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Eu tropeço em uma corrente grossa. A corrente recebe uma vibração do outro lado. Caminho um pouco e acabei batendo a cabeça em uma parede invisível aos olhos nus.

-Isso dói. - Reclamo.

Ouvi uma risada curta. Esse som... eu nunca o ouvi antes. Esse timbre eu nunca senti antes. Eu quero saber quem é. Eu preciso saber quem é.

-Olá?

Eu posso sentir que ele me escuta e que está escutando.

-Eu posso ver você?

Sinto que ele se levanta e vem para perto e isso se confirma quando as correntes movem. Ele está na minha frente.

-Porque eu não consigo ver você?

As correntes se movem e essa criatura está se afastando.

Me assusto quando sinto uma mão em cima da minha. Olho para ver quem é e vejo Hércules irritado e Micka preocupado.

- Não use mais sua magia por uns tempos.

- Porque?

- Porque você passou dos limites!

- Não, eu não passei!

- Sim, você passou!

- Eu saberia se estivesse passado!

- Não, não saberia! – Hércules me diz impaciente com minhas insistências. – Você nunca usou a magia da mãe e agora que usou, foi seduzida por ela!

- Você nunca disse que usar magia seria perigoso!

- Eu nunca imaginei que você passaria dos limites!

- Eu não passei!

- Não minta para mim lótus! – Exclama irritado. – Você passou dos limites quando trouxe a vida para uma criança morta! Você entende isso? – Ele não parece verdadeiramente irritado, parece mais... preocupado e de algum jeito, eu sei que ele se lembrou da morte da minha mãe. - Você deu anos para alguém que deveria estar morto, sabe o que isso vai te custar?

O medo de Hércules é irreconhecível, um pavor irracional e não o culpo, provavelmente sentiria o mesmo se estivéssemos em situações opostas. Ao mesmo tempo que o entendo, fico irritada. Ele não entende o porquê preciso fazer isso, não entende porque preciso me redimir.

- Você mal se aguenta em pé e mal consegue falar, você está definhando enquanto cura essas pessoas. Você deve parar!

- Não importa! Essas pessoas precisam de alguém para ajudá-las e eu e você estamos aqui, então porque virar as costas?

- Porque não vai ajudar se estiver morta!

Fico quieta, ele está certo. Não vou ajudar ninguém se estiver morta, mas eu também não ajudaria ninguém se não estivesse viva. Olho janela afora e vejo crianças que estão chorando abraçadas e outras no colo com as idosas. Minha atenção é tomada quando vejo uma criança com o braço queimado, me levanto e vou até a janela, como a criança está por perto, consigo curá-la. Quando começo a fazer, sinto a energia da Mãe fluir do solo para mim, de mim para ela, meus olhos pesam enquanto faço, a imagem está se tornando escura. Hércules puxa minha mão para longe e essa sensação passa.

- Para com isso! – Me repreende seriamente.

- Eu não posso ficar parada enquanto essas pessoas precisam de mim!

- Você vai ficar, quer você queira ou não! Você está sendo imprudente porque não entende a magia! Você se tornou um canal aberto quando passou dos limites e agora não consegue fechar e por causa disso, você está se doando para o próximo e não se dá conta disso! Ou você para de ajudar ou eu te faço parar!

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora