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- Você não entende!

- Eu não entendo e você está certa, mas Legolas está nos dando uma chance, se você não for com ele, eu vou. - Ivan me disse seriamente.

Eu recuei e olhei para trás, os humanos já estão acordando e já estão se preparando para atacar.

- É nossa única chance. - Ele me disse.

Eu me amaldiçoei por responder.

- Nos leve até o barco.

- Ótimo! - Ivan disse e bicudou um dos humanos. - Sai porra! Cara chato!

Usei a magia para fazer uma parede de fogo enquanto corríamos até o barco, os soldados não nos deram trégua e continuaram surgindo. Ivan e o feérico conseguiram subir no muro e antes que eu pudesse subir também, uma flecha me acertou na panturrilha.

Ivan desceu quando eu gritei e me ajudou a subir, acertou os homens e me deu tempo para conseguir subir. Do alto eu vi Legolas lutar, ele é bom e está conseguindo se virar, mas eu vi as flechas, se tiver um arqueiro.

- NÃO!

Eu gritei quando uma flecha o acertou nas costas seguidas de outras. A dor que senti ao ver mais um familiar sendo tirado de mim me deixou irritada e cega, meu poder começou a ferver no meu corpo e se acumular, os humanos estão tirando tudo de mim, tiraram Hallari, exterminaram os feéricos, eles tiraram tudo de mim! E agora eu vou tirar tudo deles.

Deixei meu poder sair de mim e um mar de fogo começou, queimando e matando todos os humanos que estão por perto. Tirei a flecha de mim e corri até ele, o cheiro do seu sangue me deixou ainda mais irritada.

- Seu idiota! O que você fez?! (Feérico)

- O que... está fazendo...? - Tossiu sangue. (Feérico)

- O que você fez?!

O calor começou a ficar mais forte e comecei a ouvir as madeiras estourarem.

- Vai... 

Me pediu na nossa língua.

- Era eu que devia matar você! - Eu disse entre lágrimas. - Era eu!

- Não... não era... - Ele tocou minha testa como meu pai fazia. - Eu... vejo você.

- Não... Legolas eu posso curar você!

- É tarde demais! - Ele me puxou. - Vamos Polly!

- Não!

- Ele está morto!

- Me solta!

- Vamos logo!

Ele me puxou e me fez deixar o corpo do meu familiar para trás. Eu corri e vi o fogo consumir tudo o que é vivo, o que é morto, inanimado ou animado. Tudo está queimando e eu sei que esse fogo não vai apagar por um longo tempo. Não importa onde eu estiver, não importa com quem eu estiver, eu vou destruir cada humano que tocou na minha família e é uma promessa!

O balançar do barco me assustou e Ivan me segurou. A viagem vai durar três dias e duas noites até chegarmos ao mar vermelho e percebi que ele está se guiando pela estrela da manhã. Eu comecei a ficar enjoada, hora após hora meu corpo não conseguia mais suportar o enjoo que a água faz nascer em mim, mas eu não estou tão ruim quanto Ivan. Sua pele escamada negra se tornou verde. Ele está muito enjoado.

Isso passou quando o feérico deu um tônico a ele que o fez dormir. Ele veio me oferecer.

- Dada a sequência de eventos não nos apresentamos formalmente. - Ele se sentou e me entregou a xícara. - Eu sou Dominick Aryon, governante das terras de areia e senhor da luz.

Eu ri fraco. Títulos outra vez.

- O que é engraçado?

- Títulos. - Eu dei de ombros.

- Talvez aqui não seja importante para você, mas da onde eu venho nosso título é nossa história... sobrevivente das ruínas.

- Como você sabe disso? - Perguntei arisca.

Ele me encarou por alguns minutos.

- Você não... sabe. - Concluiu surpreso.

- Eu não sei o que?

- Você... é muito mais que a princesa de Hallari, Polly. - Ele me disse. - Você é a sobrevivente das ruínas e a protegida da lua.

- Protegida da lua?

- Essa parte é responsabilidade de Hércules.

Senti um aperto no peito.

- Ele sente sua falta.

- Se estivesse vivo sim. - Eu acabei resmungando.

- O que? - Me perguntou confuso.

- Nada.

- O que está tentando dizer? - Me perguntou.

- Você diz que Hércules sente a minha falta, mas é impossível os mortos sentirem falta de algo.

- Mas... Hércules está vivo.

O encarei surpresa.

- Se você estiver brincando comigo.

- Porque eu estaria? - Me interrompeu. - Hércules é seu familiar. Eu não teria motivos para mentir para você.

- Isso é o que todos dizem enquanto estão mentindo.

- Hércules disse a você que tem um enigma na família Erlathan, não é? - Concordei. Ele ficou quieto por alguns segundos. - A resposta é o conhecimento.

- E qual o enigma?

Ele ficou quieto.

- Eu esqueci.

Se eu não tivesse encostada, eu teria caído pela perplexidade.

- É sério que você sabe a resposta, mas não sabe a pergunta?! - Perguntei em um tom mais alto indicando minha enorme indignação. - Como isso é possível?!

- Podemos se dizer que lembrar de coisas complicadas não é o meu forte. - Ele disse e olhou para o horizonte. - Seu enjoo melhorou?

- Sim. - Olhei para Ivan. - E ele?

- Ele quis dormir e eu o ajudei nessa parte. - Me olhou e tirou um pouco de pó, me entregou. - Caso queira dormir também.

- Porque eu tomaria? Eu não confio em você.

- Pense um pouco. Se eu matar você, Ivan me mata. Se eu matar vocês e fugir, para onde vou? Estamos a quilômetros de qualquer terra e o cheiro de cadáver não é agradável. - Ele deu de ombros. - Caso tome, o efeito é mais forte.

Olhei para ele e notei uma flecha. É do meu primo.

- Porque está com a flecha dele?

- Me pediu para dar um enterro a ele. - Suspirou e se levantou. - Legolas não era um traidor, apesar de tudo o que fez, ele protegeu você no final.

Eu não sustentei o olhar porque ele tinha razão.

- Vou enterrá-lo junto aos seus pais.

- Meu... pais?

- Sim. Hércules... os levou para casa.

- Nossa casa é em Hallari!

Ele me olhou confuso e logo seu olhar se tornou penoso.

- Eles... nunca te contaram?

- Me contaram o que?

- Os feéricos de Hallari... são guardiões da chave do portão do inferno.

Eu ri com descrença.

- Não faça piadas.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora