Capítulo 21

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Encosto meus punhos na bancada de mármore, os pressiono com força suficiente para a pressão em meus ossos chegarem a ser dolorosas

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Encosto meus punhos na bancada de mármore, os pressiono com força suficiente para a pressão em meus ossos chegarem a ser dolorosas.

Mordo os lábios, contendo a frustação, a raiva e o tudo, tudo que guardei dentro de mim, tudo que tranquei num baú quando Mikaela se foi e agora que ela voltou, as lembranças, o passado e o sentimento de antes sai de um a um daquele baú. Guardei no baú os sonhos que pretendia viver ao lado dela, mas devia tê-los destruídos e não trancados. Tudo que está trancado um dia se liberta, e eles estão de pouco a pouco voltando e da mesma maneira que Mikaela pisou neles lá atrás, sei que pisará de novo.

Abro a geladeira e os armários, todos estão lotados me dando várias opções para um café da manhã. Penso e repenso e recordo das vezes em que Mikaela dormia em meu apartamento, boa parte das vezes ela me chantageava para fazer bolo de cenoura com calda de chocolate, nunca consegui entender como essa menina conseguia comer tanto doce na parte da manhã.

Separo os ingredientes na bancada e começo a preparar.

Não é que eu seja um mestre cuca, porém, a medida que o bolo assa o cheiro exala por todo o apartamento e está delicioso. Fazia tempo que não cozinhava, devido ao trabalho e as várias consultorias que tenho fora da cidade sempre estou cansado demais para ir para cozinha, mas sentia falta de pegar nas panelas e de sentir orgulho quando provo minha comida e vejo que além de bonita ela é gostosa.

Comecei a morar sozinho aos 16 anos, minha mãe surtou na época, ao contrário do meu pai que comprou um apartamento e colocou as chaves em minha mão e acenou, dizendo: vai com Deus. Muitos vão dizer que ele não me amava ou queria se ver livre de mim, porém, não, foi por ele me amar que realizou minha vontade. Meu pai me fez ser independente, forçando que eu aprendesse o valor do dinheiro, o quanto custava manter uma casa e foi uma loucura me adaptar e recebendo uma mesada curta para cobrir gastos demiti a governanta e comecei a fazer as tarefas domésticas e aprendi a cozinhar, no começo comia arroz queimado todos os dias, mas depois de um tempo comecei a pegar a manha da cozinha. Como não recebi muito dinheiro do meu pai na época tive que dar meus pulos, foi nessa época que comecei a usar tudo que meu pai havia me ensinado sobre administração e sobre investimentos na bolsa de valores, além de fazer investimentos, comecei um pequeno negócio na escola, administrava o dinheiro e as contas dos meus amigos festeiros, os pais deles propunham uma certa quantia que eles podiam gastar, mas os idiotas sempre ultrapassavam e ganhavam um castigo, e era nesse momento que eles me procuravam, para não serem mais castigados e privados dos luxos, eles me davam acesso aos seus cartões e seus gastos, e minha função era mantê-los nos limites e consegui. Cobrava três mil para cada cliente e foi desenvolvendo essa mentalidade que ao assumir a empresa do meu pai a coloquei no primeiro lugar, não só como um escritório de contabilidade importante, mas destacando os conselhos financeiros e aplicações seguras na bolsa de valor de todo o país, e até me arrisco às vezes nas dicas de estratégias financeiras nas bolsas de valores fora do Brasil.

Durante esses anos eu fiz uma pergunta a mim diversas as vezes, no entanto, não conseguia responde-la e hoje eu me faço essa pergunta novamente: Por que o dinheiro que eu faturei, as viagens que fiz, as mulheres com quem dormir jamais foram suficientes para proporcionar minha felicidade?

Não estou reclamando da minha vida, mas sempre questionei o que faltava. Um dia eu até interroguei meu pai perguntando o que era a coisa que o fazia se sentir completo quando tinha minha idade e a resposta dele, me perturbou, na verdade, me fez sentir inveja ou algo que se assemelha a ela.
"O dinheiro é importante, meu filho, mas é eventual. Você pode ser rico hoje e amanhã não ter nada e exatamente por essa razão que muitas pessoas ricas têm depressão, vivem afundadas em bebidas ou em drogas, porque não adianta ter dinheiro e não ter ninguém para compartilhar. O dinheiro é bom, porém a segurança de acordar rico ou pobre com uma mulher que te ama do lado, te completa."

Coloco o bolo para esfriar, ando pelo apartamento de Mikaela e noto o vômito perto da porta, procuro pelos produtos de limpeza e limpo o local, o vômito dela é completamente água, o estômago dela está vazio. Guardo os produtos e lavo minha mão no banheiro, ouço um barulho estranho, analiso cada detalhe minuciosamente, e encontro uma luz acendendo em minha calça jogada no chão.

Quatros ligações da minha mãe e uma mensagem enfeitam a tela.

Mãe: Como foi? Conseguiu falar com ela, resolveram tudo?

Eu: Ela me deixou acompanhar a gestação, mas tem muitas outras coisas que ela não quer discutir. Eu disse que não ia sair daqui até resolvermos tudo, mas sabe como Mikaela é teimosa, de acordo com ela eu teria que morar aqui e mesmo assim não resolveríamos nada.

Mãe: Talvez você devesse fazer isso mesmo.

Eu: Está louca! É capaz de Mikaela me matar enquanto durmo.

Mãe: Ninguém mata quem ama, Thomas.

Eu: Mikaela não me ama.

Mãe: É isso o que ela quer que você pense. Faço um favor para si mesmo, meu filho, quando estiver na casa dela suba para o segundo andar e entre no último quarto, ela passou horas lá e a vi escrevendo alguma coisa e seu nome estava no meio. Tente encontrar esse papel e você verá que ela te ama, sim.

Subo os degraus calmamente, torcendo para Mikaela não me ouvir. O primeiro quarto que encontro está vazio, o segundo a direita apresenta escuridão e a forma feminina dormindo abraçada em seu travesseiro.
Involuntariamente sorrio.

Adentro o último quarto e não há móveis só caixas. Ajoelho e abro uma delas, encontro meias azuis, roupinhas de bebês azuis e, no fundo, uma foto da minha mãe descabelada e vermelha, vestindo uma roupa de hospital e em seus braços, eu. São minhas coisas de quando era bebê. Abro a segunda caixa e vejo roupinhas rosas, livros falando de gravidez e uma roupinha com coroas em cima de um M. Essas são as coisas de Mikaela.

Esfolheio um livro com o título: Somente nove meses.

Na primeira página reparo na caligrafia do pai de Mika.

Passo número um: leia esse livro.

Passo número dois: mantenha a calma.

Passo número três: não contradiga sua mulher, senão ela vai mata-lo.

Passo número quatro: assista algum tipo de parto para você ter certeza que não vai desmaiar na hora que for sua vez.

Passo número cinco: não morra.

Passo número seis: oitavo mês é assustador, mantenha a calma e não exploda.

Passo número sete e o último: dê o melhor de você para ser um grande pai.

Não foi assim que imaginei que minha família aumentaria, mas apesar de todos os seus erros, você é um bom garoto. Cuide da minha princesa e não deixe que ela te assuste, pois, acredite, se ela for igual à mãe, você vai desconhece-la.

Achei que ele me odiasse, mas no fundo fico feliz que estejam apoiando e nos dando força.

Procuro pelo capítulo um do livro e uma folha cai. A pego e as letras perfeitas que parecem ser desenhadas invadem minha visão.

Nomes para o bebê

Masculinos:

Théo.
Thales.
Thomas.

Paro de ler ao encontrar meu nome. Ela pensou na ideia de colocar o nome do nosso bebê em minha homenagem.

PositivoOnde histórias criam vida. Descubra agora