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Sinto a brisa gelada passar por mim, eu não me movo, eu não consigo me mover. Um par de braços passa pelas minhas pernas e me levantam. Pinheiros jovens, cacau e suor. Ele me deixa na cama e ameaça me soltar, talvez seja pelo reflexo de querer alguém por perto ou não querer ficar sozinha, minha mão o agarra.

- Quer que eu fique? - Me pergunta baixo.

Meus lábios se abrem, mas percebo meu erro, as lágrimas começam a encher meus olhos e a respiração sai pesada da minha boca e a fecho depressa.

- Caralho não faz isso. - Ele me envolveu com seu corpo e me abraça. - Não faz isso quando eu finalmente estou ao seu lado.

Os soluços continuam saindo pela minha garganta e eu sei que sou eu que o está fazendo tremer, porque alguém como ele jamais iria tremer por algo tolo assim. Está doendo mais do que o normal, se é que a dor pode ser considerada normal. Normalmente eu conseguiria parar de chorar e entraria em transe, mas hoje eu não estou conseguindo, especialmente hoje, isso não para de doer.

- Eu demorei anos para te encontrar. - Ele ergueu meu rosto a força. - Então não seja forte comigo. Não comigo ao seu lado.

Suas palavras me atiçam e o choro que segurei durante o dia todo começa a sair do meu peito. Ele começa a acariciar meu cabelo, seu carinho deixa os fios quentes e esse calor passa para o restante do corpo, seu corpo se ajeita ao meu e ele continua a carícia até minha consciência desaparecer e eu entrar em um sono profundo.

Estou no breu de novo, mas tem algo diferente dessa vez. 

Uma estrada dourada que me guia para uma pequena casa com o exteriorsimples, tijolos comuns e o único destaque incomum é sua chaminé cuja fumaçaconstante desaparece conforme sobe. A porta se abre e as risadas ecoam por todo o lugar, o cheiro de comida assada, das frutas silvestres, essa família é feliz e posso dizer pelo cheiro da cozinha.

Acontece que quanto mais eu me aproximo, mais a vontade de chorar aumenta. Quando cheguei na porta, a casa fica maior e eu vejo quem está lá dentro. Um feérico de cabelos negros. Meu peito ficou apertado de tal forma que o choro não era mais uma opção.

- Não vai entrar?

Os feéricos se mostram a mim e meu corpo cedeu, antes que pudesse cair no chão, braços fortes me seguram e olhos negros me encaram com uma preocupação familiar, toda a dor que senti por mais de noventa anos, por quase cem anos, essa dor simplesmente saiu do meu corpo junto com meus soluços, meu peito começou a gritar, meu coração começou a gritar e o alivio que senti quando chamei por seu nome, minha alma nunca irá esquecer.

- Papai. - Meus braços circularam em seu pescoço e o apertei. – Papai!

- Segura ele. - A voz feminina preocupada, se ajoelha e acaricia meu ombro. - Filha, o que aconteceu?

- Mamãe! - Solto um dos braços e a junto em um abraço apertando-a com toda a força que pude. - Mamãe!

- Filha, o que aconteceu? Você está apertando a mim e seu pai!

- Não seja um sonho, por favor, não seja um sonho. Por favor! - Imploro para qualquer um que pudesse ouvir.

- Lótus, o que foi? - Minha mãe acaricia minhas costas.

- Mãe? Pai? O que aconteceu? Porque minha irmã está chorando? - Reconheceria essa voz em qualquer lugar, o timbre pode ter ficado mais grave, mas eu sempre reconheceria.

Meu corpo se moveu por conta própria, ele está alto, seus cabelos estão brilhando e estão longos como os de nosso tio, mas seu rosto está preocupado, havia pouco músculo, mas havia. Minhas mãos tocaram seu rosto liso e ele deitou em minha palma, olhos negros como os de meu pai me encararam e eu encarei de volta, de novo as lágrimas desceram. E outra vez o alívio na minha alma foi sentido.

- Nicklaus!

- Olá Lótus.

O abracei com mais força do que abracei meus pais, meu irmão, meu pequeno irmão, ele está bem, está vivo! Está crescido, forte e respirando contra minha nuca.

- O que aconteceu? - Sussurra.

Mãe... Mãe...! Não deixe que isso seja um sonho! Por favor Mãe! Eu imploro! Por favor Mãe! Eu os tenho de volta! Não os tire de mim! Por favor Mãe! Eu imploro! Eu me torno uma sacerdotisa, me torno o que quiser Mãe, mas não os tire de mim!

- Nada, eu só... fiquei com saudades. - Me afasto lentamente e encosto nossas testas. - Com muita saudades.

Eu estou em casa! Eu finalmente estou em casa!

Um choro agudo me chamou atenção, procuro pela origem e um pequeno pedaço de cobertas me chamou atenção, Hércules o segura com carinho, os riscos na cabeça pequena denunciaram o castanho, olho para trás e meus pais e meu irmão sorriam.

Peguei a pequena criatura recém nascida, e seus olhos pequenos lentamente se abriram, são castanho claros, a cor se destaca contra sua pele pálida, seus dedos tocaram meu rosto se molhando com as lágrimas que caiam. Minha alma sabia o nome da pequenina, sabia o nome da minha irmã.

- Olá pequena Liz. - Ela sorri sem dentes, sua risada contagiante me fez sorrir. - Olá pequena Luz.

Meu irmão tocou meu ombro e encarou a bebê. - Ela é feinha, não é?

- Nicklaus! - Meu pai repreendeu e eu ri.

- Não Nick, ela é linda. - Eu disse em meio às lágrimas. - Hércules concorda comigo, não é? - Esperei pela resposta dele, eu e a bebê, na realidade.

- Não me coloque nessa história, eu só estou aqui pela comida.

- O frango! - Annastazia gritou e correu para a cozinha enquanto meu pai e Hércules riam.

Meu irmão e eu ficamos hipnotizados olhando para o pequeno pedaço feérico que estou segurando, ele brinca com as mãos pequenas que segura meu dedo com força. Olho ao redor, a casa não é grande, a sala de estar e a cozinha são praticamente o mesmo móvel, em um corredor tinha quatro portas, três quartos e um banheiro.

Hércules e meu pai estão conversando sentados na mesa farta e meu irmão logo os segue, minha mãe olha o frango que não queimou, milagrosamente, o coloca na mesa e olha para mim me chamando. Vou até a mesa e deixo a bebê no colo de meu pai e dou a volta na mesa para me sentar ao lado de Nick, mas Hércules me chama antes.

- Não está esquecendo de nada?

- Não, o que?

Todos se levantam e vem para a minha frente, meu pai pega uma pequena caixa e passou para a minha mãe, suas mãos passam pelo meu pescoço segurando um colar com um pingente, na frente estava entalhado uma macieira e atrás uma flor de Lótus. O símbolo de Hallari e a flor do meu nascimento.

Assim que o prende se junta com os outros, seguro o pingente e o encaro, é feito de prata e platina.

- Feliz aniversário. - Nick sorria enquanto me parabeniza.

- Nós te amamos. - Uma lágrima escorre do rosto da minha mãe.

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora