Capítulo 49 - Aquela garotinha egoísta e covarde

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Violet e Kota

No instante em que Violet percebeu que conseguiria respirar sem sentir que estava sufocando, ela se desvencilhou dos braços de Kota e correu para o quarto. Kota a acompanhou e parou no portal, surpreso.

Violet jogou a grande mala de viagem em cima da cama king size, e foi até o closet, recolhendo roupas aleatórias e socando-as dentro da mala.

Kota franziu o cenho.

-- Violet?

Ela parecia fora de si: os cabelos revoltos; a face corada, banhada em suor, lágrimas e sangue; os olhos arregalados, com o ódio vívido brilhando neles e, principalmente, o medo. Kota engoliu em seco e se aproximou dela, os braços estendidos. Violet se afastou.

-- Não me toque -- ela passou as mãos pelo cabelo, os dedos se enroscando nos nós. Em seguida, pegou um cristal em cima da mesa de cabeceira e o atirou à parede.

-- Violet... -- ele tentou novamente.

-- Isso é tudo culpa sua! -- ela disparou. Kota arregalou os olhos, falhando um passo para trás. -- Se você... Se você não tivesse se apaixonado por ela, se não tivesse tirado Amélia daquela casa, não estaríamos nessa situação!

Os ombros dela subiram em um soluço, e ela levou a mão à boca.

-- Por que... Por que você não ficou satisfeito com o nosso acordo? Eu sabia que não gostava de mim, e o sentimento era mútuo, mas... Mas eu pensei que com o tempo, poderíamos criar uma convivência harmoniosa. Quem sabe até algo mais. -- Kota percebeu, naquele momento, que o casamento deles na Espanha era um plano antigo de Violet, e que seguiu conforme os pensamentos dela. Mas agora estava ruindo. Eles não conseguiram fugir da condenação, afinal. -- Eu devia ter proibido a relação entre você e Amélia. Proibido a saída dela daquela mansão. -- ela apontou um dedo na direção dele. -- Você não faz ideia do quanto lutamos para mantê-la escondida. Para assegurar que ela nunca mais retornasse à Espanha! Não contavamos com a perda de memória, mas ela serviu como uma bênção dos céus. Então você chegou e a tirou de lá, e colocou-a em situações que a fez se lembrar do que era, do papel que deveria cumprir. E, por causa disso, estamos todos condenados!

-- Se acalme, Violet, e seja racional. Você não pode sair do país, se é o que está pensando...

Ela soltou uma frase repleta de xingamentos.

-- Meu pai está morto no tapete da minha sala! -- berrou -- Morto! Porque estava tentando proteger a princesa! Eu não terei o mesmo destino que ele.

Ela fechou a mala e a arrastou atrás de si. Sentiu a fisgada no peito quando viu de novo o corpo do pai, jogado como se fosse um animal qualquer. Depois... Ela ligaria para a funerária pedindo para buscar o corpo do pai, e então para mãe, contando o ocorrido. Mas, no momento, ela só tinha forças para sair dali. Não importava para onde iria -- desde que fosse um lugar bem longe, onde Amélia Castilho e Declan Velásquez eram apenas mais dois nomes para esquecer.

Ela sentiu Kota pairar sobre suas costas.

-- Se fugir, Velásquez irá atrás de você. De mim. Não entende, Violet? Você sabe muito bem disso.Ele nos caçará de qualquer maneira. E eu me recuso a morrer fugindo. E me recuso a deixar você ter o mesmo destino.

Sem dizer nada, ela deixou a casa e lançou a mala no porta-malas do carro estacionado na garagem. Entrou pela porta traseira, e passaram-se alguns segundos para que notasse que estava sem motorista. Como se chamado pela força de um pensamento, Kota sentou atrás do volante e guiou o carro para além dos grandes portões de ferro da mansão. Eles não falaram, e Violet tampouco se incomodou a perguntar para onde Kota dirigia. Ela apenas se encolheu contra a porta, olhando a paisagem passar rapidamente do lado de fora -- a transformação do bairro dos nobres para as ruas movimentadas do Centro da cidade.

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