Capítulo 2

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─ Olá, mamãe

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─ Olá, mamãe. ─ Meus olhos jorram lágrimas e nem ao menos consigo senti-las escorrer por meu rosto, nem dor eu consigo sentir, na verdade, nem sei o motivo do choro. Não sei o que devo sentir neste instante.

Eu simplesmente não sei.

─ Eu estou gravida. ─ Digo para mim mesma. ─ Eu estou gravida... eu não sei o que eu vou fazer. ─ Do jeito mais bruto me ergo e começo a caminhar por meu ateliê. ─ Respira, Mikaela. Respira. Você não pode surtar.

─ Eu sei que não é a hora, mas quem é o pai? ─ Rebeca pergunta, desconsiderando meu surto.

─ Nunca vou falar.

─ Como assim? Não vai contar para o pai? ─ Pietro questiona, ainda em choque.

─ Não.

─ Por quê?

─ Porque eu acabei de descobrir que estou gravida, estou dizendo as primeiras coisas que se passam na minha cabeça, estou imaginando como vai ser daqui para frente, como vou ser mãe e uma estilista viciada no trabalho ao mesmo tempo, estou focada demais em mim e na vida que esse bebê vai levar para começar a pensar no pai dele. ─ Grito histérica.

─ Mikaela Ferrarini Grávida? ─ Um homem de óculos chamativo fala, minha secretária arregala os olhos e tenta retirar o homem da minha sala.

Lanço um olhar para Pietro, que balança a cabeça de forma negativa.

─ Aquele homem é o reporte de uma revista de fofoca. ─ Pietro explica.

─ Amanhã meu nome estará estampado em todas as revidas com o título: mamãe da moda.

Meu corpo rende a gravidade. Desabo ao chão, em todo o meu caminho eu nunca fraquejei, sempre ergui meu corpo, sequei minhas lágrimas e enfrentei tudo, tudo mesmo. Enfrentei a morte, as humilhações, desaforos, mas agora, não, não tenho forças para enfrentar minha nova realidade. Eu nem sei o que fazer, se devo me levantar, se devo repousar, voltar para o Brasil, contar para o pai? É claro, ainda tem esse detalhe. Eu o ignorei durantes dias, semanas e agora não posso procura-lo e dizer: você vai ser pai.

O que eu vou fazer?

Empenho em sorrir. Levanto, pego minha fita métrica e aponto o dedo para a pequena plataforma.

─ Vamos voltar a falar sobre seu vestido?

─ Mikaela, não precisa se preocupar com meu vestido, você deve comer e descan

─ Rebeca, vou pensar no seu vestido porque não quero pensar em meus problemas, e talvez esse seja uma das minhas últimas peças a serem feitas neste mês, porque conheço Pietro e sei que ele vai me prender dentro do meu apartamento, proibindo que eu trabalhe feito louca, entende? Estou grávida e graças a isso vou ter que desacelerar, minha barriga vai crescer, eu não vou ver meus pés, os enjoos vão piorar, meu humor vai estar em constante mudança, e quero aproveitar cada segundo que tenho de sanidade, antes que a minha vida vire de cabeça para baixo. ─ Falo do modo mais rápido que minha boca consegue pronunciar cada palavra e quando fecho os lábios, respiro fundo, porque pedir todo o meu ar no desespero de falar.

Passamos no máximo duas horas conversando sobre o estilo de vestido que Rebeca deseja, ao contrário de mim, Rebeca não sabe nada, não sabe se quer vestido com mangas ou sem mangas, ser que algo simples ou algo extravagante, ela não sabe de nada. Como uma garota fica noiva e não idealiza a sua vestimenta? Em duas horas não consegui tirar nada concreto da boca da minha amiga, sou eu quem estou gravida, mas é a Rebeca que está em choque, e essa choque dela está me irritando. Por fim, consigo imaginar três estilos de vestido para ela e como ela não tem nada concreto na cabeça, decido colocar a ideia no papel.

Passo uma hora e meia desenhando o esboço do que eu considero um vestido perfeito, enquanto tento afundar no meu oceano de ideias, tem dois zumbis sentados à minha frente, esforçando para ler minha mente.

─ Preciso de ar. ─ Aviso. Sinto minha barriga revirar e torço para não vomitar mais uma vez. Pego minha bolsa e saio da sala, entro no elevador e quando as portas se abrem corro para o lado de fora, avisto uma lixeira e abaixo a cabeça dentro dela, vomitando um líquido amargo.

─ Mikaela. ─ Fecho os olhos com força. Arrependida de ter vindo para fora, as mãos dele roçam minhas costas e com preocupação fingida, pergunta. ─ Está tudo bem?

Ergo a cabeça plena, passo a mão pela boca e nem forço um sorriso, quando meus olhos se encontram com os dele.

─ Estou ótima. O que faz aqui, até a onde eu saiba seu trabalho é do outro lado da cidade. ─ Gui estica um lírio em minha direção, a mesma flor que forma o buque que dei a Rebeca.

─ Me arrependo do que falei e estou aqui para consertar as coisas. ─ Mordo os lábios e nego com um balançar com a cabeça.

─ Quando um espelho se quebra não há concerto para ele. Meu coração era um espelho e você o quebrou, não existe conserto para cacos de vidros. Adeus, Gui.

Tento passar por ele, mas ele para na minha frente. Se ajoelha aos meus pés e tira do bolso uma pequena caixa,  abre e vejo uma aliança.

─ Eu te amo, Mikaela. Eu disse aquilo na hora da raiva, tente me entender, você não me dava atenção, sempre chegava tarde, mal nos víamos. ─ Ele pega minha mão. ─ Eu a amo e quero passar o resto da minha vida com você.

Afasto minha mão de qualquer contato com a pele dele.

─ Você foi a minha festa com outra mulher, quer pedir alguém em casamento, peça a ela, porque não pretendo voltar para sua vida.

─ Mikaela ─ Suplica.

─ Estou grávida, Gui, e o filho não é seu. Do modo mais louco estou refazendo minha vida, vou ser mãe, tenho uma carreira a cuidar, tenho um bebê para criar e sou forte suficiente para fazer isso sem você. Estou refazendo minha vida, deveria seguir meu exemplo e esquecer nossos cinco anos juntos.

Passo por ele e o homem não tem nem coragem para olhar em meus olhos. Este é o problema dos homens, eles acham que nós mulheres vamos sempre os esperar, sempre estaremos de braços abertos para recebe-los, mas não sou assim. O passado para mim é algo banal e a única coisa que me importa é o futuro.

Ando alguns quarteirões, a cada passo meu corpo se torna mais pesado, minha cabeça doí e meus olhos vacilam, tudo gira e ouço uma voz familiar ecoar do outro lado da rua, tiro forças de onde não há, levanto os olhos e consigo ver a imagem de Nathan por pouquíssimo tempo. Depois, tudo fica escuro.

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