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- Mãe? - Seu corpo está desaparecendo lentamente. - Mamãe! - Meu corpo não se move, por mais que tente movê-lo, estou presa! – Papai! Nick!

- Nunca se esqueça, você é nossa Lótus. - Meu pai também chora.

- Não! NÃO! Não, por favor! Não ME DEIXEM SOZINHA! MÃE! PAI! NICK! - Meus gritos não os alcançam e o meu desespero apenas cresce. - Por favor! Eu serei uma boa garota, eu serei uma boa princesa, eu faço o que for preciso, mas não me deixem! Não me deixem! - O desespero cresce dentro da minha alma, eles não podem ir embora, não podem desaparecer.

- Sempre estaremos com você. - Nick sorri.

- Teria sido legal conhecer você irmã. - Liz estava crescida, meus pais a seguram no colo, enquanto ela se despede. - Seria incrível conhecer você. Seríamos melhores amigas.

- LIZ!

A casa se torna um terreno e abaixo de mim está três covas, meus pais, meu irmão, a cova da minha mãe tem um pequeno símbolo rosa, minha irmã estava crescendo em seu ventre, a criança que não teve a chance de conhecer sua família! Eu não tive chance de conhecer minha irmãzinha!

- Não... - As lágrimas molham suas covas. - PORQUE?! - Grito!

Porque? Porque?! Eu estava com a minha família, então porque? Meu peito começa a sangrar, o ar ficou escasso, apenas minha voz chorosa e gritante saiu do meu corpo. Eu os tinha de volta, porque tiraram eles de mim outra vez? A dor no peito se tornou insuportável e eu começo a coçá-lo com força, arrancando pele e sangue.

A dor física não supera a dor que está dentro do meu peito, ardendo, queimando, destruindo. Meu corpo precisa de oxigênio, mas ele se recusa a receber e se contenta com a dor de perdê-los outra vez, se entregando a dor que vai me matar.

Um solavanco me tirou do terreno, o teto se tornou visível à medida que minha consciência desperta, o fofo do algodão, um quarto comum em uma cidade comum, mas o que não é comum é o humano que me segura pelos ombros, preocupado comigo.

Meu colo pesou, tem um colar comigo, talvez, talvez não seja verdade, isso tudo pode ser um pesadelo! Arranco o pingente do meu pescoço e é um coração com asas e não uma macieira ou uma lótus. É um coração com asas!

O irônico é que eu gostaria que meu coração criasse asas e voasse para fora do meu peito acabando com tudo o que eu sinto. Quando a dor voltou, eu a senti se transformando em lágrimas, o platinado fez alguma coisa com os braços, mas isso não importa. 

Foi um sonho. Um sonho! A porra de um sonho!

Eu gritei. Eu gritei com todas as minhas forças, eu ainda estou aqui. Eu ainda estou sozinha. Tudo foi tirado de mim outra vez, aqueles que conheci, aqueles que não conheci, todos eles foram tirados de mim outra vez. Eu não sei o motivo, eu não sei porque os tiraram de mim, estávamos felizes e bem, estávamos fazendo Hallari prosperar outra vez! Então porque?

Por um longo tempo gritei, gritei com todas as forças que ainda me restava, tentando em vão, fazer o buraco no meu peito diminuir. Acontece que nada adiantou, nada do que gritei, nada do que implorei, eles estavam mortos e não iriam voltar.

Ele está me abraçando, tentando me consolar. Eu gritei até minha voz desaparecer e quando aconteceu, ele me abraçou e me aninhou em seus braços. E ele ficou assim por um longo tempo.

- Você teve um pesadelo.

Por favor, não diga nada. Só fique quieto.

- Quer me dizer?

Neguei com a cabeça. É o máximo que consigo fazer.

- Você estava gritando. – Sua voz ficou fraca e pude sentir o tremor que vinha dela. - Eu fiquei preocupado... - Seus dedos deslizavam contra meu braço e se entrelaçaram com os meus.

Minha cabeça ficou pesada e meus olhos estão doendo, mas me recusei a dormir outra vez, me recusei a fechar os meus olhos e voltar para um lugar de dor. Eu não vou dormir, nunca mais. Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas alguns soluços ainda balançavam meu corpo.

- Você quer alguma coisa?

Meu silêncio não foi o bastante para ele.

- Eu tento arranjar para você.

Porque ele continua falando? Porque se preocupa? Porque não fica calado?

- Por favor.

Porque? Porque ele está fazendo isso?

- Por favor, me diga o que você quer. Eu te dou o que quiser.

Ele está me implorando.

- Minha família.

Fica quieto, eu sei que é impossível dele conseguir, afinal, mortos não retornam a vida.

- Me desculpe.

Porque estava se desculpando? Porque?

- Você me salvou uma vez. - Eu falo e puxo minha adaga. - Me salve outra vez.

- O que? Não! Nem fodendo! Você ficou louca?! Perdeu a cabeça?!

- Por favor! - Eu estou implorando para ele porque sozinha eu sei que sou covarde demais para isso. Eu já feri você, nada mais justo que você ferir de volta!

Minha voz quase não sai da minha boca. Eu só quero que isso acabe, o vazio, o silêncio, as lembranças, eu só quero que isso acabe.

- Por favor, tenha misericórdia e acabe isso logo! - Eu implorei.

- Nem fodendo! - Ele grunhiu.

Ele saiu de trás de mim e me encarou, mas eu pude ver a surpresa ao me ver, eu vi minha expressão em seu olhar e a única palavra que posso usar para me descrever é miserável. Eu estou miserável.

- Você... você não vai me pedir uma coisa dessas nem fodendo!

- Eu não consigo!

- Foda-se se você não consegue sozinha porra! Eu não vou machucar você! Para de me pedir isso! CARALHO PARA! - Ele gritou e se levantou. - Porra! Você não tem o direito de pedir uma porra dessa para mim!

Eu não suporto mais. Movida pela dor pego a adaga da minha mãe e tento enfiá-la em meu peito. Mas ele me impede.

- PARA! - Ele jogou as adagas longe. - Por favor, para. - Ele me implora. - Eu faço o que você quiser, mas não faça isso! Eu sei que você não está bem, mas para! - Ele enterrou seu rosto no meu ombro. - Por favor princesa! Eu estou te implorando!

Como... como ele sabe que eu sou princesa? Eu me afastei e ele me olhou sem entender.

- Como você...?

Ele se sentou e suspirou.

- Vocês são os últimos altos feéricos deste mundo, e os únicos altos feéricos desse mundo são da realeza. Não é difícil juntar um mais um, até um otário deduziria isso.

- Você sempre...?

- Sim. Sempre. - Ele parece incomodado e desviou o olhar de mim. - Você é uma puta de uma egoísta, sabia? - Falou com o maxilar trincado. - Caralho eu! - Olha para mim furioso. - O que eu tenho que fazer? O que você quer que eu faça? O que eu tenho que fazer para você querer viver?!

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora