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"Polly.

Me desculpe por não te acompanhar nessa jornada, você deixou claro que você não pode me contar os segredos do seu passado, deixou bem claro que eu e você nunca poderíamos ser nada e como fui um tolo em achar que poderíamos ficar juntos. Aonde quer que você vá, a morte lhe segue de bom grado. Sinto muito por lhe dar esperanças e por pensar que poderíamos ter uma vida juntos. Você tirou a vida das pessoas que eram importantes para mim, espero que você sinta essa culpa todos os dias igualmente como sentirei minha culpa de ter confiado em você.

Mickael."

Aperto o papel. Eu sei que isso iria acontecer, uma hora meu passado iria me alcançar, uma hora eu o machucaria, eu sei de tudo isso, então porquê? Porque parece que estou sem chão? O ecoar dos meus batimentos estão mais altos, meus joelhos tremem, o meu suor gelado que escorre e molha minhas mãos e o papel. É apenas um pedaço de folha que me diz o que eu já sabia, que ele iria embora.

Eu já tinha me conformado que não poderíamos ser amigos ou algo a mais, mas então porquê? Porque sinto que se essa carta desaparecer, vai ser como se Micka nunca tivesse existido na minha vida? Porque sinto que se isso acontecer, ele vai ser apenas um fantasma criado para conversar, um vulto que eu não quero que desapareça. Eu quero estar com ele, sei que ferrei a vida dele de diversas maneiras, mas foi egoísmo meu pedir para que ele fique?

É. É egoísmo.

Acabo dobrando a carta e a deixando no meu bolso com um pouco de esperança, esperança de que ele volte e fiquemos juntos.

- Para onde vamos?

- Vamos pegar o caminho mais longo para Porto Distante, contornaremos Hallari por Akardius e pelo Vale das Sombras da Morte.

- Akardius? Eles não são aliados de Hallari?

Pergunto tentando não sentir saudades dele. Ele é esperto e sei que teria uma alternativa para isso, talvez teria, ele estuda medicina e não geografia. Eu só... tenho que deixá-lo ir, dos meus pensamentos e do meu coração.

- Sim, são, mas ninguém reconhecerá você.

- Porque não? – Fico um pouco confusa.

- Você está diferente, de alguma forma.

- Eu sei.

- Não. – Me diz e toca meu cabelo. – Desde que começou a praticar magia seu cabelo está mudando de cor.

- O que? Você está brincando comigo. Meu cabelo sempre foi castanho. – Pego uma mecha e me surpreendi, alguns fios estão mais claros, outros mais escuros e outros castanhos avermelhados. – Mas o que...?

- Isso ajuda, de alguma forma.

- Isso é estranho. – Confesso.

- Não tanto. – Me diz e separa seu cabelo, vejo que a raiz é mais clara, um azul extremamente claro que de vista pode confundir com o branco. – Os altos feéricos conseguem mudar a aparência ao se conectar com a magia, pequenas mudanças, tons de cabelos mais claros e escuros, a mesma coisa com olhos e talvez até sardas. – Sorri levemente. – Não sei se consegue se lembrar, mas seu pai tinha algumas.

- O papai...? Eu nunca reparei.

- É, ele tinha.

Responde e pega um pequeno mapa, tem algumas vilas, montanhas, rios, lagos e em todos tem passagens secundárias entre eles, deduzo que Hércules já deve ter feito esse caminho uma vez ou outra no passado.

- Cavalgaremos o resto do dia, a noite descansaremos. Amanhã à tarde vamos chegar nessa vila e pegaremos um cavalo para você. Quando chegarmos em Akardius, iremos passar pela Fenda de Akali.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora