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O calor está percorrendo meu corpo e o foquei nas mãos, ataquei os soldados que tentaram atacar Ivan, acertei um soco em um dos guardas e vi o estrago que eu fiz sem usar todo o meu poder, eu tenho que me controlar, eu posso explodir qualquer um deles agora. Eu tenho que tomar cuidado. Mais e mais soldados estão chegando, eles não estão tentando nos matar, estão nos cansando!

- Ivan!

- O que foi? - Ele me perguntou arfando. - Já está cansada? Senta ai e me assiste acabar com eles.

Me concentrei e senti o calor percorrer meu corpo e pararem nas mãos, outro soldado iria atacar Ivan, mas eu o soquei com os punhos em chamas e pude ver que onde havia acertado com o punho havia amassado e queimado a armadura, se aumentasse o calor eu posso fazer um estranho, tenho que controlar isso.

Nesse segundo de distração, um dos soldados me acertou e me fez chocar contra a árvore. Arfei e Ivan olhou para mim e também recebeu um ataque.

- Namoral...? - Ele cuspiu sangue. - Se você for acertada outra vez, eu vou te descer o cacete!

- Cala a boca e luta!

Voltamos a lutar contra os soldados. Estamos cansados e ofegantes, e os soldados não param de chegar. Eu ataquei um soldado e outro me laçou, tentei queimar a corda, mas elas absorveram a magia.

- IVAN! AS CORDAS!

Ele olhou para mim e o lançaram, puxaram e o fizeram cair, consegui jogar minha adaga para soltá-lo e ele conseguiu atacar alguns soldados antes de ser pego outra vez. Eu tentei concentrar meu poder para queimar as cordas, mas eu estou cansada demais para conseguir fazer isso. Não pude evitar o pânico e o desespero que cresceu na garganta, não é apenas eu que estou em perigo, o Ivan está também e isso me preocupa, eu mal sei cuidar de mim, como vou cuidar dele? Principalmente agora?

Os soldados nos cercaram e nos atacaram de uma vez, e não tivemos como nos defender de um ataque dessa magnitude. Ivan caiu primeiro. Eu fui em seguida.

Não me surpreendi quando acordei e vi que estava acorrentada. Outra vez... correntes e mais correntes. Não importa o quanto eu tente fugir, não importa o quanto eu tente escapar, eu sempre estarei acorrentada. Observei as correntes e soltei um bufo irônico, as correntes que sempre estarão em mim sempre serão de Hallari, meu lar e minha desgraça.

Atentei um pouco mais as correntes e vi suas runas, são as mesmas da coleira. Eu não posso praticar minha magia aqui, eles cortaram minha conexão com a mãe. Droga... eu acabei de recuperá-la. Como vou recuperá-la agora? Eu não sei onde estou, não sei para onde vou e principalmente eu não sei quem está comigo. Ouvi passos e esperei os meus carcereiros, não me surpreendi quando fui carregada até a praça central, o luar está passando pelas copas das árvores e essa visão me deu conforto, é a mesma visão que tinha quando meu pai me levava para casa.

Mas não é o meu pai que está me esperando. É meu sangue. É filho daquele que me causou dor. É aquele que um dia chamei de irmão.

- Lótus.

- Você perdeu o direito de me chamar assim. - Eu falei entredentes.

- Sei que está com raiva.

- Raiva? - Grunhi. - Raiva Legolas?! - Os soldados puxaram minhas correntes.

- Soltem-na. - Os soldados não obedeceram a sua ordem. - Eu mandei soltá-la! - Rosnou e obedeceram receosos.

A primeira coisa que fiz quando fiquei livre foi acertar um soco no rosto do meu primo, ele cambaleou para trás completamente surpreso com minha ação. Doeu acertá-lo desse jeito, mas a dor foi apagada pela raiva.

- Ailin tirou tudo de mim. - Eu cuspi com raiva. - Eu fui pega pelos uivantes. - Legolas ficou ainda mais surpreso. - Durante anos fui estuprada, maltratada, torturada de diversas formas que nem mesmo você consegue imaginar.

- Eu.

- E AINDA. - O cortei. - E ainda não há palavras para descrever o que Ailin tirou de mim. - Senti o rosto esquentar pelas lágrimas. - Não tem como descrever o que seu pai tirou de mim!

O rosto dele se contorceu em uma careta de dor, ele está magoado e isso não é o suficiente para mim.

- Eu nunca quis que isso acontecesse.

- E você queria o que?

Ele ficou quieto.

- É, foi o que eu pensei. - Eu disse e ele ficou amargo. - O que você quer?

Ele suspirou e dispensou os homens.

- Você já se alimentou?

- Não seja condescendente comigo primo. - Trinquei o maxilar e o olhei, eu entendi o que ele está fazendo e uma onda de arrepio me percorreu. - Eu... Você não vai me levar de volta!

- Você sabe que eu tenho que fazer. - Ele disse baixo.

- Eu não vou voltar! - Falei e senti o desespero crescer no meu peito. - Você não vai me levar de volta!

- Polly.

- NÃO! - Eu gritei e senti minha pele ficar fria. - Eu não vou voltar!

- Polly.

- NÃO Legolas! Não! - Me afastei. - Eu não vou voltar.

Ele tentou se aproximar e me afastei.

- Lótus. - Suspirou e me analisou por um tempo. - Seu amigo está nos aposentos a direita, vá, descanse, pense sobre isso.

- Eu não vou mudar de ideia. - Avisei. - Um teto e comida não vai mudar isso.

- As coisas são mais complicadas do que você pensa que são Lótus. - Ele parece agitado. - Você tem que voltar para casa.

- Eu disse não!

Eu disse e me retirei do lugar e fui para o aposento. No caminho meus passos vacilaram, meus olhos arderam, meu coração se apertou. Eu não posso voltar. Não posso. Consigo sentir os olhares dos soldados... humanos. O desprezo que sinto em seus olhares, os murmúrios de desgosto e nojo, eu não me importo com isso, realmente não me importo, mas estou curiosa sobre uma coisa, porque não há nenhum outro soldado de Hallari aqui?

Porque não há nenhum feérico além de Legolas? Porque... eu sinto que tem algo errado? Eu os sinto atrás de mim, meu peito está ficando agitado. Tem algo estranho aqui.

- Que cara é essa? - Ivan me perguntou tomando vinho e fez uma careta. - Eita negócio ruim.

Fiquei preocupada, eu realmente fiquei, os humanos sentem nojo dos feéricos, o que sentem em relação aos draconatos? Comida, vinho...

- Para de comer! - Falei e queimei a carne.

- O caralho, minha carne não. - Choramingou.

- Finge que está tudo bem. - Sussurrei e soltei um suspiro de alívio. Minha visão ficou embaçada e comecei a coçar o olho.

- O que foi? Seu olho está doendo?

- Está ardendo!

Reclamei e pisquei mais forte, minha visão se tornou quente, consegui ver o calor de Ivan, o calor da carne, eu consigo ver o calor do que é vivo ou aquecido! Eu não sabia que podia fazer isso! Eu realmente não sabia.

- Polly? - Ivan apontou para os olhos e ficou sério, eu percebi que tem algo errado com eles. - Relaxa, não é nada, deve ser só um inseto.

- Isso arde!

Mantivemos o diálogo, mas nos comunicando por olhares e feições. Tem oito soldados humanos ao nosso redor, fui até o vinho e o inspirei. Eu sabia.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora