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- Qual é? – Hércules me derruba pela quarta vez. – Você está me devendo uma caçada.

- Será que estou?

Antes que possa terminar a frase, giro minhas pernas, torço as suas e o derrubo. Fico por cima do seu corpo com a adaga da minha mãe em seu pescoço, uma arma simples com uma joia verde na guarda, uma lâmina fina e extensa. Simples, delicada e mortal. A adaga de meu pai, eu a deixo abaixo da sua terceira costela perto do coração e diferente da minha mãe, a adaga de meu pai é mais robusta, mais grosseira, também porta a joia verde que faz par com a de minha mãe. Um sorriso aparece em meu rosto e ele retribui. Hércules sorriu orgulhoso para mim.

- Melhorou.

Me levanto e o olho vitoriosa. – Outra vez?

Tomamos distância, empunhou a espada e eu as adagas. Disparamos um contra o outro, defendi o primeiro golpe cruzando as adagas e suportando o peso da lâmina, o ressoar de metal contra metal me arrepia e me afasto o suficiente para que possa usar a terra de apoio e tentar golpeá-lo outra vez. As lâminas se encontram e uma chuva de golpes começa, em algum momento as lâminas escapam de minhas mãos e optamos pela luta corpo a corpo.

Chuto sua costela e ele segura minha perna, uso essa pegada para pegar impulso e tentar acertar seu pescoço, acertei e ele me soltou. Voltamos a trocar golpes, seus socos precisos e certeiros amassam minha carne e músculo, Hércules é meu amigo e nunca me machucaria, mas nesse momento ele é meu professor e não mede forças para me ensinar a me defender. Meu estômago já está doendo e o restante do corpo já está tremendo e pedindo por um descanso, mas eu não vou parar, eu não vou dar para trás mesmo que meu corpo não suporte ficar de pé.

Hércules bloqueia um soco com um braço, bloqueou o outro, segurou meus braços e me cabeceia. Me afasto e sua silhueta se transforma em três, um zunido ecoa dentro da minha cabeça, tento manter a guarda fechada, Hércules se aproveita da minha tontura e me acerta no estômago, cambaleio e evito de cair. Aos poucos minha visão está voltando ao normal e Hércules percebe, tenta me acertar um soco no rosto e esquivo, devolvo um gancho certeiro no meio do seu queixo, ele cambaleia e recuou.

Vejo o orgulho transbordar em seu olhar antes de ser lançada contra uma árvore por um chute lateral. Me posiciono para atacar de novo, Hércules me recepciona com um chute no meio do peito que me fez afastar, arranho a terra para parar e disparo contra seu rosto, ele defendeu a sequência de socos que comecei a desferir contra ele, segura meu chute e tenta me dar uma cotovelada para tentar quebrar minha coxa. Deixo que acerte o golpe, tento não gritar pela dor excruciante na perna, seguro em seus ombros e desfiro uma joelhada contra seu queixo, ele se afasta e bambeia.

Lutamos por mais algumas horas até estarmos cansados o suficiente para não aguentar o peso das armas de ferro fundido. As roupas de Hércules marcam seus músculos, assim como as minhas que circulam os recém-criados músculos, disparo até ele com uma velocidade e força menor do que comecei, nossos punhos se encontraram e se afastam, os próximos socos e chutes estão cansados ao ponto de não acertar com a força que necessitamos para machucar ou lesionar. Seguro o punho centímetros do meu rosto, ele usa essa brecha para socar diversas vezes minhas costelas e em seguida meu estômago, me curvo pela falta de ar e dor, Hércules junta os punhos e acerta minhas costas, me derrubando e encerrando o treino.

- Está melhorando. – Comenta ofegante.

- Ah, é claro. Estou melhor em apanhar. – Resmungo me levantando tentando não sentir a dor intensa no corpo, pernas, costas, estômago, Hércules me espancou no treino de hoje.

- Isso também. – Ele sorri.

Me viro para o céu estrelado, Hércules também se deita, nossas respirações ofegantes fazem um som engraçado de se ouvir, murmuro um feitiço curto para aliviar a dor. Hércules aponta para o céu e desenha uma constelação, as gêmeas aladas. Observo o céu e acho uma outra constelação, meu irmão amava desenhar essa constelação.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora