Capítulo 66

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─ O que está acontecendo

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─ O que está acontecendo.

─ Precisamos ir para casa do meu pai. ─ Alerto, saindo de seus braços e levantando-me, dando uma volta pela sala sem saber em qual caminho seguir, somente quando meus olhos focam a escada que sou capaz de discernir o rumo que tenho que tomar.

Pego as roupas de Théo e as enfio numa bolsa, vou para meu quarto e arrumo algumas peças de roupas para mim, Thomas sobe com Théo em seus braços e eu tenho vontade de me esconder. Não quero que meu filho me veja dessa maneira,fraca, perdida, eu não sei o que fazer com toda essa situação.

Thomas entrelaça nossas mãos e me guia para me sentar na cama, Théo em seus braços ergue as mãozinhas para me tocar e o acolho. Abraço o meu bebê com todo amor que há em meu ser, com toda proteção que posso fornecer nesse momento. Beijo seus cabelos negros jurando para mim mesma que nada vai o machucar, nem que para isso eu tenha que sujar as mãos de sangue, ou que eu tenha que morrer.

Thomas me puxa para sentar no meio de suas pernas, encosto meu troco em seu corpo, seus braços envolvem a mim e oThéo que continua em meus braços. Há um conforto momentâneo, só que os braços de Thomas não é o suficiente para proteger nossa família.

─ O que está havendo, Mikaela? ─ A agonia destila por sua voz, e sei que não posso mais fugir da verdade. Ele precisa saber e eu preciso contar, dividindo esse fardo com alguém.

─ Lembra do Silva?

─ Seu motorista?

Tenho que engolir o choro junto com as lembranças que chicoteiam minha mente.

─ Meu pai lançou uma matéria de primeira capa, envolvendo o escândalo na família Magalhães, ele havia traído a esposa e batido nela, por ela ameaçar a pedir o divórcio, meu pai teve acesso a estas informações, as publicou na primeira página da revista. O senhor Magalhães foi atacado de diversas maneiras e perdeu muitos investidores, além da polícia começar a investigar o relacionamento matrimonial e confirmar a violência doméstica ─ respiro, sabendo que essa é a parte que minha vida vira de cabeça para baixo. Sabendo que eu paguei por erros que eu não cometi, eu fui uma vítima de uma vingança. ─ ele decidiu se vingar do meu pai, contratou um assassino de aluguel – o Silva. Mas claro, o homem não matava por dinheiro, era por prazer. Silva poderia ter me matado, ele dirigia todos os dias comigo no banco de trás, poderia ter acabado com o joguinho dele em semanas só que, era um psicopata, preferiu foder com a minha mente.

Quando descobrir a identidade dele, entrei em uma crise, pois aquele homem que conversava comigo todos os dias e sorria, poderia ter me matado, ou me levado para longe e ter se aproveitado de mim, cortando meu corpo, me torturando fisicamente... recordo de quando meus pais saiam para viajar, quando a cozinheira ia embora eu me trancava em meu quarto e não saía até ela retornar de manhã para preparar meu café. Lembro-me das noites em que acordava com as luzes do corredor acessas – e eu estava sozinha em casa, era o que eu achava – recordo de ouvir a maçaneta girando lentamente e às vezes ouvir os passos pesados frustrados retornando escadas a baixo.

Passava o restante destas noites trancada no banheiro chorando de medo. O pior eram as cartas escritas com sangue de animal, as encontrava no meu armário da escola, na minha mochila e a última apareceu quando meus pais estavam fora de São Paulo, cheguei em casa depois de um passeio com as minhas amigas e não havia ninguém, a cozinheira estava fora e também não havia seguranças na casa, ao entrar no meu quarto me deparei com uma boneca igualzinha a mim com um corte na garganta e ao lado, a carta que dizia:

A princesinha Ferrarini vai terminar igual à Maria Antonieta, sem a cabeça.

Sai de casa com um temporal horrível, mas preferia ficar na rua do que na minha própria casa, desde aquele dia passei a viver mais na casa do Thomas do que na minha, porque eu não me sentia mais segura, não sentia que ali era meu lar, sim uma prisão que a qualquer momento eu seria morta. Cheguei a dormir com facas debaixo da cama, e quando me pai descobriu surtou, dizendo que caso acontece-se algo o agressor usaria minha arma contra mim, e no final estava certo. Silva era bem maior que eu, seus braços eram compostos por enormes músculos, o mínimo que eu conseguiria causar a ele seria um leve arranhão, nada mais.

─ Ele tinha acesso a tudo. Ao meu quarto, a minha escola, a minha vida, era perfeito para os joguinhos diabólico dele. ─ Thomas aperta-me contra seus braços. ─ Meu pai pediu um favor ao pai de Sebastian, foi ele quem identificou o Silva. Os dois tramaram um golpe, colocaram cocaína no carro dele e um polícia o parou, e o prendeu no mesmo instante, não precisou ir para o presídio ou ter um julgamento, meu pai pagou um polícia para executá-lo no dia seguinte.

Seco as lágrimas para não molharem o bebê que dorme em meus braços.

─ Eu tinha certeza que o cara estava morto, eu só não sabia quem ele era. ─ Thomas deixa escapar, beijando meus cabelos. ─ Eu sinto muito, amor.

Eu também. Quando recebemos a notícia da morte do Silva, meu pai festejou, seus olhos exibiam muito alegria... eu não estava feliz, a morte de alguém não deveria ser comemorada, mas estava tranquila, pois podia dormir em minha cama sem ter medo, sem trancar as portas, só que não foi bem assim. Ele poderia estar morto com uma bala na cabeça – eu vi a foto dele morto – só que os meus medos ainda não estavam. Agora nos meus pesadelos não eram uma sombra me ameaçando de morte, era o motorista que eu desabafava todos os dias, que batia na minha cabeça com uma pá, me decapitava ou me enterrava viva, pesadelos frutos das cartas que recebia.

Num dia vasculhando os documentos do meu pai, encontrei a fixa de Silva, dizendo sobre ser um assassino, as pessoas que matou e a lista dos seus familiares, ele tinha um filho, Emanuel era o nome do jovem da minha idade. Imaginava como o garoto se sentia com a falta do pai, perguntava a mim mesmo se ele iria superado a perda, e hoje eu sei que não, ele não superou. Pelo contrário, ele está aqui terminando o trabalho que o pai dele não acabou. E olhando em seus olhos, convivendo com ele, notei que eu não sou o seu alvo, continuo sendo a vítima, o objeto desses psicopatas é o meu pai, só a morte é pouco, eles precisam arrancar o que ele ama, nesse caso, a família.

Dá para entender a vingança, meu pai tirou a família dele, e ele quer acabar com a do meu pai, como se quisesse imitar o justiceiro, ele fez uma homenagem ao pai, Stevan Silva, o que no começou eu pensei ser um simples sobrenome brasileiro, escondia os chifres do diabo.

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