- Preste atenção.
Minhas mãos começaram a formigar, foi então que percebi que estão brilhando, mas esse brilho... eu não sei usar magia, não devia estar brilhando.
- Magia... - Sussurro. - Eu não sei fazer magia. Não posso fazer isso.
- Você é um alto feérico. Sua conexão com a energia da Mãe é mais forte que as de feéricos comuns e a floresta sente isso.
- Mas eu... eu não sei fazer magia. – Murmuro.
- Tem razão, não sabe. Mas irá aprender. – Hércules olha para mim e fecha os olhos, também os fecho. – Tente sentir o vento quando passa por você, sinta a paisagem ao seu redor.
Me concentro e tento ouvir e sentir o som do vento, a pulsação que sai das árvores e escorre para o solo. Demoro alguns minutos para sentir meu corpo pulsar e mais outros para perceber que é a respiração das árvores anciãs. Toda a floresta está conectada, como um grande ramo de terminações nervosas, cada ser da floresta vive e faz parte do ciclo da vida, deslizo as mãos pela terra e grama e sinto um arrepio, a floresta está tranquila... na verdade é uma tranquilidade ansiosa, é como se estivesse esperando por essa conexão.
Outra pulsação. É como um coração. Um coração ancião, intenso e... maravilhoso.
Respiro fundo e deixo com que a pulsação que passa pela terra também passe por mim, pelos braços, tronco e pernas, deixo com que entrelaçasse com o meu coração para que absorvesse a angustia que pesa meu peito, as noites que passei presa, a fome que senti, a sede, as dores, os gritos, sons, cheiros, memórias, toques. Deixo com que a natureza levasse esse misto de sentimentos para suas veias. Meu rosto fica quente, abro os olhos e posso perceber que não sou eu que está chorando, é a natureza, a Mãe está triste por mim, lamentando por tudo o que passei, se encantando com minha sobrevivência.
- Quando você andava descalço pelo palácio, nunca fora um desejo infantil. Era a natureza te chamando.
- Me chamando? Para que?
- Você faz parte dela, assim como eu e como seus pais.
- Porque eu nunca aprendi isso antes?
- O corpo feérico precisa estar com mais de sessenta anos para poder começar a aprender. Naquela época você não estava pronta.
- E agora eu estou?
- A natureza tem seu jeito de acertar as coisas.
- O que você quer dizer?
- Permita que ela entre.
- Como?
- Pare de querer uma resposta e sinta. - Me diz ríspido.
Hércules me repreende e acabo fazendo o que ele me pede, Inspiro e relaxo, começa um formigamento nas minhas mãos, olho para elas e o brilho é diferente, é diferente de quando brilhamos quando nossa emoção está aflorada. Esse brilho é diferente.
- O que é... isso?
- Foi mais rápido do que pensei. – Diz surpreso. - Repita meus movimentos.
Uma de suas mãos se abre completamente e a outra imita uma garoa, faço e um círculo rúnico aparece em minha mão. Ela fica pesada e me surpreendo, eu não sabia que magia tinha peso e que formigava, meus dedos estão se fechando e a runa está diminuindo de tamanho, forço meus dedos a se abrirem e o círculo aumenta. Então não é apenas... fazer. Precisa de força e desejo para que um círculo rúnico apareça. Eu não sabia.
Depositamos as runas na terra e na grama, Hércules começa a recitar versos antigos, repito e vejo as runas do círculo brilharem, minha visão fica borrada e pisco mais forte, é como se eu estivesse lendo e as palavras fluíssem do meu peito para a runa e a própria runa estivesse... voltando para o lugar de onde veio. Onde a deixo, um pequeno broto nasce... eu... a magia!
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O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)
FantasyPolly Erlathan, uma herdeira feérica, nunca chegou a ser coroada como princesa. Após ter seu trono usurpado e sua família assassinada, ela viveu décadas em uma fuga fracassada, carregando as marcas do passado. Convencida de que sua vingança e o reto...