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- Não comece Nick, você sabe que eu não vou ter um relacionamento com sir Eleanor.

- Até parece.

A voz de meu pai se manifestou e logo ele surgiu atrás de mim. Eu e Nicklaus estávamos no meu quarto, no castelo, meu quarto estava diferente e simultâneo ao do palácio de verão, me senti segura e aflita. Não era nada, afinal, eu estava em casa.

- Qual é o problema de sir Eleanor?

- Pai!

- Olá querida.

Pude ver seus lábios em minha testa e não os senti, então acariciei o local do beijo depositado e olhei para meus dedos. Agora estava atrás de minha mãe, com seus vestidos longos e simples, nós podíamos ver uma luz vertical e um breu ao redor. Eu sabia onde estava, no corredor principal de minha casa, onde cada porta era um local de reunião diferente. Nicklaus e eu nos divertimos muito nessas salas, não que nosso conceito de diversão fosse algo seguro, é claro.

- Mãe? O que estamos fazendo aqui?

- Venha aqui filha, olhe.

Minha mãe espiava pela fresta da porta. Meu pai estava em uma conferência com os lordes, as risadas eram muitas assim como o cheiro de tabaco e vinho. O breu parecia tentar absorver as imagens e tentar consumir minha mãe. Isso... não está certo, está? Não deveria. Eu não devia estar sentindo medo do escuro. Então... porque sinto?

- O que estamos fazendo aqui? - Perguntei sentindo a ansiedade me dominar, como se o tempo estivesse acabando.

- Para você se lembrar.

- Me lembrar? Me lembrar de quê?

Minha mãe, meu pai, meu irmão, todos haviam desaparecido e eu fiquei sozinha, no breu, flutuando. Eu posso gritar, mas sei que ninguém vai me ouvir e saber disso, dói.

Eu gritei por tanto tempo, desejei por tanto tempo e já faz muito tempo. Para seres como eu, o tempo é uma dádiva e uma tormenta. Eu estou cansada de ficar só.

Algo grudento na lateral do meu corpo começou a me incomodar. O toquei e o carmesim cobriu minha mão. Está escorrendo do meu corpo e me deixando cansada, minhas pernas estão tremendo, a terra molhada pela chuva não esconde o fedor do sangue pulsante.

O céu gritou. O clarão iluminou através da copa densa, o vento violento balança os seres mais antigos e vigilantes deste mundo. Inúmeros sinos ecoam em minha mente, se chocando contra meu crânio, a força pulsa para fora de mim e expele minha força. Sei que agora não é a hora mais apropriada para descobrir onde estou machucada, minhas pernas mal me sustentam e eu não posso parar. Tenho que levar meu irmão para um lugar seguro. O metal polido junto com a madeira esculpida está perfurando o meu corpo e o do meu irmão.

Eu não posso parar. Quebrei a madeira esculpida que perfura meu corpo, Nick está tentando recuperar o fôlego, jurei a ele que vamos ficar bem, que ele só precisa aguentar um pouco mais. Acontece que nem mesmo eu acredito nisso, a temperatura do caçula está caindo mais rápido que a chuva que nos cobre. Meu irmão mal consegue sustentar seu corpo, ele não consegue mais. Eu não posso deixar. Eu tenho que ser o que ele não pode ser.

Meu próprio peso não consegue se sustentar, mas eu tenho que sustentar meu irmão. O forcei a me usar como apoio, sua voz é apagada pelos rugidos do céu, eu sei que ele quer me dizer alguma coisa, mas eu não tenho tempo para ouvir. Eu tenho que tirá-lo daqui. O nosso tempo está acabando. O metal está se chocando contra a terra e não diminui seu ritmo, eles estão se aproximando mais rápido do que conseguimos fugir. Por um descuido da minha parte, caímos morro abaixo.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora