Capítulo 03- Existe um mundo lá fora, querida.

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Estava lavando as roupas de cama de Violet quando senti um olhar sobre mim. Ergui os olhos e avistei Kota Singer encostado na porta da lavanderia.

Pigarreio.

-- Senhor Singer, em que posso servi-lo? -- disse isso sem tirar os olhos da roupa.

-- Vim buscá-la para ir à cidade.

Eu congelei. Olhei para ele com os olhos arregalados, minha boca se abrindo e formando um "O". Ele não pode estar falando sério.

-- Eu... Eu nunca saí da propriedade. -- minha voz era um sussurro.

Kota mudou seu peso de um pé para o outro. Desconforto e choque transparecendo seus olhos.

-- Serio? Puxa, eu sinto muito. -- ele passou a mão pelo cabelo ruivo. -- Vamos? Já está na hora de sair.

Eu não pensei duas vezes. Sair era a coisa que eu mais queria na vida. Por um momento, me esqueci o porque de Kota me levar para sair.

-- Posso me trocar?

Ele se endireita, sua expressão ficou impassível. Mas... O quê?

-- Te encontro na entrada em dez minutos. -- e ele saiu.

Kota Singer é mais misterioso do que eu pensei. Me apresso em me arrumar e estou na porta principal no tempo estipulado.

-- Bonito vestido. -- diz Kota.

Eu ruborizei, e me repreendi mentalmente por isso. O que eu estava fazendo? Olhei para meu vestido cor de goiaba, que afina a cintura e sua saia é solta, terminando na altura dos joelhos. Olinda havia me dado esse vestido três meses atrás, como um presente de Natal. Ela mesma o fizera. Eu nem sabia como agradecer. Olinda é como uma mãe pra mim.Calcei uma sapatilha preta, de Violet. Não, eu não roubei. Violet estava jogando um monte de roupas e sapatos fora, ela queria que fossem queimadas, e, como vestimos o mesmo manequim, eu as peguei para mim. Perguntei para Olinda se havia problema, e ela disse que os Lavinsk nem iriam notar. Afinal, usamos aqueles vestidos preto e branco horrendos o tempo todo.

-- Vamos?

-- Claro.

Em frente à entrada, estacionada, estava uma enorme limosine branca. Kota abriu a porta e fez um gesto para que eu entrasse. Escorreguei pelo banco até estar encostada na outra porta, e fiquei admirada com o seu interior. É claro que eu já havia visto limosines antes, mas nunca tive a possibilidade de entrar em uma.

-- Gostou? -- perguntou Kota.

-- É maravilhoso, senhor.

Kota se vira no banco ficando de frente para mim, chocado.

-- Por que me chamou de senhor?

Olhei para ele, confusa.

-- Perdão?

-- Você não me chamou assim, quando me conheceu. Por que agora?

-- Meu comportamento foi inaceitável quando o conheci, senhor Singer.

-- Não, não foi. Bem, talvez. Eu é que lhe peço desculpas,er... Desculpe, eu não sei o seu nome.

-- Gisele.

-- Bem, Gisele, me desculpe. Agora, será que poderia me chamar de Kota?

Ponderei por alguns segundos.

-- Tudo bem.

A limosine avançou e, quando passou pelos portões que determinavam a entrada da propriedade dos Lavinsk, colei-me à janela do carro, como uma criança em uma loja de brinquedos. Eu finalmente estava saindo. O mundo lá fora se explodiu em cores e novidade. A casa dos Lavinsk era um pouco afastada do centro de Angeles, pelo que Olinda me dissera. O caminho até lá foi silencioso, enquanto eu observava tudo, absorvendo cada detalhe. Algumas vezes sentia o olhar de Kota sobre mim, mas eu estava tão admirada com tudo que não me importei.

Depois de alguns minutos, a limusine para e Kota me puxa para o lado de fora. Olhei em volta. Haviam pessoas andando de um lado para o outro, a maioria eram Dois. Varias lojas estavam enfileiradas com anúncios dos mais variados produtos. E, ao longe, o Castelo. Não era possível ver muita coisa -- por causa dos prédios e construções --apenas as suas majestosas torres, mas mesmo assim parei para admirá-lo.

-- Lindo, não? -- perguntou Kota. Acenei com a cabeça incapaz de falar. -- Venha. --ele me pegou pelo braço e me guiou pelas infinitas lojas que se se estendiam à nossa frente.

***

Kota me observava enquanto eu tomava meu chocolate quente. Depois de algumas paradas em lojas de casamento, ele decidiu levar-me para uma cafeteria.

Não dissemos nada durante um bom tempo, e eu desviei meu olhar para não ter que ver seus olhos azuis hipnotizantes. A fonte do outro lado da rua estava ligada e vários garotos -- da casta Três, eu suponho -- brincavam ao seu redor.

-- Você nasceu naquela casa? -- olhei para Kota, que arqueara as sobrancelhas.

-- Eu... Eu não me lembro -- busquei na minha mente algum vestígio de memoria em relação a isso. Nada. -- meu passado é como uma névoa para mim.

-- Ah. Não conheceu seus pais?

Balanço a cabeça negativamente.

-- Sinto muito.

Eu não respondi. Apenas voltei a bebericar meu chocolate quente.

Quando voltamos para a mansão, já era final de tarde. Violet estava ocupada com os assuntos do casamento e a senhora Lavinsk me dispensou. Segui em direção para o chalé, com Kota atrás.

-- É aqui. -- disse, virando-me para ele--Tenho que entrar. Ah, e... Obrigada por hoje.

Seu sorriso se iluminou.

-- Sem problemas. Gostaria de sair novamente amanhã?

O Quê?

-- Tenho que trabalhar.

-- Acredito que possa dar um jeito nisso.

Isso não vai acabar bem, meu subconsciente sussurrou.

-- Não, não posso. Desculpe. Você está noivo!

-- Mas... -- ele fez uma careta.

-- Desculpe. -- abro a porta e a fecho assim que entro. Mergulhei em direção ao chão, apoiando meus braços no joelho. Escutei seus passos, ele estava se afastando, e então, lagrimas começaram a escorrer de meus olhos.

Droga. O que está acontecendo comigo?

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