Capítulo 62

6.9K 555 378
                                    

-Eu preciso ir pra minha casa Helio.-Digo olhando o carro tomar um rumo diferente do que sou acostumada. Peter e Christopher, um com um olhar culpado e o outro com um olhar de puro deboche, seguiram seu caminho em outro carro, me deixando junto de minha mala no carro, com Helio.

-Ainda me sinto super protetor com você e com tudo o que está acontecendo, nem fudendo que vou te deixar sozinha naquela casa.-Diz me fazendo arquear a sombrancelha enquanto abraço meu corpo que veste uma camiseta com referência a um manga yaoi (Eu não sou fujoshi, apenas admiradora da bela arte de machos se pegando. Fonte:confia)

-Primeiro que, como sabe se vou estar ou não sozinha e, segundamente, o que está acontecendo?

-Não briga comigo, porém, digamos assim que o Christopher fez uma varredura em sua vida.-Diz chegando perto da sua casa enquanto tento assimilar tudo.

-Você mandou alguém investigar a minha vida e a porra do meu passado?!-Exclamo exaltada.

-Não mandei não, ele que investigou por conta própria e me contou.-Diz me fazendo bufar enquanto reviro os olhos. Ele realmente acha que vou acreditar em uma merda de desculpas como essa?

-Você não acha que eu vou acreditar nessa besteira não né? Que merda Helio!-Exclamo sentindo-me nua, não de um jeito bom e muito menos do jeito que eu queria.

-Mas eu não estou mentindo.

-Assim como não mentiu ao não me dizer que foi jantar com aquela mulher!-Exclamo exaltada enquanto sinto um no em minha garganta. Um turbilhão de sentimentos tomam meu corpo enquanto sinto-me exposta, sentindo uma raiva por terem feito isso comigo, tiraram a porra do MEU direito de escolher contar ou não sobre eventos que me traumatizaram pra caralho.

-Mas eu não menti, eu omiti, e eu não jantei com ela, eu só fui até o restaurante pra dizer pra ela me deixar em paz, eu juro.-Diz apertando minha coxa, levando um tremendo tapa.

-Quando pretendia me contar?-Digo irritada. Christopher vai me pagar por isso, oh se vai.

-Algum dia.-Diz me lançando um belo sorriso preguiçoso.-Ei, não fica assim, ele só fez isso porque é meio paranóico e superprotetor.

-O quanto ele te contou?-Pergunto fungando, sentindo-me intensamente vulnerável.

-Sobre sua infância, adolescência, o acidente e após. Eu sinto muito por ter passado por tudo o que passou, deve ter sido difícil pra você perder seus pais dessa forma.-Diz estacionando em frente a sua casa enquanto lágrimas brotam em meus olhos e uma dor, que com o tempo se amenizou mas nunca, nunca irá se curar, toma meu peito.

-Me leva pra casa.-Digo com a voz entrecortada engolindo outro no em minha garganta.

-Minha querida, vem cá.-Diz tentando me trazer pra si mas me desvencilho e o afasto, vendo minha visão embaçada por minhas lágrimas.

-Só, me leva pra casa.-Digo fungando, tentando afastar os flashbacks que invadem minha mente, o dia de seus velórios, o vazio, a vontade de simplesmente desistir, o bullying, as piadas maldosas.

Sou pega pelos meus braços e puxada até seu colo, onde me debato tentando me afastar e sem sucesso, me entrego ao choro, completamente frustrada.

Respiro profundamente o seu cheiro tão familiar e aconchegante enquanto seus grandes braços me prendem, ele acaricia meus úmidos cabelos e beija com frequência o topo de minha cabeça.

Uma onda de soluços me toma fazendo com que eu aperte com mais força sua camisa. O machucado em meu coração, que achei que tivesse se cicatrizado, sangra enquanto a intensa dor me toma. Não é justo, nada do que aconteceu com meus pais e meus tios foi justo.

Papai e mamãe eram tão bons, sempre procuravam ajudar quem podiam, estavam envolvidos em diversas ONGs, faziam doações, eles eram minha maior inspiração, desde criança, com meu velho ursinho rosa, no qual ainda permanece guardado no fundo de meu guarda roupa, eu sonhava em ser como eles, em encontrar uma pessoa que fosse tão boa quanto.

Simplesmente não é justo, não é justo eles terem sido tirados de mim de uma forma tão brutal.

-Minha pequena menina.-Diz Helio acariciando minhas costas.-Eu sinto tanto, tanto por você, eu estou aqui, eu estou aqui.

-Não foi justo, não foi.-Digo em soluços.

-Nada nessa vida é justa, eu queria poder tirar toda essa dor que está sentindo e poder transferir pra mim, me mata te ver assim.-Fala Helio em um tom rouco.

-O que sabe sobre a vida? Pra alguém que nasceu em berço de ouro, você com certeza deve ter tido a vida feita desde sempre.-Digo o olhando enraivecida e amarga.

-Eu vou ignorar o que você disse, não vai adiantar nada isso que está fazendo como mecanismo de defesa pra me afastar, acredite, eu entendo muito bem a dor que está sentindo.-Diz me lançando um leve sorriso.

-Como pode dizer isso? Você não entende! Não entende o que foi e ainda é acordar todos os dias com o sentimento de culpa, com um turbilhão de sentimentos que me obrigo a ignorar e somente sorrir! Não entende o que eu senti depois de tudo que vi porque não passa de um juiz arrogante que se acha um sabe tudo-Exclamo o vendo pouco a pouco, ter seu sorriso desmanchado e uma expressão dura tomar seu rosto.

Ele me surpreende ao tirar sua camisa e pegar minha mão e coloca-la em seu peito, no mesmo local onde uma tatuagem tribal toma conta e se mescla com diversas outras, onde é possível sentir uma intensa elevação.

-Uma das minhas primeiras cicatrizes, que ganhei por não obedecer meu pai depois de ele me mandar matar um garotinho de dois anos de idade, filho de um de seus empregados que o traiu, eu tinha cinco anos.-Diz fazendo uma onda de arrepios tomar meu corpo enquanto o puro choque toma meu rosto.

-Eu... Eu...-Sua mão leva a minha em direção a outra elevação.

-Essa daqui eu ganhei por simplesmente não ter ido bem na escola, quer saber por que eu sou um homem que sabe de muito? Um homem culto? Eu fui obrigado a aprender tudo isso, meu pai prezava muito por minha inteligência, eu sempre tinha que ser o melhor, eu tinha que ser o melhor, ou isso.-Diz fazendo meu dedo deslizar por mais pequenas elevações enquanto um enjôo toma meu estômago e sinto-me tonta.-Acontecia com muita frequência.-Diz me lançando um sorriso amargo.

-Nunca foi permitido que eu tivesse alguma coisa que eu pudesse me apegar, tudo era tirado de mim, ou usado pra me chantagear. Eu digo que te entendo completamente, porque eu já passei por isso, em um ponto de vista totalmente diferente é claro. Eu não era a vítima, e sim o assassino que colocou gasolina no carro de uma família e ateou fogo, depois tive que assistir a seus gritos agonizantes que me assombram até hoje.-Diz com ira.-E sabe o porquê fui obrigado a fazer isso com essa pobre família? Por que o psicopata do meu pai e um traficante local se desentenderam, e a família dele pagou por isso, havia duas crianças, uma idosa e uma mulher no carro, mãe, filhos e esposa do traficante, eu tinha nove anos de idade quando fiz isso.

O abraço horrorizada enquanto lagrimas são derramadas de meus olhos ao imaginar tudo o que ele passou.

-Vou pegar sua mala do carro e levar pra dentro de casa, se você tentar fugir de mim já sabe o que vai acontecer.-Diz seco me tirando de seu colo e abrindo a porta do carro, saindo logo em seguida e me deixando sentada enquanto assimilo tudo o que escutei, minha cabeça roda intensamente enquanto uma culpa me corrói por tê-lo atacado dessa forma.

Rooooi moresss que saudadeeeee. E aí como estão? Estão bem? Com saudades da autora aqui e de mais capítulos? Vou trazer outro Jajá então fiquem ligadxs aiiiii.

Beijoooos e até daq a pouco.

O juízOnde histórias criam vida. Descubra agora