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- Não estou. É real. - Ele agachou. - Anjos, demônios, céu, inferno, todas as crenças humanas são reais... e Hallari era a última linha de proteção para a chave dos portões do inferno.

Eu o escutei com dificuldade de acreditar no que disse.

- Os humanos caçaram os feéricos guardiões até que apenas Hallari restasse e quando o último feérico caísse... a chave seria revelada.

- Mas que chave é essa? - Perguntei impaciente e indignada. - Todos falam que eu tenho essa chave, mas eu não tenho! E eu nem mesmo sei o que ela abre!

- Ela abre o último cadeado que tranca os portões do inferno.

Um arrepio percorreu na minha espinha.

- Então eu não saber onde está a chave, é o melhor para mim, eu acho. - Eu disse um pouco incerta das minhas palavras.

- Não é bem assim, a família dos altos feéricos sempre carregam a chave, é uma herança passada sangue por sangue.

- Então a minha deve ter se perdido, porque eu nunca recebi nenhuma chave.

- Talvez não esteja com você, talvez Hércules saiba onde está.

- Eu já disse, Hércules está morto.

- E você tem provas quanto a isso? - Me perguntou seriamente. - Você viu o corpo?

- Lucas me disse e me entregou isso. - Mostrei as alianças dos meus pais. - Hércules nunca as tirava do pescoço.

- Sabe que existe uma coisa chamada "roubar os dormentes"?

- Hércules não está vivo! - Falei e encerrei o assunto.

- Certo. - Ele pegou um mapa e foi para a cabine do capitão. Ele parou. - Ah e para sua informação, eu sou seu tio.

- O que?

- Edward era meu irmão mais novo.

Meu... tio? Meu pai não tem irmãos, principalmente um mais velho. Meu pai, minha mãe... o que eles esconderam de mim? São tantas coisas que eu não sei o que fazer, é tanta informação e tanta pressão para saber de algo que eu não sei.

Senti meu coração bater mais forte no peito e me forcei a não derramar mais lágrimas, chorar não vai me levar a lugar nenhum e só vai me deixar mais deplorável do que eu já estou. Que chave é essa? Meus pais nunca me deram chave ou me falaram sobre... o inferno. Talvez isso não seja verdade, mas da forma que ele disse parece que ele realmente acredita nisso.

Olhei para o horizonte azul e fiquei enjoada. Olhei para o pó e o misturei com o chá, comecei a me sentir sonolenta.

Eu estou naquele lugar outra vez, a névoa está agitada e parece estar... se tornando uma tempestade. A corrente que prendia a besta desapareceu, senti uma pressão esmagadora no ar e o vento se tornou cortante, meu rosto está sendo cortado em pequenos cortes, isso... não está certo! Aqui deveria ser um lugar calmo, isso não devia estar atormentado!

Você demorou.

O som poderoso que ecoou no meu sonho me fez acordar. Meu peito está se movendo rápido, minha respiração está curta e minhas mãos estão tremendo, meu calor corporal está aumentado e meu peito nunca bateu tão rápido quanto está batendo agora, parece que meu coração vai explodir dentro do peito. Olhei para os meus braços e eles refletiram um brilho negro durante um milésimo e isso me deixou confusa, eu... estou alucinando agora?

- Polly, está tudo bem?

Ivan me perguntou preocupado.

- Eu... não sei.

- É que... mano, 'cê parece que vai ter um infarto a qualquer momento.

- Eu.. acho que sim. - Eu disse ofegante.

- 'Cê teve um pesadelo?

- Eu não sei dizer. Eu só... acho que tem algo errado.

- Deixe isso para mais tarde porque agora... chegamos nas terras de areia.

Ivan me disse e olhei para o porto e meu coração relaxou. Pode ser imaginação ou delírio por ver terra pela primeira vez em dias, mas eu acho que... tem algo lá. Algo que vai mudar toda a história... e de alguma forma, eu sei que eu vou mudar a história. Porque seja o que for que esteja me esperando, uma besta sem forma, uma crença sem fundamento, uma família sem sangue... tem alguém me esperando. Não, não alguém... Tem pessoas me esperando e de alguma forma, eu sei que sempre esperei por elas também.

Eu não sei o que há nas terras de areia para mim, mas sei que estou ansiosa para conhecer.

- Você sente, não sente?

- Sim. - Eu disse e me levantei para ficar na borda do navio, agarrando-me às cordas e as palavras saíram da minha boca com animação e ansiedade. - Eles estão esperando.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora