O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)

5.1

Um segundo movimento me fez abrir os olhos. A luz me ofusca o olhar e me deixa ainda mais sonolenta, eu acabei dormindo encostada em Aaron e por isso acordei, o seu movimento de respiração é forte.

- Linda? - Micka sussurrou.

- Bom dia. - Eu o cumprimentei com um sorriso leve no rosto.

- Bom dia. Não vi você quando acordei. Fiquei preocupado.

- Desculpe. - Murmurei. - Vim cuidar de Aaron e acabei adormecendo.

- Hércules já fez o café. - Me estendeu a mão e a peguei, Aaron também levantou relinchando para os outros. - Esse cavalo é estranho.

- Porque? Ele é apenas um cavalo. - Eu comentei acariciando-o.

- Parece que ele te entende. - Murmurou.

- Mas ele entende. - Comentei enquanto me aproximava dos outros. - Bom dia.

- Péssimo dia. - Nyra respondeu, seu rosto estava inchado e ela parecia mal humorada. - Um dos motivos de me tornar independente foi não acordar cedo.

Clara riu levemente. - Talvez ele só queira estar preparado para qualquer imprevisto.

Hércules observava o mapa e fazia alguns cálculos mentais, calculando quando chegaríamos. Comi alguma coisa e observei o mapa junto a ele.

- Para onde vamos?

- Para o Oeste, estamos perto do território do duque.

Ele pegou uma carta que estava em sua bolsa e me entregou. Não era bem uma carta, mas sim um convite.

- Um baile...?

Perguntei confusa.

- A filha do duque irá ser apresentada à sociedade. Aproxime o papel do fogo.

Olhei intrigada para o papel, o que queria dizer? Quando o fiz as letras escuras apareceram "Venham como barão Clark e família." Tinta invisível. É um bom jeito de esconder segredos.

- Entendi. Mas, seríamos, barão Clark, um filho e duas filhas?

- Três filhas.

- Ei. Eu nem me pareço com você. - Nyra estendeu o olhar. - E seu cabelo é chamativo, o que vai fazer sobre?

Hércules fez sua magia e o azul de seu cabelo foi substituído por uma cor clara, comum para os feéricos e além, eles diminuíram no comprimento. Nyra revirou os olhos. Chegamos em Diárya ao amanhecer, uma cidade ao oeste da capital, se formos para a capital demoraríamos mais um dia e meio de viagem. Ver Hércules fazer magia me lembrou um dia da minha infância, um dia sem explicações.

- Você não vai conseguir! - Hércules está gritando com meu pai. - PARA!

- SE AFASTA! - Meu pai gritou com ele. - Eu consigo fazer isso!

- É o quinto que você liberta hoje, você tem que parar e respirar!

- Eu vou parar quando EU ACABAR! - Meu pai está irritado.

- EDWARD!

- HÉRCULES, EU SOU SEU REI! - Meu pai gritou e usou seu título, ele está bravo e irritado. - Então ou você cala a porra da boca e vem me ajudar ou você sai daqui!

Meu pai... acabou de xingar? O que ele está falando? Eu nunca o ouvi recitar esse feitiço antes. Meu pai parece cansado, porque ele está desfalecendo?

- PAI! - Gritei por ele e fui até ele. - Papai!

- Tira ela daqui Hércules! - Meu pai disse agitado. - EU NÃO POSSO CONTROLAR A MAGIA! TIRA ELA DAQUI!

- LÓTUS SOLTA!

- NÃO! - Abracei meu pai. - Papai!

- LÓTUS!

- Querida, vem com a mamãe. - Minha mãe chegou e me pegou no colo. - Vem com a mamãe.

Ela está me tirando de perto do meu pai. Eu vi um brilho forte e não ouvi mais nada, me desesperei e sai do colo da minha mãe.

- PAPAI! - Eu o encontrei largado no chão.

- Não Polly! - Minha mãe me puxou.

- Mas o papai! - Eu estou chorando. - O papai!

- Ele está... bem Lótus... - Hércules disse.

Hércules me disse para esconder as orelhas, a sensação da magia passar pelo meu corpo é algo incrivelmente satisfatório e me faz sorrir sempre. Quando minhas orelhas diminuíram, eu as senti puxarem, mas não me incomodei muito.

- Bom.

- Obrigada.

- Tente com o cabelo.

Inspirei e expirei imaginando todo o processo novamente, substituindo a cor dos fios, olhei para o cabelo de Hércules, um azul que prova a quem vê que é possível o luar se tornar líquido. Imaginei o próprio luar pingando em minha cabeça e lá estava.

- Porque azul?

- Me faz lembrar de quando você me encontrou. - Confessei.

- Aquele dia ela estava cheia.

Concordei silenciosamente, o azul dos fios desapareceu e o incômodo nas orelhas as fizeram voltar ao normal. Durante o caminho eu treinei o encantamento de disfarce. No caminho Micka me dirigia olhares sutis e suaves. Ele sente algo por mim e eu sei que sinto por ele, mas eu não sei dizer se eu o amo.

Eu sei que essa pergunta tem uma resposta e eu não sei se quero dizê-la em voz alta. Ele é compreensivo, elegante e sincero, mas eu? Eu sou uma feérica com um passado obscuro e problemas. Ele já está em perigo por estar ao meu lado e se eu disser a ele o que sinto é sentenciá-lo a uma vida cruel e sem descanso. Eu não quero isso para ele. Eu quero que ele seja feliz, que ele seja alguém importante.

- Linda? O que aconteceu? - Micka apareceu.

- Nada demais. Porque pergunta? - Ele ficou calado por alguns segundos e olhou para algum lugar.

- Você parece distante ultimamente. - Ele acariciou meu rosto. - Essa viagem está desagradando você?

- Não é isso. - Eu falei sinceramente. - Eu só tenho pensado sobre nós.

- Nós...? O grupo? - Me perguntou inocente.

- Não. Não o grupo. Você e eu.

Micka parece ter ficado chocado.

- Eu não.

- Não! - Ele me interrompeu bruscamente, eu achei um pouco estranho de sua parte, ele sempre fora educado. - Seja o que for falar, por favor, ainda não diga. Eu quero te dizer algo primeiro.

- O que é?

- Vocês vão ficar conversando e nos atrasar? - Hércules perguntou estressado.

Nos encontramos com um mensageiro, fomos para uma estrada alternativa onde encontramos uma cabana com uma carruagem grande nos esperando. Uma carruagem. Meus pais quase nunca usavam carruagem, a gente sempre andava de cavalo ou a pé, minha mãe preferia assim e meu pai gostava de ver minha mãe feliz. Meus pais...

Eu me afastei um pouco e fui para trás da cabana, para ter um pouco de privacidade e como sempre venho fazendo ultimamente, eu fiz suas imagens com a magia, uma parte da minha memória. Meu peito está doendo tanto, eu só quero tê-los de volta, eu faria qualquer coisa para tê-los outra vez. Qualquer coisa.