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- Esse vinho é diferente dos vinhos da minha casa. - Eu disse e Ivan entendeu. - O vinho feérico é mais forte.

- E eu te perguntei?

Ele olhou para a alabarda e eu neguei. Não podemos alarmar os soldados, matar esses oito sem fazer barulho não vai acontecer.

- O que ele queria com você? - Me perguntou e me sentei. - Deixa a carne pra mim.

- Ele só queria me levar para casa. - Eu disse e suspirei. Meus olhos estão ardendo muito e pela ardência as lágrimas começaram a cair. - Meu olho está doendo. - Reclamei.

- Relaxa. - Ivan disse. - Relaxa ou não vai parar.

- Acha que eu consigo relaxar aqui? - Perguntei baixo e irritada. - Eu não consigo respirar aqui!

- Eu sei disso, mas você não tem total controle do seu poder ainda. Então relaxa que vai passar. - Devolveu o tom. - Uaah! Eu acho que vou dormir, comi demais.

Revirei os olhos quando percebi que ele tinha fingido um bocejo.

- Vamos sair cedo amanhã. - Eu disse. - Legolas não irá me levar de volta e quando o sol nascer partiremos.

- Tão cedo assim?

- Sim. Tão cedo assim.

Apaguei o fogo e me deitei.

Eu vou chamar esse lugar de névoa cinza, porque só existe isso aqui. Eu estou sonhando outra vez. As correntes balançaram e a névoa começou a se mover, a sombra da criatura começou a aparecer, ela tem uma cauda longa. Ele bufou alguma coisa em mim, ouvi um som distorcido, ele quer falar algo para mim? O que é? Porque não consigo entender?

Minha respiração foi tampada e me assustei, mas vi Legolas pedir silêncio.

- O que está fazendo? - Perguntei sussurrando.

- Eu já fiz muita coisas nessa vida e me arrependo de todas elas, mas existe uma coisa que posso fazer por você. - Ele me disse e me entregou o arco. - Temos que sair agora!

- Porque eu deveria ir com você? Você virou as costas para mim e como posso saber que não vai virar outra vez?

- Quando... - Ele puxou fôlego e abaixou a cabeça. - Por favor Lótus, me ouça desta vez.

- Não Legolas.

- Lótus, eu não quero ser obrigado a usar a força com você.

- Eu já disse não Legolas!

Ele se levantou e fui mais rápida que ele, a adaga de meu pai está contra seu pescoço e a de minha mãe no seu peito. Se eu o matar agora, Ailin vai sentir um pouco da dor que ele me causou, se eu matar... Consigo sentir seu coração pulsando através das lâminas, ele está nervoso e eu também.

- Me matar não vai te trazer paz Lótus. - Ele me disse e pressionei mais. - Sei que quer me matar e não tenho objeção, mas eu não vou morrer por suas mãos querida prima. - Ele me acariciou na bochecha e uma gota do seu sangue escorreu contra as lâminas, Legolas me olhou no fundo dos meus olhos e me disse. - Lótus, eu sinto muito.

Suas palavras me baquearam e cai contra a cama. Meu coração disparou e a dor de perder meus pais voltou, e eu chorei em silencio. Legolas fez o que fazia comigo quando eu era pequena e ficava com medo e chorava, ele me puxou para um abraço quente e um carinho no cabelo.

- Eu... sinto muito. - Eu consigo ouvir sua voz chorosa e o quanto ele está se segurando. - Não posso repor aquilo que perdeu, mas posso te levar a um lugar que vão entender você.

- O que?

- Um lugar onde você se tornará bela como uma flor e mortal como veneno.

- Vamos.

Um feérico surgiu das sombras, a pele queimada pelo sol escaldante, as tatuagens cobrem seus braços e seu pescoço, essas marcas são o que fazíamos no passado para mostrar atos históricos e marcantes. Esse... é um alto feérico das terras de areia.

- Quem é você? - Perguntei arisca e vi Legolas acordar Ivan.

- Você estava a minha procura. – Sua voz serena me causou arrepios, me senti na presença de um animal esguio e traiçoeiro pronto para dar o bote.

- Você é... meu sangue.

- Sim. Hércules deve ter contado sobre mim.

- Ele contou, mas eu não vou com você. - Eu disse.

- Lótus você precisa sair daqui. - Legolas olhou para fora da cabana. - Merda... estão vindo.

- Hércules treinou você. - O alto feérico me disse e as tatuagens brilharam. Não são histórias... são feitiços! - Mostre-me do que é capaz.

- Adeus Lótus. - Legolas me deu um beijo demorado na testa.

Meu peito ficou incomodado, eu não deveria, mas sinto que... nunca mais vou vê-lo.

- Se lembre de mim. - Me acariciou uma última vez. - Posso não trazer seus pais de volta, mas posso ganhar tempo para você.

- Você.

- Vai. - Ele me cortou e quando não obedeci, ele gritou. - VAI!

O alto feérico me puxou para fora da tenda e defendeu um ataque. Usei o fogo para iluminar e atacar os soldados humanos, eles triplicaram de quantidade! São muitos! Começamos a lutar contra os humanos, ele não hesitou em matar cada um que o atacou enquanto Ivan e eu não os matava.

- Tem um barco no píer. Vamos para lá!

- Eu não vou a lugar nenhum com você!

Defendi outro ataque e usei o fogo para afastar uma equipe. Ivan acertou a alabarda em outros e quase me acertou.

- Ivan!

- Que é porra? Tá escuro! Eu não vejo no escuro igual você não!

Lancei algumas esferas de fogo e percebi que estamos em desvantagem. Muita desvantagem. Ouvi o feérico murmurar alguma coisa e tocar o chão, a poeira subiu e deixou os soldados... em transe.

- Vamos logo, o feitiço não vai durar.

- Eu já disse que não vou. - Falei.

- Polly.

- Cala a boca Ivan! Esse assunto não é da sua conta.

- O porra! - Reclamou. - Não é da minha conta, mas olha só, eu N Ã O quero morrer

- Você soletra as coisas sempre que quer enfatizar? - O moreno perguntou.

- As vezes eu tenho que fazer, já que essa cabeça dura é irritante e teimosa.

- Ivan!

- Cala a boca. - Ele me calou. - Você vai com ele sim! Se você for, eu não morro e eu não quero morrer até ver meu filhote, então deixa de ser orgulhosa e segue esse cara!

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora