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Minha respiração fica ofegante e curta, os arrepios voltam, os pelos eriçados, meu peito volta a afundar a cada respiração e o desconforto no íntimo cresce no peito. Eu me sinto um coelho em frente a uma raposa e eu sei que ele é perigoso porque cada fibra do meu ser me diz isso. E eu, como tola que sou, vou até ele.

Ficamos frente a frente. Seu cheiro se mescla com perfumes de flores das damas da alta sociedade e ainda consegue se destacar de cada cheiro produzido pelo homem. Ele estica a mão, convidando-me para dançar, seu olhar cai em meu colo e o traço fino de seu lábio se transforma em um leve sorriso, sua mão vem até meu colar e ele o acaricia. Mal percebi quando ele se aproximou.

- Não lhe ensinaram que não se deve tocar em uma dama sem sua permissão? - As palavras saem ásperas da garganta, molho meus lábios e continuo encarando seus olhos claros.

Seu sorriso mostrou rapidamente os dentes, os caninos são afiados, seus lábios finos e pouco carnudos e estão secos, seu corpo fica tenso enquanto seus dedos acariciaram a joia.

- Sinceramente, achei que a jogaria fora. - Ele disse surpreso. - Mas você guardou.

Involuntariamente, e só percebi quando fiz, eu sorri mostrando os dentes, é um sorriso que mostra uma felicidade momentânea. O mal estar que senti momentos atrás desapareceu e tudo ao meu redor fica mais intenso, as risadas, os sons, os cheiros, meu peito se afunda e pela primeira vez não é uma forma ruim, está se contraindo para não pular para fora do meu peito e o tremor para.

Pela primeira vez, eu me sinto... bem.

- Você disse que vinha buscá-lo.

Ele balançou a cabeça em negação e me puxa para o meio da pista para dançar, aproveita essa brecha e sussurra.

- Acontece que voltei por você.

Me aproximo perto o suficiente para esconder meu rosto, meu rosto ficou quente e sinceramente? Eu não sei o que está acontecendo comigo. Estamos dançando de uma forma lenta, diferentemente dos meus batimentos. Se ele ficar quieto, tenho a certeza de que ele vai conseguir escutar. Durante a dança minhas pernas amoleceram e outra vez se não me segurasse com firmeza, eu já teria caído.

A valsa termina e vai para um dos corredores da casa, indo para a mansão adentro. Olho para trás para ver se todos estão bem, procuro por Hércules e o encontro conversando com os barões presentes. Me encara e indico com a cabeça para o corredor, ele demora, mas concorda, olho para Micka e Hércules me nega. É a resposta que preciso. Então, desapareço do salão.

O corredor é longo e não tem iluminação, uma das portas estava aberta, ele pode ou não estar lá, mas agora que eu estou aqui eu não quero ir atrás dele, eu só quero descansar um pouco. Entro e fecho a porta, é uma biblioteca grande, a madeira salpica e me chamou a atenção, há uma cama nesse cômodo e um chá em cima da mesa. Chá de violeta.

Meu pai tomava esse chá para acalmar a raiva antes das reuniões. Tiro a máscara, pego a xícara de chá para inspirar o aroma para me lembrar do meu pai, posso ouvir suas reclamações claramente e minha mãe ao seu lado para tentar acalmar os nervos do meu pai, acabo sorrindo um pouco e sinto meu peito arder outra vez.

Toda vez será assim? Toda vez que me lembrar deles vou ter uma dor insuportável no peito? Toda vez uma vontade insuportável de gritar e de chorar? Eu só quero que isso pare, eu não aguento mais ser consumida por essa vontade e esse desejo, não suporto mais. Me encosto no sofá, abraço minhas pernas e deixo as lágrimas caírem.

Eu sei que tenho que continuar, mas não faz nenhum sentido, porque eu preciso? Tiraram tudo de mim, porque eu tenho que continuar aqui? Porque eu não posso ir com eles? Porque... isso não pode acabar?

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora