Capítulo 67

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─ Precisamos ir para a casa do meu pai

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─ Precisamos ir para a casa do meu pai. ─ Digo.

─ O que seu pai irá fazer?

Viro o rosto o suficiente para ver a angústia e o interesse em seus olhos, e isso me assusta, porque não quero estar ao lado do homem que comemora a morte de outro.

─ Fará o melhor para manter nossa segurança. ─ É a mentira que parei de contar a mim mesma, só que nessa situação, quero ao máximo enganar meu cérebro para ele não pifar.

Quietude e tranquilidade, sem som, uma mudez que acalma o ambiente, mas tortura a alma. Fizemos uma mala para nós, não sabemos quanto tempo vamos ficar, no entanto, não pretendo sair da casa do meu pai até ele ter um plano. Thomas também divaga em seus pensamentos, não tem nada a falar e talvez seja o melhor, conversas nesse momento não é a solução para alguém que ainda não aprendeu a lidar com o passado como eu.

Um funcionário sobe com a mala e a bolsa de Théo, minha mãe com o sorriso cativante e tranquilo pega o neto e desaparece, avisando que meu pai está conversando com Sebastian no escritório. Abro a porta de madeira com brutalidade, uma arma está sendo apontada para mim.

─ Vejo que chegou cedo, Sebastian. ─ Zombo da situação.

Ele retorna a arma para o cós da calça.

─ Olá, princesa. ─ Papai me cumprimenta. ─ Thomas, meu filho, poderia esperar do lado de fora, eu e minha filha temos assuntos a tratar. Sabe, assuntos de família.

─ Pai, Thomas é a minha família. ─ Expresso, pegando a mão de Thomas e o puxando para se sentar ao meu lado. Meu pai não fica curioso, um pouco tranquilo, só que conheço esses olhos e ele não vai envolver o Thomas nessa porra.

─ Fiz algumas pesquisar, Emanuel trocou seu nome para Stevan Silva um ano depois de acabar o ensino médio e sumiu do mapa por algum tempo.

─ Ele estava em Madrid. ─ Os três homens me encaram. ─ Nos conhecemos em Madrid, o que ele dizia ser um intercâmbio.

─ Isso significa que ele já estava de olho em você.

─ É o que parece.

─ Desgramado. ─ Meu pai esmurra a mesa.

─ O que vamos fazer porque eu sou um alvo só que agora ele também está de olho em Théo.

Thomas se enrijece.

─ Vamos mata-lo, não é tão difícil matar um homem, não é? ─ A precipitação de Thomas faz com que Sebastian deboche num sorriso branco, que o constrange.

─ É fácil matar um homem, só que depois que ele morre as pessoas começam procurar a porra do assassino, isso leva a morte de mais gente, entende?

─ A não ser que não tenha um assassino. ─ Falo alto.

Sebastian gesticula com as mãos preparado para ouvir o que se passa por minha mente, mas aprisiono.

─ Suicido não tem culpados, você mesmo já disse que seu pai fazia isso com as pessoas que ele queria que sumisse.

─ Verdade, mas temos que ter um segundo plano, porque ele cometeria um suicido? Temos que ter um contexto.

─ Porque não procuramos na casa dele? ─ Thomas sugere. ─ Ele seguiu o caminho dos pais, certo, então é um assassino e um psicopata, pessoas como essas gostam de ter algo para se lembrar das vítimas, ou algo, para contar vantagens sobre suas vitórias.

─ Não é uma má ideia. ─ Sebastian comenta. Afasta da mesa de madeira e bebo o líquido transparente em seu copo numa só golada, limpa as laterais da boca, aperta a mão do meu pai e dá um leve tapa nas costas de Thomas. ─ Emanuel assinou alguns documentos, vou ver o endereço e assim que tiver informações, mando mensagem para vocês.

As mãos dele pairam em meus ombros, seus dedos apertam minha carne, seu rosto aconchega próxima a minha orelha e sinto o cheiro da vodca inundar meu nariz enquanto os lábios rachados dizem:

─ Você vai superar essa merda também e o mundo vai voltar a ser marsala. ─ Minha mão direita acaricia sua mão, sorrio discretamente antes de retornar minha atenção para meu pai, que está afundando em águas amargas, sua pele sempre foi branca, mas agora é pálida ao ponto de conseguir ver as veias em sua testa. E seus olhos, seus olhos são a janela para sua alma abatida,temerosa, ele está destruído, finge ter forças, porém, é velho e está exausto de tudo isso.

Minha mãe me contou que ele quer se aposentar de todo os seus negócios, ele quer ter paz, descansar e curtir a família, só que este é o maior problema, necessitamos manter os membros da família vivos.

Ando até ele, passo atrás de sua cadeira e abraço seus ombros, beijando sua cabeça que começa a expressar seus fios brancos. Abertas meus braços, com tanta força que posso sentir que não é um abraço qualquer, seu corpo transmite ao meu o "desculpa" que seus lábios são orgulhosos demais para pronunciar.
Não sou boa em falar ou expressar o que sinto, tantos anos mantendo o que sinto só para mim meio que impede que eu acesser palavras reconfortantes para dizer em momentos delicados, por isso não digo nada. Por que não vou dizer que isso não é culpa dele, porque é. Não posso garantir que tudo vai ficar bem, porque não sei o dia de amanhã.

Não posso simplesmente falar para ele não chorar, porque às vezes tudo o que precisamos é deixar escapar a dor de nossa alma em forma de lágrimas. Não posso dizer palavras positivas, mas posso ficar aqui, aproveitando o carinho paterno, e demostrando ao meu pai que mesmo que ele tenha errado e as coisas estejam retornando ao presente, eu não deixei de ama-lo. Eu não deixei de vê-lo como meu herói, não esqueci que usou todos os seus esforços para me proteger.

Ele é o meu rei, não digo isso por ele me chamar de princesa, digo por ele sempre está protegendo o seu reino - a família - e está 100% das vezes cuidado e acreditando em mim, é isso o que um rei faz, ele cuida do seu reino e daqueles que o certa, não importando qual adversário irá destruir.

─ Eu te amo, pai.

─ Eu te amo, minha princesa. Não se preocupe, isso irá acabar logo.

─ Eu sei.

O clima deprimente acabou quando minha mãe trouxe o netinho sorridente. De imediato meu pai se transformou em outro, limpou o rosto e fui de encontro do menino que inclinou o corpinho para ir para o colo do vovô. Meu pai nos chamou para irmos para a sala com eles e assim fizemos, passando um tempo em família. Papai começou a cantar a música da galinha pintadinha que Théo ama enquanto minha mãe balança os bichinhos de pelúcia e faz careta para o menininho que gargalha como se estivesse vendo o show de comédia mais engraçado do planeta.

Aconchego meu rosto no ombro do meu namorado que alisa minha coxa, seus olhos estão focados na cena dos avós se divertindo com o neto, só que não tenho muita certeza se sua atenção permanece aqui. Ele está aéreo, gostaria de saber o que se passa em sua cabeça, ou talvez não. Tenho pena de Thomas por estar lidando com tudo isso, sei que sou estranha e desde que nos conhecemos me comportei como maluca que gosta de curtir a vida, depois veio os traumas que ele com toda paciência esforçou para me ajudar a superar, e por fim, eu dizendo que não o amo e indo embora da vida dele, anos depois mais confusão, uma reconciliação e agora, isso. Às vezes questiono se Thomas não pensa em me largar e viver uma vida mais normal, com alguém normal, quero que ele seja feliz e não me importo que seja longe de mim, só não quero que ele se sinta acorrentado a mim por causa do Théo.

Eu só não quero destruir a vida dele, eu quero que ele seja feliz... tenho medo de não o fazer feliz, pelo contrário, temo arruína-lo.

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