" Será que tudo isso é em vão?
Será que vamos conseguir vencer? "- Legião Urbana, Será
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Na minha cabeça, eu tinha a impressão de que iria explodir. Mesmo de olhos fechados, a claridade que abrangia o meu quarto incomodava, me obrigando a reforçar a escuridão com os travesseiros.
-- Alteza. -- a voz chegou abafada aos meus ouvidos. -- Deveria tomar um banho frio, assim ficaria mais confortável...
-- Eu estou bem, Aimee. -- afastei os travesseiros apenas para que minha boca ficasse descoberta. -- Preciso apenas de um minuto.
Apenas isso. Infelizmente, meu desejo não foi atendido, visto que não demorou mais que alguns segundos para que a porta do meu quarto fosse aberta com força. Eu não podia ver, mas a minha imaginação fértil fez o trabalho de desenhar a cena das dobradiças sendo arrancadas de seus lugares.
-- O que está fazendo?! -- bradou Velásquez. Eu o xinguei mentalmente pelo barulho, multiplicado por dez de acordo com a minha dor de cabeça super sensível. Franzi o cenho por debaixo dos travesseiros, como se isso pudesse me trazer um pouco de alívio.
-- Shh, Declan... Assim até Barcelona poderá te ouvir. -- resmunguei, abanando a mão no ar. O travesseiro foi expulso do domínio das minhas mãos e eu abri os olhos em um reflexo, fechando-os imediatamente em seguida. Um gemido de frustração escapou pela minha garganta, e eu cobri o rosto com o braço. -- O que quer?
-- Você deveria estar na mesa do café quarenta minutos atrás. -- bufei em descontentamento. -- Agora tem exatos vinte minutos para estar pronta, esperando no hall principal. Preparei uma pequena surpresa para você. -- uh oh, isso não pode acabar bem -- Lembre-se de que eu não tolero atrasos.
Senti o colchão subir levemente com o peso do seu corpo saindo. Fiquei em silêncio por alguns segundos antes de perguntar a minha criada:
-- Ele já foi?
-- Sim, alteza. Por favor, vamos. Depois iremos dar-lhe alguns remédios.
Expulsei meu corpo para fora da cama, sentindo todos os meus músculos protestarem. Me obriguei a abrir os olhos, vendo o emaranhado de cobertas em cima do colchão e querendo mais que tudo poder voltar para elas.
-- Tudo bem. Eu estou bem. É só mais um dia comum. -- disse a mim mesma, mas a minha voz arrastada quebrou qualquer chance do meu discurso me fazer sentir pelo menos um pouquinho melhor. Passei as mãos pelo rosto, soltando um longo suspiro. -- Bem, querida Amélia, você não tem escolha.
☆☆☆
O maitre abriu as portas do restaurante para mim, oferecendo-me um pequeno sorriso. Com toda a sua gentileza e simpatia, foi impossível não retribuir. Ele me guiou pelas mesas, levando-me em direção ao segundo andar. Diferentemente das últimas vezes em que saí escondida, aquela era uma visita oficial, de modo que haviam guardas dentro e fora do restaurante, cuidando da segurança da princesa como se eles realmente se importassem com ela. Ignorei o segurança atrás de mim e sua mão no meio das minhas costas, pelo estado em que me encontrava, era bom garantir que eu continuasse andando.
O piso superior do restaurante era dividido em pequenas salas, cada uma isolada e com um jogo de mesa dentro, para conceder privacidade nas conversas. Todas estavam vazias, exceto por uma, no final do corredor, onde a porta de vidro estava fechada. Fui na direção dela, depois de reparar que teria que seguir sozinha dali. Os olhares tanto do maitre quanto dos seguranças sob mim me faria encolher automaticamente, mas eu reprimi os meus reflexos e me mantive ereta. Toquei a maçaneta da porta de vidro, abrindo-a.

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Encontrada
Fanfiction"Os livros são tudo o que tenho. É como se, todos os dias, me perguntassem com suas capas brilhantes: 'quem você quer ser hoje? Que mundo quer explorar? '. Os livros me traziam batalhas, romances proibidos, o limite do ser humano. Era muito fácil f...