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- Querer não é poder. Mas no seu caso é o contrário, então eu vou te perguntar uma única vez princesa. - Seu olhar sério faz os pelos arrepiarem e um frio descer e subir pela minha espinha. - Vai me deixar tirar sua dor?

- Não. - Minha voz falha.

- Nem mesmo você acredita na sua resposta. - Ele suspira e toca meu rosto, sinto o lugar ficar quente. - É só me deixar entrar pela rachadura e eu vou tirar essa dor de você.

- Eu já disse não. - Falo e engulo em seco. - Então, se afasta! - Coloco a lâmina.

- Não.

Ele pressionou seu corpo contra a espada e voltou a me encarar fixamente.

- Eu não me envolvo com magia psíquica porque essa porra te muda pra caralho.

O humano consegue proferir essas palavras de baixo calão tão facilmente que chega a me deixar assustada e questionar que tipo de educação ele teve, ou se teve.

- Mas eu sei uma coisa aqui e ali, e eu sei que suas paredes estão desmoronando de dentro para fora. Então, ou você aceita a minha ajuda ou eu vou te dar minha ajuda. Recomendo a primeira, é mais gentil.

- Eu já disse que não quero!

Ele revira os olhos e começa a acariciar meu rosto.

- Sabe porque eu estou fazendo isso?

Me perguntou colocando seu corpo contra meu e me prensando na parede. Meu coração quase explode para fora do seu peito quando sinto a pressão que ele está fazendo contra mim.

- Porque está vendo até onde a paciência do meu tio consegue chegar?

Perguntei cínica. Ele aproximou seus lábios dos meus, estão próximos, perigosamente próximos.

- Porque essa magia só funciona quando existe uma forte conexão entre as pessoas presentes. - Ele sussurra. - Eu perco a paciência fácil, então não me esfaqueie por isso, eu tive que ouvir minha irmã reclamando sobre o rasgo na blusa e eu não quero brigar com ela de novo.

Ele encostou nossas testas e fechou os olhos, eu senti quando sua mente entrou na minha e começou a rondar os muros que Hércules me ensinou a criar. Senti uma corrente de energia passar pelo meu corpo e procurar por uma abertura nos muros, o incômodo que está ecoando na minha cabeça me faz afastá-lo.

Eu consigo sentir ele procurando uma fresta, eu consigo sentir e isso me deixa preocupada e incomodada, eu conseguiria me livrar dele se não estivesse... frágil. Eu senti quando ele começou a extrair a minha dor, eu vi quando ela foi, literalmente, passada para ele, suas veias ficam negras e subiram pela manga. O alívio e a calma começaram a me envolver, ele está tirando tudo o que eu tenho!

- PARA! - Consigo afastá-lo, sentir meu peito leve me deixa assustada e aterrorizada. - V-você não tem o direito de tirar isso de mim! Você não pode tirar isso de mim!

- Uma pergunta princesa. - Ele volta a se aproximar. - Porque prefere a dor? Particularmente eu não tenho nada contra, até gosto de causar, mas esse tipo de dor nem mesmo eu gosto de sentir. Então me diga minha linda e bela princesa.

Seu olhar procura o meu, o cinza está intenso e está próximo demais outra vez e outra vez meu coração quase pula para fora do peito.

- Porque prefere a dor?

- Isso não é da sua conta! - Falo arisca. - E por favor, se já acabou de me atormentar, vá embora.

- Não.

- Porque? - Pergunto irritada. - Porque você está fazendo isso? Porque você quer tanto que eu pare de sentir isso?

- Porque ficar se lamentando não é você! Eu sei que não é! Você é forte e só se esqueceu disso, eu estou tentando te fazer lembrar porra!

- Não! Você está tirando tudo o que eu tenho! Você está tirando meus pais de mim!

- Eu estou tirando sua dor de você!

- Eu NÃO QUERO! - Grito com ele e me afasto. - Por favor. Vá embora!

- Tá.

Tento sair da sua proximidade, mas ele ri e se deita na cama e tira a blusa me deixando perplexa.

- Será que você não tem decência? Ou modos?

- Eu até tenho, mas eu prefiro não usá-los aqui.

- Eu reparei!

- Não implique comigo princesa. - Ele sorriu e deitou de bruços.

- Eu não estou implicando com você. - Falei impaciente e o olhei, ele está brincando comigo. - Uma pergunta, o duque não disponibilizou um quarto para você?

- Sim. - Ele disse fechando os olhos.

- Você vai dormir aqui?

Perguntei perplexa e ele não me respondeu. Ele não pode ter dormido! Fui até ele, me ajoelhei e percebi que ele está realmente dormindo, em um sono profundo. Caramba, ele realmente dormiu. Suspirei e o deixei dormir. Sai do quarto e encontrei Mickael olhando um retrato. Meu peito ficou apertado, o que eu fiz com ele vai deixá-lo chateado, extremamente chateado.

- Linda? - Micka me olhou preocupado. - O que aconteceu? Você estava... chorando?

Olhei para ele e seu semblante preocupado fez despertar algo dentro do meu peito, ele me respeita e entende os limites que imponho entre nós. Ele me respeita e sabe quando insistir ou não. Micka é a pessoa perfeita para mim. Completamente diferente daquele folgado atrevido.

- Micka, podemos conversar? - Perguntei e ele endireitou o corpo, eu o deixei nervoso, ele fica fofo assim. Acariciei seu rosto.

- Está... tudo bem? - Me perguntou preocupado.

- Está. Eu só quero te perguntar uma coisa.

- Pode falar.

- O que você sente por mim?

- Bem... - Ele ficou vermelho. - Eu tenho que responder aqui? Nesse momento? - Perguntou ainda mais nervoso e suando.

- Eu só quero saber, não precisa ser bom.

- Não, não é isso. É que eu planejava te contar mais tarde, no baile.

- Baile?

- É, no baile de hoje a noite, você vai, não vai?

- Você quer me dizer lá?

- Acho que não importa o lugar. - Ele acariciou meu rosto e me deu um beijo casto. - É que eu te amo.

Isso me surpreendeu, mas de um jeito bom. Eu o beijei e entre os beijos pude sentir o sorriso dele. Ele me abraçou pela cintura e terminou me dando um beijo na bochecha.

- Eu sei que não temos passado tanto tempo juntos e que na maioria das vezes é você quem fala e que eu não sou alguém que se abre facilmente, mas.

- Ei. - Ele me interrompeu. - Não precisa dizer agora e eu gosto de conhecer você aos poucos. Gosto de saber que você é como um livro.

- Está me dizendo que eu sou velha e empoeirada?

- Não. - Ele sorriu. - Não estou. Estou dizendo que você tem muitas páginas e eu não quero lê-las depressa, quero aprender cada detalhe, cada gesto e cada olhar. Eu não quero decorar, eu quero aprender. - Ele acariciou minha mão e depositou um beijo. - Eu quero amar você.

O beijei e o senti olhando nas minhas costas, acariciei o rosto de Micka e o beijei outra vez e Micka aprofundou o beijo e deixei que fizesse.

- Vão ficar se pegando no corredor mesmo? - A voz raivosa dele ecoou pelo corredor. - Bagulho ridículo para caralho!

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora