Capítulo 61

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MikaelaAmanhece, escurece

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Mikaela
Amanhece, escurece. O sol chega e a lua some. Os dias se passam agressivos, não dando liberdade para experiências novas, prendendo nossos corpos na música monótona que nunca finaliza, que nunca muda.

Vinte e dois dias passaram, e o que foi que mudou? Nada.

Thomas e eu somos estranhos dividindo a mesma casa, quer dizer, éramos dois estranhos dividido o mesmo teto, ele se mudou ontem à noite, logo após de colocar Théo para dormir. Durante estes 22 dias, não trocamos uma palavra se quer, ele magoado, eu, chateada. Ele com raiva por eu ignora-lo, eu furiosa por suas atitudes imprudentes. E quando chegou ontem a noite, eu senti que uma parte de mim, quebrou, como se Thomas houvesse colocado uma parte do meu coração no meio de suas malas, como se ele tivesse levado um pequeno pedaço de mim junto a ele.

Também visitei Stevan durante esses dias. Nas primeiras semanas nossos assuntos percorreram os vários âmbitos da diversidade, só que durante as últimas semanas, Stevan com perseverança, lutou para descobrir como é a minha família, só que não entreguei nada de bandeja, e em algumas horas consegui ver raiva em seus olhos. Só não entendo, por que tanto interesse em minha família, em meu passado.

─ Está distante, aconteceu alguma coisa? ─ Stevan pergunta, estalando seus dedos a frente dos meus olhos, arrancando-me dor mar de confusão que minha cabeça é. Durante este mês estou vindo ao hospital quase todos os dias para visitar Stevan e certificando-me que ele não abriu a boca para a polícia, e esta situação começou a desgastar meu psicológico, além do mais, meu coração aperta todos os dias antes de deixar Théo na casa dos meus pais. É horrível ficar longe dele.

─ Não, quer dizer, Thomas saiu de casa.

─ Sente falta dele?

Sim.

─ Não. ─ Minto. ─ Sua família veio de visitar? ─ Mudo de assunto, acomodando-me na poltrona ao lado do homem que aparenta um semblante melhor. Os roxos começaram a clarear, os olhos conseguem se abrir e os lábios desincharam, dando a ele o aspecto saldável e sexy que ele sempre demostrou.

─ Sim, minha mãe está preparando uma festa surpresa para me receber assim que eu sair daqui.

─ Festa surpresa?

─ Foi meu padrasto quem disse. ─ Ele se ajeita na cama, tomando cuidado com a região das costelas que aparentam um tom escuro. ─ Ele não é bom em guardar segredos, ao contrário do meu pai, ele era um ótimo em esconder as coisas. E o seu? Você acha que seu pai tem um segredo?

Usa um tom desinteressado, só que seus olhos o denunciam. Há tanto brilho, atenção, fazendo-me ver que há malícia por de trás de cada letra. Existe uma intenção maléfica encoberta, que ainda não consegui enxergar.

─ Provavelmente. Todos têm segredos e é normal.

─ Você tem algum?

─ Muitos, do mesmo modo que você também deve ter os seus. ─ Ataco.
Recua, os olhos perdem o interesse e ele capita que comecei a jogar.

─ Verdade, todos temos segredos e não há nenhum mal nisso, a não ser que o segredo nos interligue.

─ Os meus não interligam ninguém que esteja vivo.

─ E os mortos?

Sorrio e balanço os ombros tratando esse ataque como uma brincadeira.

─ Com os mortos, sim. Meus avós eram meus confidentes e infelizmente eles estão debaixo da terra.

Mikaela 1, Stevan 0.

Ele quer algo, e tem a ver com a minha família. Nossas conversas, as perguntas que ele faz, são planejadas, pensadas com detalhes, prevendo minhas respostas e quando eu o surpreendo com algo que ele não pensou, é o momento em que vejo o desespero sucumbi-lo.

Levanto a manga da blusa e identifico as horas no relógio de pulso.

─ Tenho que ir. Nos vemos depois de amanhã.

─ Amanhã é o casamento da sua amiga, certo?

─ Sim. Amanhã é o dia de se passar chorando e sorrindo. ─ Não me despeço com afeto, aceno e antes que ele possa me tacar mais alguma pergunta, estou fora de seu quarto.

Almoço com meus pais. Enquanto meu pai foca em estimular conversas querendo saber sobre meus novos empreendimentos, minha mãe cutuca minha ferida, querendo saber a razão do meu “término” com Thomas. Na verdade, nem sei se terminamos, não conversamos sobre isso e ainda continua a usar esse anel horroroso – tão horroroso que dói vê-lo jogado no meio das minhas outras joias, por isso o deixo ainda em meu dedo. Quem estou querendo enganar? Ah, desde quando passei a mentir para mim mesma? Será que eu não consigo admitir nem se quer para mim, que estou com saudade daquele imbecil? Que é uma merda dormir sozinha? Que sinto saudade de brigar com alguém?

Como presente – forma de me prender no Brasil – papai comprou um imóvel para eu abrir uma Boutique Ferrarini em São Paulo, ele disse que arcará com todas as despesas do imóvel o que foi um ato de desespero para que eu não vá embora e leve Théo comigo, e no fundo, fiquei tentada a negar, no final, aceitei.

Seria injusto retornar para Madrid, não por meus pais, mas pelo Théo. Meus avós foram essenciais em minha vida e sei que meus pais também serão a peça fundamental na vida do meu pequeno, e não posso esquecer que a madrinha dele também mora aqui, minha família mora aqui e, acredito que voltar as minhas origens definitivamente não será tão ruim assim.

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