Capítulo 15- Além das Fronteiras

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   Ergui a cabeça para aproveitar os primeiros raios de sol do dia, escorando-me no banco do Jardim do palácio. Por mais que eu tente, não consigo me livrar de Angel, Catrina e Lory. Pensei que, acordando cedo demais, elas não estariam ali, mas estavam. Fiquei imaginando como é ter que ser babá de alguém vinte e quatro horas por dia. Até eu tinha as minhas horas de fuga.
   Tirei a foto do pequeno bolso do meu vestido mais uma vez, isso já estava ficando comum para mim. E como sempre, suspirei ao vê -la. O que o garoto queria dizer com isso? Não reparei em seu rosto o suficiente para dizer que são a mesma pessoa. Apenas os olhos e o cabelo se assemelham... e a garotinha? Seria eu? Creio que Adam Lancaster seja o seu nome. Mas... Há quanto tempo essa foto foi tirada? E onde? Não me lembro do lugar, muito menos de Adam.
Tenho muitas perguntas e, infelizmente, encontrá-lo seria a única maneira de sana-las. Não contei a Kota sobre o meu encontro inesperado com um suposto amigo, e nem pretendo fazê-lo tão cedo. Preciso descobrir o que está acontecendo primeiro. Seria injusto, eu sei, mas não quero envolve-lo.
   Guardei a foto e fechei os olhos, esforçando-me para relaxar e... E...
   -- O que está fazendo no chão?
   Abri um olho e vi Kota em pé ao meu lado.
   -- Tentando arranjar uma posição confortável para pegar um pouco de sol.
   Kota riu.
  -- Isso é bom. Está muito pálida. -- ele diz, sentando-se -- mas não acha que a grama vai atrapalhar? Vai pinicar tudo depois.
    -- Esse é o menor dos meus problemas.
   Bufei, jogando meus braços para cima da cabeça, e Kota aproveitou para deitar em cima de mim, me mantendo presa.
   -- Quando vai me contar o que está acontecendo com você?
   Ele varreu o meu rosto com os olhos, e eu pressionei meus lábios um no outro como resposta.
  -- Acho que vou ter que te persuadir, então -- ele murmurou, para em seguida colar sua boca na minha. Eu tentei continuar com a minha boca fechada, os lábios em uma linha reta, mas Kota conseguiu abri-la, fazendo com que eu o beijasse de volta.
  -- Isso não vai adiantar -- murmurei contra seus lábios.
  -- Humm... Vou ter que arranjar outras maneiras então.
   De repente, Kota sentou sobre mim, com uma perna de cada lado do meu quadril. Suas mãos viajaram imediatamente para as minhas costelas, e eu guinchei.
   -- Kota! -- exclamei em meio as risadas. -- Pa... ra. Você... sabe que eu... não aguento -- falei sem respirar.
   Eu empurrava Kota na tentativa de tirá-lo de cima de mim, porém ele era muito pesado. Logo ele parou de me torturar com as cócegas e prendeu meus braços contra a grama, deixando seu rosto a centímetros do meu.
   -- Última chance.
   -- Eu juro. Está tudo bem. Estava apenas pensando em como seria... Além das Fronteiras. -- disse.    E não era de todo mentira. Apenas não era a causa das minhas perdições. Esse pensa mento acompanhou vários outros está manhã.
   Kota suspirou, e voltou a deitar-se ao meu lado.
   -- Já se cansou de mim?
   -- Claro que não! -- beijei o canto da sua boca -- Você é o meu Príncipe encantado.
   -- Pensei que era o seu Shrek. -- ele brincou.
   Eu apoiei-me em um cotovelo, olhando incrédula para ele.
   -- Você escutou?
   -- Cada palavra. -- ele fez o mesmo gesto que eu -- Todas as histórias, todos os dias. Você era a única que me tirava da escuridão. Eu tentava chegar até você... E então, voltava a cair.
   Ele sorriu, limpando com o polegar uma lágrima que escorria pela minha bochecha.
   -- E sim, você poderá ser minha Fiona. Sim, você poderá ser a minha Cinderela. Sim, você poderá ser a minha Bela. Na verdade -- ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. -- Você já é.
   Eu o puxei para mim, e caímos na grama. Ele mudou tanto. Quem diria que o ogro poderia se transformar em um Príncipe. Isso é algo que me enche e alegria. Mas eu também mudei. Talvez tenha ficado mais confiante. Não sou mais aquela menina que vive em um mundo de contos de fadas. Bem, talvez ainda seja. E é isso o que fazemos, mudamos um ao outro, cuidamos um do outro. Eu não desejaria outra coisa.

   Até então.

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Café leBlond, 1435, Centro, Angeles
Você sabe onde é.
Adam
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    Eu reli o bilhete mais uma vez antes de guardá-lo no bolso de trás da minha calça jeans, a única que eu tenho e que, por sorte, ainda serve. Usar vestido todos os dias, e ainda mais para ir a um lugar que você não sabe o que irá acontecer, seria completamente desfavorável. Coloquei uma blusa azul e um sobretudo que havia comprado ontem. O motorista do táxi ja estava a minha espera, e eu corri para o carro, antes que Kota notasse a minha ausência. Me sentia um pouco invasiva estando no Palácio, já que nem fazia parte da família real, mas nesse momento eu estava grata, ficar em uma casa sozinha com Kota seria muito mais difícil despista-lo.
   -- Café leBlond , por favor. -- disse ao taxista. Nunca havia andado de táxi antes, e o meu nervosismo tirou minha atenção até o motorista avisar que havíamos chegado. Eu não acredito. É o mesmo café em que Kota e eu fomos na primeira vez em que saí da mansão. Há quanto tempo Adam vem me seguindo?
    Escolhi uma mesa ao fundo do café, onde o ambiente era mais reservado, assim me sentia mais segura para poder conversar. Era estranho, parecia que eu estava em um dos meus livros de mistérios. Quer dizer, livros dos Lavinsk. Mas eu os considerava meus. Era a única a fazer companhia a eles nos momentos de solidão. Pensar naquela casa me fez sentir imensa saudade de Olinda. Não havia falado com ela desde o dia do acidente... Há duas semanas e meia atrás. Não é justo para com ela... Será que está bem?
   -- Olá.
   Eu prendi a respiração para não gritar, estava mais sensível desde o acontecimento do parque. E então Adam estava lá, sentado na minha frente com olhos de gato e cabelo recém cortado, além de um perfume que invadiu as minhas narinas, me parecendo familiar.
   -- Oi -- falei.
   -- Devia ficar mais atenta, eu podia ser um assaltante.
   Eu franzi o cenho para ele.
   -- Devia me dizer o que está acontecendo, ao invés de me repreender a cada dois minutos.
   -- Uou -- ele disse, levantando as mãos em sinal de redenção -- A gatinha aprendeu a arranhar.
  Eu me levantei da mesa, pegando o café em cima da mesa ao meu lado e me dirigindo à saída.       Adam se levantou rapidamente e segurou meu braço, impedindo-me de avançar.
   -- Desculpe. Podemos conversar?
   Revirei os olhos e tornei a sentar.
   -- Amélia...
   -- Gisele. -- o corrigi.
   Ele franziu o cenho por um momento, mas depois pareceu se lembrar.
   -- Certo.
   Arqueei uma sobrancelha para ele.
   -- Quero que saiba que você contribuiu para que, no mínimo, cinquenta nós surgissem na minha cabeça.
   Ele deu uma risada curta, doce, descontraída. O quê?
    -- Sinto muito por isso. Teria sido mais fácil.
    -- O que teria sido mais fácil? --perguntei -- Adam!
    -- Você não é quem pensa que é, Am... Gisele -- ele corrigiu. Franzi o cenho e me aproximei mais da mesa -- toda essa sua realidade, não te... pertence.
    -- Como assim? Adam eu...
    -- Estão atrás de você. O acidente de carro, não foi um acidente. -- sussurrou -- sabiam que você estava lá e mandaram te matar.
   -- Me matar? -- exclamei baixo -- mas por que alguém quereria me matar? Uma criada!
   -- Esse é o ponto! Você. Não. É. Uma. Criada. -- Ele falou pausadamente -- nunca foi. Tudo isso se tornou uma máscara para tentar te proteger. Estava dando certo até você sair da mansão. Eu te achei, e eles também.
   -- Espere, eles quem?
  -- Pouco importa agora. Você precisa sair de Illéa. Vamos para uma Ilha, ao sul do Pacífico. É improvável que vão te encontrar lá.
   -- Como posso sair do país com alguém que nem conheço? E quem eu sou, para tanto desejarem a minha morte?
    Adam respirou fundo, como se estivesse perdendo a paciência. Essa história não tinha pé nem cabeça, mas eu sentia que devia confiar nele.
     -- Você é Amélia Maria Castilho, herdeira do trono espanhol, e fugitiva do golpe Militar apoiado pela Federação Russa. Você é jurada de morte pois o povo espanhol acredita que está viva, e que voltará para expulsar a ditadura e assumir seu lugar como rainha. O ditador não gosta de ser ameaçado, então iniciou uma busca por você, e assim que encontraram, mandaram te matar.
       -- O-o quê? -- gaguejei.
    Minhas mãos apertaram em volta do recipiente de isopor. Baixei meu olhar para o copo em minhas mãos e tentei controlar a minha respiração descompassada.
    -- Então... Quem é você? -- sussurrei.
Ele respirou fundo mais uma vez, e me olhou nos olhos quando ergui o olhar para ele.
    -- Adam Lancaster. Seu noivo.
    -- Noivo?! -- gritei, para depois baixar a voz -- Você não pode ser meu noivo. Não não. Mesmo que tudo isso seja verdade, eu não posso ser noiva de alguém aos dez anos!
     -- Você me foi prometida.
     -- Perdão? -- franzi as sobrancelhas.
   -- Há dezoito anos nossos pais fizeram um acordo, para estabelecer a aliança. A primogênita Castilho deveria se casar com o herdeiro do trono de Portugal, assim que ele chegasse à maturidade. Assim, quando governassem, Espanha e Portugal seriam um único país. Mais forte. Mais influente. A Rússia não queria que os acordos se concretizassem, por isso apoiou os militares para um Golpe, bem sucedido.
   Eu balancei a cabeça lentamente.
   -- Como posso saber se isso é verdade?
   -- Os selos.
   -- Bem, de qualquer forma, esse documento não vale mais. -- apoiei uma mão em cima da outra na mesa, e tentei soar o mais calma possível. -- Não sou a princesa da Espanha, então você está livre para se casar com quem quiser.
    -- Você não entende...
   -- Não, eu realmente não entendo -- eu o cortei -- tentei manter a minha mente aberta, mas essa história toda é muito absurda. Como poderia saber que sou eu? Em oito anos as pessoas mudam bastante.
   Desculpe, mas eu preciso voltar.

   Disse e me levantei da mesa com um pulo, deixando o dinheiro em cima da mesa, como Kota fizera da última vez. Kota. Saí do café e olhei ao redor. Não iria pegar outro táxi, o Palácio se tornava cada vez menos atraente para mim, e também não queria ficar com ninguém. Apenas sozinha com os meus pensamentos. Viro em uma rua estreita, e escuto passos apressados atrás de mim.
   -- Espera -- Adam se aproxima de mim e me prende contra a parede, como fizera no parque, e me beijou. Os seus lábios moviam-se urgentemente contra os meus, e eu, estupidamente, retribuí.
   -- Se não confia em mim -- sussurrou com a boca ainda encostada na minha -- pergunte àqueles que te manteram presa todos esse anos.
   E desapareceu no meio da multidão.
   Deveríamos ter te deixado para morrer.

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Hi sweethearts!!

como estão? Capítulo novo para quem estava ansiosa para saber o que iria acontecer, hahaha

Bem, espero que gostem.

Votem (eu realmente amo estrelinhas) , opinem (haha) e aproveitem!!

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