Capítulo 51

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Quarto branco, camisola verde e uma enfermeira que treme feito louca são as únicas coisas que consigo ver a cada vez que me esforço para abrir os olhos

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Quarto branco, camisola verde e uma enfermeira que treme feito louca são as únicas coisas que consigo ver a cada vez que me esforço para abrir os olhos. A jovem menina fala que tudo vai ficar bem, porém, seu semblante assustado, suas tremendo e seus olhos apreensivos não me passam segurança, o que deixa a situação ainda pior.

Mordo os lábios com força, sentindo gosto metálico inundar minha boca, minha pele está quente e meu corpo completamente soado. Quero um médico, mas o filho da puta não chega, ele só veio uma vez aqui para enfiar o dedo dentro de mim e dizer que ainda não está na hora.

Minha vontade foi de socar a cara dele. Não está na hora? Então me diz que merda de dor é essa? Alguém me explica se não está na hora porque meus olhos não param de chorar e minha barriga não para um segundo se quer de doer? Eu só quero que esse bebê nasça logo.

Minhas unhas cravam no travesseiro em busca de partilhar minha dor com alguém. A porta se abre e vejo a figura masculina novamente.

─ Como você está se sentindo?

─ Como você acha que eu estou me sentindo? Sentindo dor e levando deda de um médico que eu nunca vi na vida, com certeza eu estou super feliz. ─ A ironia sai facilmente por meus lábios e o médico a minha frente resmunga.
Gostaria de saber o que esses homens atuam nessa área, elas não sabem a dor de um parto, trata a situação com descaso e além de tudo, é desconfortante sentir um homem olhando para sua vagina o tempo todo.
Dedos entram em mim e quando abro os olhos para identificar a expressão do doutor, seus olhos castanhos fazem sinal positivo para a enfermeira.

─ Parabéns, seu bebê está chegando. Consegui senti-lo. ─ Direciona a voz sem emoção a mim. ─ A leve para a sala.

A cama começou a se mexer, saímos do quarto e entramos num elevador. Não pude observar o caminho, pois estava ocupada demais segurando gritos internos. Não vi muito do que aconteceu, uma hora vi alguns enfermeiros andando de um lado para o outro segurando instrumentos que me causaram arrepios, vi o vagabundo do meu médico se aprontar, colocando suas luvas e conversando sobre futebol com outro enfermeiro.

O homem se senta num banquinho, trava minhas pernas em suportes e passa algo molhado na região.

─ Olha Mikaela, sou apenas seu auxiliador é você quem faz todo o trabalho, quero que entenda isso, ok? Você está dilatada e a cabeça do bebê está próxima, mas preciso que você emburre. Use sua força e quando pensar em respirar, descansar, lembre-se que isso vai apenas complicar, nos fazendo ficar mais horas aqui, entende? ─ Afirmo, pretendo a respiração, sentindo aquela dor se agravar.

─ Ótimo, pode começar a empurrar.
Ele fala como se fosse tão simples.
Prendo a respiração e agarro nas laterais metálica da cama, uso tanta força que consigo sentir gotículas de suor brotar em minha testa, doí muito, sinto como se estivesse me cortando. Choro de dor, de raiva, de calor, eu simplesmente deixo meu corpo cair para trás e meu corpo ceder.

─ Ande, mulher, vamos logo. ─ Médico fala impaciente.

─ Quer que eu chame alguém para ficar ao seu lado? Vi uma moça perguntando por você. ─ A enfermeira que não parava de tremer é quem fala. Assinto e a garota sai da sala correndo, o médico a encara com cara feia, porém ela nem percebe.

Respiro fundo e continuo fazendo força.

As portas se abrem, Rebeca aparece usando uma roupa de hospital e uma touca protegendo os cabelos, ela se junta ao meu lado e segura minha mão.

─ Ele já tá vindo? ─ Questiona, esperançosa.

─ Acho que sim.

─ Faça força, Mikaela. ─ O médico ergue a voz.

─ Olha aqui seu idiota, quem você pensa que é para gritar com a minha amiga, não tá vendo que ela está toda acabada, então cala a sua boca e espera a hora dela. ─ Rebeca se vira para e aponta o dedo em meu rosto. ─ Vira mulher e coloca esse menino para fora, me ouviu bem? Vamos lá. Quando eu disser três você empurra com toda sua força.

Balanço a cabeça.

─ Três.

Empurro. Passo minha mão movendo minha barriga para baixo e quando sinto que meu corpo vai cedendo a dor e a falta de oxigênio, continuo, prendendo minha respiração e fazendo força, empurrando, empurrando e empurrando.

─ Isso aí, amiga. ─ Rebeca comemora, acariciando minha cabeça.

Algo me corta e de uma hora para outra, meu corpo descansa, a passagem fica mais fácil e consigo sentir um alívio. A dor como um passe de mágica passou e, um choro invade meus ouvidos. Rebeca pula gritando o nome do Théo e dizendo que ele nasceu, ela me parabeniza e, eu nem sei o que estou sentindo nesse momento. Meu corpo está processando, digerindo o que acaba de enfrentar.

Outro tipo de dor me atinge, só que essa é suportável, desconfortante, mas comparada a outra não é nada. Rebeca diz que o médico está me suturando e fico um pouco tranquila e mais calma em saber a dor que me atinge.
Rebeca coloca a mão na boca e seus olhos brilham, miro o lugar em que ela observa e meu coração se aquece. Meus olhos enchem de lágrimas de felicidade e meu corpo exala amor materno. A enfermeira coloca Théo em meus braços, a cara um pouco inchada e o corpo coberto por sangue, ele chora, mas não me incomodo, nem acredito que ele finalmente está aqui, em meus braços.

O meu menino, o meu Théo.

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