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A fumaça branca avisa que o incêndio já terminou já faz algum tempo.

A situação da vila é básica e é composta por mais senhores com idade avançada, o maior local de agrupamento é a enfermaria e é para onde os queimados e feridos estão sendo levados. O cheiro de madeira queimada, sangue e carne queimada é suportável, diferentemente dos gritos do povo. Idosos gritam e choram, crianças berram e quem está em uma situação um pouco melhor fisicamente, está ajudando a achar outras pessoas presas nos escombros.

Vejo um casal de crianças, o maior dos irmãos está gritando para que alguém ajude sua irmã. Essa cena me lembra a mim, de quando segurei meu irmão por uma última vez. Eu não quero que essa família sofra o que eu sofri.

Ignoro o enjoo crescente por causa do cheiro de carne queimada quando me aproximo deles, não é hora de ser fraca ou mimada, essa criança precisa da minha ajuda. Hércules já está ajudando outras pessoas, então eu não posso pedir por sua guia agora, ele me ensinou a curar queimaduras, dessa vez não é diferente, eu só vou precisar de mais força. Eu consigo. Eu preciso conseguir.

Chego e me ajoelho, tiro a criança dos braços do irmão e a coloco deitada, hesito antes de abrir minhas mãos em cima de seu corpo, insiro e os círculos mágicos e brilhantes aparecem. Essa criança está lutando desesperadamente por sua vida e eu tenho uma função. Eu sei que toda a magia tem um preço, e eu vou pagá-la, mas vou pagar depois. Eu preciso ser forte.

Começo a ler as runas.

Minha força é violentamente drenada e me forço a ficar de joelhos para não perder o equilíbrio, minha vista começa a pulsar e minhas mãos começam a se fechar sem que eu mande. Forço a ficar com as mãos abertas e continuo. Minha garganta fecha e me forço a falar. Enquanto falo consigo ver seu corpo voltar a ser o que era, os músculos, ossos e até mesmo seu sangue voltou a escorrer. Meu peito afunda violentamente quando eu termino de curar a criança. Fico aliviada a ver que ela está bem.

Olho a outra criança e suas costas... estão em carne viva, ele deve estar sentindo muita dor. Me arrasto para ficar atrás dela e o círculo aparece outra vez. Começo a recitar e fico mais fraca, meu ar fica escasso e não consigo discernir as formas que estão na minha frente. As crianças vão para longe. Minha cabeça pesa e fico quente e ofegante, me apoio no chão para recuperar o fôlego, a dor na minha cabeça cresce ao ponto de fazer com que se torne insuportável respirar.

Outras duas crianças chegaram até mim, uma delas está com o osso exposto pela queimadura, isso vai ser um pouco mais trabalhoso, eu preciso respirar um pouco para poder curá-la, primeiro curo a que não parece visivelmente alterada. Começo a curar essa segunda criança e começo a sentir que meu sangue está sendo transferido para ela, não me importo com isso e continuo.

Ao terminar perco a força nos braços e quase caio. Estou cansada. Sinto o gosto de sangue na minha boca e sinto algo escorrer pelo meu nariz e orelhas também. Não preciso tocar para saber que é meu sangue. A criança com o osso exposto está chorando e bato minha mão na terra para que ela se sente. Começo a fazer meu trabalho e meu braço direito começa a formigar, é como se meus músculos e carne estivessem derretendo de dentro para fora. O seu osso começa a voltar, começa a regredir para o estado original, a dor fora tanta que a criança desmaia.

Ao terminar, acabo me encostando na parede queimada para poder respirar e limpar o sangue. Engulo a minha dor, ignoro meu braço que parece que está derretendo e que o líquido está acumulado embaixo da minha pele. Se Hércules ver que eu passei dos limites, ele vai me levar de volta e eu não vou poder ajudar ninguém. Me levanto e teria caído se não fosse por Micka.

- Polly, pela Mãe! - Exclama preocupado. - Você está sangrando!

- Eu estou... bem. - Ouço Hércules conversando e percebo que ele está perto. - Me tira...daqui.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora