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O observo um pouco. Ele já não está mais triste e parece estar tranquilo com a minha presença e... eu não estou mais preocupada. Ele não consegue me ferir, e caso ele tente, eu posso feri-lo. Cada vez mais que o observo, eu sinto que ele é como um filhote perdido procurando um rumo, procurando uma direção que pode seguir sem se machucar. De certa forma ele me lembra meu irmão. Acho que é a... curiosidade.

- Porque está me olhando assim?

- O que? Assim como? - Pergunto confusa.

- Eu não sei. Eu acho que... distante, seria a palavra correta.

- Lótus, você voou outra vez.

- O que foi?

- Eu disse. - Ele sorriu. - Você estava distante.

- Estava pensando.

- Não é hora de pensar agora, você está estudando, se lembra?

- Mas eu não quero! Para que eu quero saber o que vive fora dos nossos portões? Não tem nada de interessante lá fora.

- Você precisa saber.

- Porque?

- Porque você é uma princesa.

- Eu disse alguma coisa? - Ele hesita antes de tentar tocar meu rosto, me afasto. - Você está... chorando.

Me levanto e miro rumo para casa. Ele me impediu de ir segurando meu pulso. Me virei e me soltei. Ele me puxou de novo. Meu coração está batendo forte, a dor está aqui outra vez, a saudade está aqui outra vez.

- Você tem três segundos para me soltar ou você vai cair outra vez.

- O que-

Antes que ele pudesse terminar a frase, eu faço o que disse.

Mickael está assustado enquanto caído. Uma amizade entre nós não pode acontecer, minha existência colocaria a dele em risco e isso vai machucá-lo e até mesmo matá-lo. As pessoas sofreriam sua morte e eu vou ter que viver com sua morte em minha consciência e eu não quero. Não quero lembrar de mais um rosto que se foi por minha causa. Ele é diferente daqueles que estão em minha mente, ele não é triste ou moribundo, ele é brilhante, alegre, cheio de vida e minha interferência pode tirar isso dele, pode estragá-lo.

Meu peito se aperta em pensar na cena de Mickael sem vida nos meus braços, seus olhos sem o brilho comum que encanta qualquer pessoa que está ao seu redor. Começo a me afastar, viro as costas e continuo andando, até que sua voz embebida de um sentimento que eu já tinha perdido há muito tempo, ele grita por mim com esperança na voz.

- EU VOU ESTAR AQUI AMANHÃ! POR FAVOR, APAREÇA!

Corro até em casa, o frio não consegue tirar ocalor que estou sentindo e eu não sei se meu coração está batendo desse jeitopor causa da corrida ou sei é por suas palavras, sua esperança de me encontraramanhã. Talvez seja porque tirando Hércules, Mickael é o primeiro contato compessoas e talvez por isso esteja um pouco ansiosa pelo amanhã. Chego em casa eHércules está de costas queimando uma carta, não está com uma cara boa.

Comemos e estou me aprontando para dormir quando o ouço começar a afiar as espadas e as adagas enquanto suas correntes estão sendo banhadas por um líquido mágico que ele demorou semanas para preparar. O som da afiação me causa arrepios e embrulha o estomago, os uivantes costumavam afiar as espadas enquanto tocavam as crianças.

Algum tempo atrás percebi que se me distraísse enquanto Hércules fazia isso, as sensações não ficam na porta e as lembranças ficam nubladas tempo o suficiente para não lembrar do que exatamente havia acontecido, eu não quero tocar no assunto de família, então espero que ele faça. Mas ele não faz.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora