunca quis trazê-la?
Comecei a abrir a boca para corrigi-la, mas Kota interrompeu, puxando-me mais para perto dele. Apenas naquele momento que notei que sua mão ainda permanecia em minhas costas.
-- Sim! -- ele soprou, a voz subindo algumas oitavas -- Desculpe, queria fazer uma surpresa a Violet.
Olhei para Kota, incrédula. Ele me ignorou completamente.
-- Então... Podemos?
Silvia olhou de Kota para mim, e depois para ele novamente.
-- Claro.
Kota não me liberou de seus braços em todo o trajeto até a cozinha. Enquanto isso, Silvia tagarelava sobre os detalhes do casamento e o quanto a família real estava ansiosa por isso. Mais uma vez dirigi meu olhar para Kota, mas ele vestia um presunçoso sorriso, e seus dedos acariciaram levemente o meu ombro. Ele parecia extremamente satisfeito.
Eu não entendi qual era o seu jogo, mas agora estava mais do que desesperada para sair dele.
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Encontrada
Fanfiction"Os livros são tudo o que tenho. É como se, todos os dias, me perguntassem com suas capas brilhantes: 'quem você quer ser hoje? Que mundo quer explorar? '. Os livros me traziam batalhas, romances proibidos, o limite do ser humano. Era muito fácil f...