Capítulo 41 - Cartas na manga

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Gisele/Amélia

Uma picada incômoda fez com que eu levasse a mão ao pescoço. Meus dedos encontraram e rodearam o curativo, uma maneira de aliviar um pouco o efeito da injeção que havia recebido calorosamente ali. Nunca tive problemas com agulhas, as minhas crises alguns anos atrás eram suficientes para que meu encontro periódico com as agulhas não fosse dramático. Descobrira que havia uma exceção quando aquele objeto de tasqortura cravou seus males no meu pescoço.

Droga de exame.

Balancei a cabeça de um lado para o outro repetidamente, testando os meus limites. Um certo ponto transformou meu rosto em uma careta.

-- E então... Princesa, há algo na sua discordância?

Como reflexo, arregalei os olhos. Todos os quatorze membros do Conselho de Guerra olhavam-me atentamente, a maioria apresentava uma expressão carrancuda e descontente; a reunião estava durando horas, e ainda não havíamos chegado a uma conclusão favorável para a Espanha. Da maneira cansada em que estava, depois de passar a noite fazendo exames no hospital, minha atenção buscou seu próprio mundo em menos de trinta minutos depois que Declan começara o discurso. Olhei para ele em busca de apoio, mas o que ganhei de volta foi um leve arquear de sobrancelhas.

Ele também queria saber.

Mordi o interior da minha bochecha, incerta do que fazer. Eu nem sei sobre o que eles estão falando! Respire, Gisele, apenas respire.

-- Não, pode prosseguir. -- optei por dizer.

-- Na verdade, Alteza, gostaríamos de saber o seu posicionamento. -- engoli em seco quando Andrien Blanco atirou a sua resposta para mim. Ele deve ter visto toda a minha aflição, pois continuou segundos depois: -- Qual as suas medidas para evitar os novos ataques?

Os olhares de desdém foram demais para mim. Estava óbvio que duvidavam da minha capacidade, e uma coisa que nenhuma perda de memória ou o tempo foram capazes de desfazer era a minha mudança de humor. Detestava ser desafiada. Eles querem medidas? Eu lhes darei medidas!

-- Bem, o fechamento das fronteiras é a base de tudo. -- ponderei. -- Mesmo assim, eles conseguiram nos atacar novamente, desta vez no Banco Nacional. Os lugares escolhidos não são ao acaso e é preciso de muito preparo e planejamento para executar os atentados. O meu ponto é: se nós temos as armas, quem está oferecendo as deles?

-- Eles têm um fornecedor externo. -- disse Adrien, coçando a barba rala com a ponta dos dedos. -- É possível que nem sejam espanhóis, apesar da identificação como Liberdad de España.

-- Já fechamos as barreiras. -- falou um dos ministros. -- Nada entra ou sai do país.

-- Mas podem sair da cidade -- intervi. -- O tráfego interno ainda é livre e alguns voos comerciais conseguiram permissão para pousar no Aeroporto Internacional de Madrid nos últimos dias.

-- Onde quer chegar, Amélia?

O cenho franzido de Declan dizia que ele não tinha pensado naquela possibilidade. Podia imaginá-lo encaixando as peças do quebra-cabeça em sua mente, procurando uma saída para a situação. Confesso que fiquei assustada e surpresa quando fui convocada para participar da reunião do Conselho pela manhã. Declan tomou o cuidado de sempre me deixar de fora das reuniões, ocupando-me com diversas outras coisas. Era a primeira vez que via todos os membros sentados ao redor da mesa em formato de U, enquanto eu e Declan ficávamos no centro. Pensei que aquele seria o momento em que eu ficaria calada e apenas ouviria, assim, a minha inserção no debate me pegara completamente desprevenida.

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