Capítulo 59

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Desperto com a risada de Théo, e suas pequenas mãos batendo contra meu rosto

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Desperto com a risada de Théo, e suas pequenas mãos batendo contra meu rosto. Mikaela não está na cama, analiso o quarto e vejo que não há nenhum sinal dela. Distraio-me das responsabilidades, das horas, do mundo lá fora e debruço minha atenção ao meu garotinho, faço cócegas em sua barriga, beijo suas bochechas gordinhas e faço um show com os bichos de pelúcia que encontro ao meu redor.

Amo meu trabalho, só que às vezes noto que ele me priva de muitos momentos. Tenho medo de ser um pai que não está ali para ver o filho engatinhar, dar seus primeiros passinhos, falar pela primeira vez. Não quero ser este pai, quero estar ao lado de Théo em todos os momentos, por isso estava conversando com meu pai sobre eu me afastar por algum tempo, ao menos três meses, somente para curtir o meu bebê.

Pego Théo e alguns de seus brinquedos. Prosseguimos para o andar de baixo a procura de Mikaela, só que era ela quem estava me procurando. Seus olhos estão escuros de raiva, sua cabeça balança e seu semblante avisa que não há nada que eu diga que fará minha situação amenizar.

Arremessa minha blusa com marcas de sangue diante do meu pé.

─ Você não respeita o que eu digo. ─ Conclui.

─ Amor.

─ Fodas o amor, Thomas. ─ Berra.
Coloca a mão sobre os lábios, com vergonha por ter gritado um palavrão na frente do Théo que começa chorar. Balanço ele contra meu peito tentando acalmá-lo. Nos poucos segundos que viro-me para olhar meu filho, encontro mãe dele está sentada no sofá, com lágrimas de raiva escorrendo pelas bochechas rosadas.

─ Por que raios você não me ouviu?

─ Eu tinha que ter feito alguma coisa.

─ Bateu nele por mim, ou para fortalecer que sou sua propriedade? Eu ter uma aliança no dedo não significa que você virou me dono, Thomas.

─ Nunca disse isso.

─ Suas atitudes são quem estão comprovando.

Curva a cabeça sobre as mãos, morde os lábios com tanta força que sei que está tendo um ataque de ansiedade. Sua respiração se torna alta e irregular, deixo Théo no bebê conforto no canto da sala e ajoelho diante de Mikaela, que me manda ficar longe.

─ Quando eu encontrei a blusa eu sabia que você tinha batido nele, eu só não acredito que tenha tentado matá-lo.

O quê? Matar?

─ Eu não tentei matar ninguém. ─ Defendo, perante uma injustiça.

─ Liguei para o celular dele, Thomas, e sabe quem me atendeu? ─ Silêncio reina por segundos até os lábios dela voltarem a movimentar. ─ Uma enfermeira, que me passou para o médico que avaliou o Stevan com: duas costelas fraturas, nariz quebrado, hematomas espalhados pelo corpo, dente quebrado e um corte na cabeça que resultou em cinco pontos. Realmente estava disposto a ser um assassino por causa de um vermelho no meu pulso? ─ Interroga com dor e nojo ao mesmo tempo e não posso culpá-la totalmente, agi mal em ir tirar satisfações, porém, eu não espalhei nenhum tipo de agressividade abaixo do pescoço de Stevan. Não quebrei nenhuma de suas costelas e com certeza não causei o corte na cabeça. Mas como posso me defender já que admitir bater nele e a blusa com o sangue do canalha me condena?

─ A polícia está investigando quem o feriu. ─ Comenta com os olhos vermelhos de lágrimas. ─ Agora, me diz, se eles chegarem até você, o que vai acontecer?

─ Vou dar um jeito.

─ Claro, você sempre dá um jeito. Herdeiro Reis dirige bêbado e bate num porte de luz, artigo nunca publicado. Herdeiro Reis quebra boate e agredi seguranças, reportagem, excluída. Meu pai já te socorreu de muitas coisas, Thomas, mas ele não vai se envolver nisso, ok? Antes você era responsável, pensava nas consequências e foi por esse homem que eu me apaixonei e não por esse idiota que pode ser preso por tentativa se assassinado. ─ Grita outra vez, me dando leves murros nos ombros. ─ Eu fiquei fora das revistas durante quatro meses justamente, porque estou afastando o Théo desse merda de sociedade, e agora você colocou tudo a perder.

Respira fundo, passa a palma da mão pelos olhos, secando as lágrimas e adquirindo uma imagem inabalável.

Uma força surge em seu semblante, ela constrói uma parede entre o sentimento e a razão, transformando-se numa mulher com brilhos falsos nos olhos, com um semblante que diz: está tudo bem. Um semblante que esconde sua dor, sua raiva e frustação.

─ Fique em casa hoje, porque vou sair.

─ Aonde vai?

─ Ao hospital.

─ Não devia ir. Mikaela, aquele cara não é uma boa pessoa. Ele é doido, insano, é um psicopata, enquanto eu batia nele ele não se defendeu, ele ria da minha cara, ele falava de você com ódio, como se te odiasse há anos.

─ Você está dizendo que ele é o doido da história? Thomas, você não tem nenhuma lesão, o Stevan está internado no hospital. Como quer que eu acredite em você, principalmente quando eu te pedi claramente que não fizesse nada.

─ Não quero que vá.

─ Não me importo com o que você quer.

Encho o pulmão de ar, forçando meu corpo a sentir um aperto para que minha boca não exploda em gritos raivosos.

─ Gosta dele? Essa é a única explicação que eu encontro para você visitar esse psicopata. ─ Exclamo, transbordando indignação e raiva por meus lábios.

A face volta para mim, ainda continua sendo forte e corajosa não deixando seus sentimentos transparecer, mas sei que em breve ela vai se desmanchar.

─ Eu quero que você e ele se fodam! Que vão a merda juntos. ─ Fala entre dentes, esforçando para não assustar Théo que fica nos olhinhos com os olhinhos arregalados. ─ Vou até aquela merda de hospital e vou fingir está morrendo de preocupação, vou ser prestativa em todos os sentidos, somente para ele ter consideração e não abrir a boca para a polícia.

Me dá as costas e vejo sua musculatura ceder, relaxar.

─ Suporto olhar para seu rosto todos os dias e lutar contra aquela voz que acusa você de impulsivo e agressivo, só que não vou conseguir viver os meus dias sabendo que você está preso. Porque mesmo que eu grite ao vento que te odeio e que estou puta por você não ter me escutado, eu não vou conseguir justificar para o meu coração e para o meu filho a razão de você não estar ao nosso lado. ─ Ganho apenas palavras, os olhos dela fogem, seu rosto está escondido de mim, só que a conheço tão bem que sei que está chorando. E isso me mata.

─ Amor. ─ Clamo, aproximando. Passo minhas mãos pela cintura só que ela foge.

─ Eu te amo, Thomas, e não nego... estou chateada, muito chateada e não quero dormir na mesma cama que você. Tire suas coisas do meu quarto e se achar melhor, pode sair do meu apartamento também.

─ Se você me ama, por que está me pedindo isso?

─ Porque eu também me amo. Não estou disposta a viver com um homem que não me escuta, que fala algo na minha frente e age totalmente diferente nas minhas costas. Eu te amo, mas não vou me privar da paz e do sossego que almejo para o meu filho, por suas decisões inconsequentes.

Milhões de defesas consigo elaborar, não tenho tempo de usá-las porque Mikaela não está mais disposta a ouvir. Ela se trancou no quarto para se arrumar e antes de sair, garantiu que queria minhas coisas do quarto dela, e a cada camisa que retiro do closet, um pedaço de mim se solta. Despedaça no chão.

É como se houvesse posto um ponto final na história. Acabou-se aqui, uma história que começou a desenvolver agora, que nem ao menos terá um final digno. É como se minha vida com Mikaela fosse aqueles filmes com um final inconclusivo, odeio esses tipos de finais e não quero tomá-lo para mim realidade, eu só não o que fazer para mudar essa situação.

Eu nem sei se há como mudar essa situação.

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