Capítulo 39 - Sonhos de ilusão

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"E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará..."

- Cecília Meireles

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Olhei para a televisão pela décima vez. A reportagem repetia na minha mente, martelando as informações como o som de um tambor. Durante toda a semana, os jornais se dedicaram a relembrar o ataque no restaurante, mostrando imagens e áudios pouco tempo depois da explosão. A quantidade de mortos era maior do que eu conseguia me lembrar; grande parte dos que não morreram na explosão da bomba vieram a óbito dias depois, por causa das infecções.

"Casas e centros comerciais também foram afetados, bem como o Centro Econômico Madrid, que se localizava ao lado do restaurante. A população está assustada e revoltada, os sentimentos alimentados pela perda de duas figuras importantes para a Espanha e para o mundo: Carlos de Sevilha, Duque da província e Chefe do Conselho, morreu na hora da tragédia, juntamente com Adam Lancaster, príncipe do nosso país aliado, Portugal. O rei Marco Aurélio ainda não foi a público e ordenou a devolução do corpo do filho para a terra natal. A princesa Amélia Maria Castillo também estava na reunião com os outros representantes. Para alívio dos espanhóis, a princesa sobreviveu e está internada no Hospital Saint Anna, onde permanece em estado de observação. O General e Imperador Declan Velásquez ordenou a busca pelos responsáveis, e a ASE..."

Lágrimas caíram involuntariamente. A foto estampada na tela que mostrava Adam junto comigo me trouxe o momento em que eu estava ajoelhada ao seu lado, segurando a sua mão enquanto o via morrer. A televisão foi desligada assim que Declan tirou o controle de minhas mãos. Ele jogou o objeto de volta para a cama, para depois se sentar em uma das cadeiras ao lado da maca.

-- Eu estava assistindo. -- murmurei. A notícia era novidade. Em um longo período de tempo, esse foi o máximo de liberdade que a imprensa conseguiu para falar das políticas governamentais, apesar de eu saber que eles não conseguiriam ir além daquilo.

-- E eu estava falando com você. -- seu olhar duro me fez secar o rosto e afundar na maca com os braços cruzados. Estava cansada de ele ficar controlando tudo o que eu faço. -- O laboratório entregou o resultado dos seus exames, logo o médico irá nos dar o diagnóstico.

-- Então poderei ir embora?

-- Não seja tola, Amélia.

É claro que não.

-- Vossa Majestade. -- o médico adentrou o quarto do hospital, fazendo uma pequena reverencia com a cabeça. Ele desviou o olhar de Velásquez e veio até mim. -- Alteza, como se sente?

-- Inquieta. -- respondi, remexendo-me em meio as cobertas.

-- Tenho certeza que logo irá se acalmar. -- o médico me ofereceu um meio sorriso. Ele abriu o envelope, retirando os exames e colocando alguns no colchão. Tentei decifrar o que estava escrito nas folhas, mas os números e gráficos fizeram a minha cabeça reclamar. O homem de branco franziu o cenho, repassando alguns papéis como se não acreditasse no que estava escrito ali.

-- O que houve? -- perguntou Velásquez.

-- Eu... -- Hesitou. Parecia não saber como dizer em voz alta. Inclinei minha cabeça para ele, e repousei minhas mãos no colo. A tensão estava me deixando ainda mais ansiosa. -- Nesses ataques, alteza, o que acontece?

-- Dores de cabeça, febre alta, dor em todo meu corpo, meus olhos ficam vermelhos e às vezes o meu rosto também. -- citei, me lembrando dos sintomas mais comuns. -- Por quê?

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